Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) -O dólar registrou nesta quinta-feira a maior alta diária em mais de três semanas, com o agravamento de tensões geopolíticas servindo de argumento para a retomada das compras após sucessivas quedas que levaram a moeda a mínimas em mais de meio ano.

O dólar à vista fechou em alta de 0,74%, a 5,1668 reais. A valorização é mais forte desde 24 de janeiro (0,90%).

Na véspera, a moeda havia fechado no menor valor em seis meses e meio, emendando a terceira baixa seguida e acumulando no período recuo de 2,17%. Desde a máxima do ano –de 5,7128 reais, alcançada em 5 de janeiro–, o tombo até a quarta-feira era de 10,22%.

O dia foi misto para divisas emergentes no geral, apesar do tom explicitamente mais negativo nos mercados de ações. Destaque negativo para a moeda da Rússia, que liderava as perdas globais ao cair cerca de 1,7%, ainda golpeada por incertezas sobre uma guerra do país com a Ucrânia e reações possíveis do Ocidente.

Em mais uma evidência do clima beligerante, o Kremlin expulsou Bart Gorman, a segunda mais importante autoridade dos EUA em Moscou, disse o Departamento de Estado dos EUA nesta quinta-feira, com Washington alertando que responderia à medida “não provocada” em meio a temores crescentes de uma invasão russa da Ucrânia.

Um fortalecimento do dólar no Brasil após vários dias de queda de certa forma já era esperado, e a pausa pode ser estratégica para os “vendidos” (que apostam na perda de valor do dólar), com pontos de venda da moeda mais baixos do que anteriormente.

A taxa de 5,20 reais, por exemplo, antes um suporte, pode atuar agora como uma resistência técnica, acima da qual o dólar teria dificuldades de ir além.

“Trabalho com a hipótese que teremos ao longo de 2022 saldos comerciais positivos e com Selic em alta. Estes dois fatores, conciliados ao fato de termos reservas internacionais em patamar relevante, irão auxiliar o real a ganhar força, evitando, assim, que custos externos em alta sejam muito agudos no Brasil”, disse o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito.

O economista prevê que ao fim do ano a taxa real de juros no Brasil –uma importante medida avaliada por investidores estrangeiros para aplicar no país– estará em 7,05%, a mais alta do mundo. No ano passado essa taxa ficou negativa. O juro mais alto se manteria mesmo com o risco de o Banco Central ter de cortar a Selic de maneira mais expressiva, uma vez esclarecida a política fiscal do próximo governo, disse Perfeito.

(Edição de Isabel Versiani)

tagreuters.com2022binary_LYNXMPEI1G10J-BASEIMAGE