Por Camila Moreira

SÃO PAULO (Reuters) – Os preços ao consumidor brasileiro voltaram a subir, de acordo com os dados de outubro do IPCA-15, superando as expectativas em um mês em que o aumento nos preços de plano de saúde compensou redução nos custos de combustíveis.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) teve no mês alta de 0,16%, depois de apresentar deflação por dois meses seguidos, mostraram os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira.

O índice considerado prévia da inflação oficial havia recuado 0,73% em agosto e 0,37% em setembro graças a medidas do governo e à queda nos preços de combustíveis, resultados alardeados pelo presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) em sua campanha.

A retomada da alta dos preços acontece a poucos dias do segundo turno da eleição presidencial, em que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera as pesquisas.

“Os efeitos da redução da alíquota de ICMS sobre combustíveis, energia e telecomunicações, que trouxeram a inflação para o campo negativo nos meses anteriores, devem se dissipar, cada vez mais, daqui para a frente. Sem esse impacto tributário, não deveremos ter novas deflações nos próximos resultados mensais”, afirmou Claudia Moreno, economista do C6 Bank.

Mesmo com esse resultado, o IPCA-15 passou a acumular em 12 meses alta de 6,85%, abaixo dos 7,96% de setembro e patamar mais baixo desde abril de 2021. Apesar de permanecer abaixo de 7%, a leitura ainda está bem acima do teto da meta oficial para a inflação este ano, cujo centro é de 3,5%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos, medida pelo IPCA –já abandonada pelo Banco Central.

As leituras de outubro foram mais fortes do que as expectativas em pesquisa da Reuters, de avanço de 0,05% na base mensal e de 6,75% em 12 meses.

SAÚDE E AÉREAS

No mês, o maior impacto entre as altas foi exercido pelo grupo de Saúde e cuidados pessoais, cujos preços subiram 0,80%, devido principalmente ao aumento de 1,44% nos preços dos planos de saúde, diante de reajustes autorizados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

Vestuário apresentou a maior alta entre os grupos, de 1,43%, enquanto Alimentação e bebidas deixou para trás o recuo de 0,47% de setembro e avançou 0,21% em outubro.

Na outra ponta, os preços de combustíveis seguiram em queda, em meio ao recuo dos preços praticados pela Petrobras nas refinarias. Etanol (-9,47%), gasolina (-5,92%), óleo diesel (-3,52%) e gás veicular (-1,33%) ajudaram a levar o grupo Transportes a registrar queda de 0,64% em outubro.

No entanto, a deflação de Transportes perdeu força em relação a setembro, uma vez que as passagens aéreas dispararam 28,17%, exercendo o maior impacto positivo individual no IPCA-15 de outubro. Comunicação (-0,42%) e Artigos de residência (-0,35%) também registraram queda nos preços.

Para conter a inflação, o Banco Central promoveu um agressivo aperto da política monetária e elevou a taxa básica de juros a 13,75%. O Comitê de Política Monetária (Copom) volta a se reunir nesta semana para decidir sobre a Selic, e a expectativa é de que anuncie, na quarta-feira, a manutenção da taxa pela segunda reunião consecutiva.

Mas, ao interromper o ciclo de aperto no mês passado, a autoridade monetária afirmou que não hesitará em retomar as altas nos juros se a redução da inflação não transcorrer como o esperado.

“(A queda da inflação em 12 meses…) reforça a visão de que o ciclo de aperto do Banco Central chegou ao fim. Ainda assim, a força da inflação em núcleos e serviços significa que as autoridades usarão a reunião de amanhã para sinalizar que a postura seguirá apertada até o próximo ano”, disse em nota William Jackson, economista-chefe de mercados emergentes da Capital Economics.

Pesquisa Focus realizada pelo BC com uma centena de economistas mostra que a expectativa do mercado é de que a inflação encerre este ano a 5,60% e o próximo, a 4,94%.

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