Por Camila Moreira

SÃO PAULO (Reuters) -A economia do Brasil registrou recuperação em fevereiro graças ao desempenho das atividades agrícola e de serviços, de acordo com dados do Banco Central nesta sexta-feira que mostraram a maior taxa de expansão em pouco mais de dois anos e meio.

O Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br) registrou crescimento de 3,32% em fevereiro em relação ao mês anterior, mostrou dado dessazonalizado do indicador que é um sinalizador do Produto Interno Bruto (PIB).

Foi a taxa de expansão mais elevada desde junho de 2020 (+4,86%), na sequência das quedas intensas provocadas pelas paralisações devido à pandemia de Covid-19.

Em janeiro, o IBC-Br teve recuo de 0,09%, em dado revisado pelo BC de uma taxa negativa de 0,04% informada antes.

O forte resultado de fevereiro, mesmo diante dos impactos da política monetária restritiva e da dissipação do impulso com a reabertura pós-Covid, surpreendeu analistas, que destacaram o desempenho do setor agrícola no primeiro trimestre do ano.

“A força do setor primário –incluindo agricultura– e uma recuperação relativamente decente dos gastos com serviços provavelmente estão por trás do desempenho impressionante de serviços, compensando a fraqueza em outros setores”, destacou em nota Andres Abadia, economista-chefe da Pantheon Macroeconomics.

Em fevereiro, o volume de serviços no Brasil cresceu mais do que o esperado no período. Mas, na contramão, a produção industrial brasileira apresentou o terceiro mês seguido de perdas da produção, enquanto as vendas no varejo perderam força.

Laíz Carvalho, economista para Brasil do BNP Paribas, foi na mesma linha e destacou o forte desempenho da agricultura esperado no primeiro trimestre.

“Foi uma surpresa bastante forte … e esse IBC-Br mostra que teremos uma atividade econômica bastante forte nesse primeiro trimestre. Para o ano de 2023 temos expectativa de expansão de 1,5% do PIB, muito puxado pela agricultura no primeiro trimestre e também pelo setor de serviços, que deve ter desaceleração mais lenta”, disse ela, calculando expansão de 0,9% do PIB no primeiro trimestre sobre os três meses anteriores.

Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, o IBC-Br teve alta de 2,76%, enquanto no acumulado em 12 meses passou a um avanço de 3,08%, de acordo com números observados.

Apesar da expansão apontada pelo IBC-Br, a atividade econômica já sente neste início de ano os impactos da política monetária restritiva, com condições de crédito mais apertadas e endividamento elevado no país, além de uma desaceleração do mercado de trabalho.

“Projetamos uma desaceleração na demanda doméstica e nos componentes cíclicos de oferta, devido principalmente à esperada recessão global e aos efeitos da política monetária apertada do Banco Central”, avaliou Gabriel Couto, economista do Santander Brasil, em nota.

“Mas também esperamos crescimento forte para a produção agrícola não cíclica, refletindo uma projeção recorde para a safra de grãos.”

A taxa básica de juros está em 13,75% ao ano e o BC deve mantê-la nesse patamar na reunião da próxima semana, de acordo com expectativas do mercado, mesmo sob forte crítica do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ainda assim, novas medidas de transferência de renda pelo governo devem dar algum alento à atividade, bem como fortes resultados esperados do setor agrícola, ajudando a evitar uma desaceleração mais intensa do PIB.

O mercado prevê para este ano uma expansão do PIB de 0,96%, indo a 1,41% em 2024, de acordo com a pesquisa Focus mais recente.

(Por Camila MoreiraEdição de Eduardo Simões e Luana Maria Benedito)

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