A Zona Franca de Manaus transformou-se em campo de batalha verbal. Fabricante de aparelhos eletrônicos e de telecomunicações, a norte-americana Flextronics iniciou o tiroteio. Na semana passada, seu presidente, Celso Camargo, fez acusações contra o Ministério do Desenvolvimento e ?os oligopólios de São Paulo” presentes na região. Camargo se diz injustiçado por tentar, sem sucesso, há oito meses, autorização para fabricar carregadores de bateria de celular com as isenções fiscais previstas na Zona Franca. Seu protesto foi reforçado em abril pela aprovação para a Gradiente produzir em Manaus o mesmo tipo de produto, para o mesmo cliente, a Nokia. ?É aceitável que forças de mercado definam esse processo, mas sem interferência do Ministério do Desenvolvimento?, diz Camargo. ?Ele deveria se preocupar com o desenvolvimento e não em tomar partido de um grupo de empresários.”

Camargo adora contar o milagre sem revelar o nome do santo. Ele não esclarece como se deu esta ?interferência? do governo. Também não cita o nome de empresas que formam ?os oligopólios paulistas?. No ministério, ninguém quis responder a essas críticas. O assunto foi remetido para a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), subordinada ao ministério. O superintendente do órgão, Antônio Sérgio Martins Mello, afirma que ?não defende interesses de grupos de empresários, mas sim o desenvolvimento da região?. Mello diz que não houve atraso no processo da Flextronics. Mas revela preocupação com o ?impacto? da presença da empresa na Zona Franca. É porque, ao chegar a Manaus, a Flextronics inaugurará uma nova modalidade de negócio: a terceirização de serviços industriais. A empresa não tem marca ou produto próprio e produz aparelhos sob encomenda de seus clientes. ?Não queremos prejudicar as indústrias já instaladas e precisamos saber os efeitos sobre os pequenos produtores?, diz Mello.

A Flextronics quer apresentar 5 projetos para a Zona Franca e fabricar também celulares. Já investiu US$ 30 milhões. A companhia já produz carregadores de bateria na região, mas sem benefícios fiscais. O estopim da briga, agora declarada, foi a reunião do Conselho de Administração da Suframa, em abril. Na ocasião, o presidente da Federação dos Trabalhadores de Agricultura, Wilson Paixão, pediu vistas do processo da Flextronics. O ato adiou o exame do projeto para a reunião seguinte, em junho, que acabou sendo cancelada. Pergunta-se: o que a Federação dos Trabalhadores de Agricultura tem a ver com a Zona Franca de Manaus. ?Como representante dos trabalhadores no Conselho da Suframa, o sindicato dos metalúrgicos solicitou que eu fizesse o pedido de vistas. Além disso, o processo entrou em pauta dois dias antes da reunião. Era pouco prazo para decidir?, diz ele. ?Já dei o parecer a favor da Flextronics.? O que não falta nessa história são perguntas no ar. Aguardam-se respostas. Elas podem vir na reunião do Conselho, em 12 de julho.