Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) – O dólar engatou a terceira queda seguida e fechou pouco acima de 4,80 reais na sessão, após cair abaixo desse patamar ao longo da jornada, com as operações domésticas mais uma vez replicando a movimentação externa, que nesta segunda-feira foi de forte apetite por risco e de nova queda global da divisa norte-americana.

O dólar à vista encerrou em baixa de 1,31%, a 4,8075 reais –menor valor desde 22 de abril (4,8065 reais).

Na mínima, desceu a 4,7855 reais, recuo de 1,76%. Na máxima, subiu 0,19%, a 4,8805 reais.

Operadores domésticos espelharam o dia de fraqueza do dólar no exterior. O índice da moeda dos EUA contra pares caía 0,84% no fim da tarde, queda acentuada para os padrões do índice, que aprofundava as perdas desde a máxima em 20 anos do último dia 13 para 2,8%. As divisas emergentes saltavam 1%, para picos em pouco mais de um mês.

Investidores tentam retomar a confiança que há dias é golpeada por incertezas sobre os efeitos do aperto das políticas monetárias, da inflação elevada e das debilidades da economia chinesa sobre o crescimento global.

Mas, num sinal animador, os contratos futuros de minério de ferro de referência na China subiram cerca de 7% nesta segunda-feira, seguindo seu maior salto diário em dois meses e meio. O minério de ferro é um dos principais produtos da pauta de exportação brasileira, e suas oscilações mexem nos termos de troca, variável que entra na conta de cálculos de taxa de câmbio de equilíbrio.

O real vem sendo destaque positivo entre seus principais pares. O dólar cai 6,5% no Brasil desde as máximas do último dia 12. Com exceção do rublo russo –contra o qual o dólar cai 10% no período, mas em meio a operações com interferência de controles de capital–, o real tem o melhor desempenho dentre peso mexicano, peso colombiano, sol peruano, peso chileno, lira turca e rand sul-africano.

Do ponto de vista técnico, alguns indicadores apontam continuidade da queda do dólar. No fim da semana passada a moeda voltou a deixar para trás sua média móvel de 50 dias, sinal de maior pressão de venda. Pelo MACD, que mistura médias móveis, a média curta segue abaixo da longa –e sem sinal de reversão–, indicativo de panorama de preços em baixa.

O índice de força relativa de 14 dias (IFR-14) –uma medida de quão rápidas têm sido as oscilações de preços na taxa de câmbio– ainda está em 40, acima, portanto, da linha de 30, abaixo da qual o dólar estaria barato demais –o que poderia atrair compras.

À frente, no entanto, analistas ainda veem um cenário mais duvidoso para o real.

“Apesar de esperarmos um ciclo de alta da Selic mais longo do que no início de 2022, daqui para frente acreditamos que as últimas demonstrações de agressividade do Fed e a intensificação do ciclo eleitoral (no Brasil) acabarão pesando sobre o real e outros ativos locais”, disseram em nota os estrategistas do Rabobank Mauricio Une e Gabriel Santos. O banco espera dólar de 5,25 reais ao fim do ano.

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