Por Letícia Fucuchima

SÃO PAULO (Reuters) – A termelétrica Paulínia Verde, contratada no leilão emergencial de energia realizado no ano passado em meio à crise hídrica, entrou em operação comercial nesta semana, após uma mobilização de esforços das sócias Orizon, Grupo Gera e Mercurio Partners para tirar do papel um empreendimento “greenfield” em menos de um ano.

Embora só detenha contratos para os próximos três anos, a expectativa dos donos da usina é conseguir prolongar as atividades no longo prazo via novos leilões ou outras alternativas de mercado, disseram executivos à Reuters.

Localizada em Paulínia (SP), a termelétrica recebeu 180 milhões de reais em investimentos e fornecerá 15,7 megawatts (MW) de garantia física para o sistema elétrico brasileiro de forma ininterrupta até dezembro de 2025.

A usina produzirá energia com base em gás biometano que será processado no aterro sanitário da Orizon em Paulínia. A planta de produção do biometano é 100% da Orizon e tem capacidade para produzir até 110 mil metros cúbicos/dia do gás renovável para a térmica.

Alexandre Americano, fundador e CEO da Mercurio Partners, destaca que as empresas correram contra o tempo para viabilizar o empreendimento num cronograma apertado. Esse é o segundo dos 17 projetos emergenciais contratados pelo governo a entrar em operação –além dele, apenas uma usina a biomassa de cavaco de madeira está em atividade.

Como o contrato prevê que a usina não pode parar de gerar energia ao sistema, as empresas investiram em equipamentos adicionais (transformadores e motores, por exemplo) para garantir que não haverá problemas.

Além disso, a planta trabalhará com outras opções além do biometano como combustível: poderá operar com gás natural ou gás natural liquefeito (GNL). “Fizemos um contrato com a Comgás, ela construiu um gasoduto para atender a térmica, para termos flexibilidade e redundância (no combustível)”, disse Americano.

André Castro, sócio do grupo Gera e diretor de operações da termelétrica, disse que a complexidade e velocidade do projeto impôs uma série de desafios à implantação.

“Furamos todas filas mundiais de importação para conseguir trazer o motor (da térmica)… no meio da Covid, guerra, greve da Receita… Além disso, tínhamos uma subsestação a ser construída dentro do ‘site’ e uma linha de transmissão a ser construída em terreno de terceiros”, observou.

NOVAS OPORTUNIDADES

No futuro, as sócios entendem que a termelétrica pode buscar novos contratos de fornecimento de energia, seja em leilões do governo ou diretamente com clientes, em modalidades como a geração distribuída.

“As alternativas para um ativo como esse, em bom estado e relativamente novo, são diversas. Você pode dar sequência até com outros tipos de combustível, como o biogás, a partir de algumas adaptações”, afirmou Jorge Elias, diretor de engenharia e implantação da Orizon.

Elias lembrou ainda que a Orizon preparou sua infraestrutura de produção do biometano em Paulínia de forma a atender “interesses futuros”, como uma ampliação da termelétrica, por exemplo.

O aterro da Orizon no local tem material suficiente para produzir cerca de 250 mil metros cúbicos/dia de biometano, mas isso dependeria de novos investimentos, acrescentou.

LEILÃO EMERGENCIAL

Paulínia Verde foi uma das vencedoras da licitação organizada às pressas pelo governo no auge da crise hídrica em 2021, e que agora vem sendo criticada por elevar custos aos consumidores num momento em que os reservatórios das hidrelétricas estão em situação confortável.

Os executivos lembram que a usina fornecerá uma geração “firme” e despachável ao sistema elétrico, equilibrando a geração de outras fontes renováveis, como solar e eólica, que variam ao longo do dia.

“Essa usina está perto do centro de carga (Sudeste), com geração 100% estável e 100% renovável, tem muito valor”, disse Castro.

(Por Letícia Fucuchima)

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