A Polícia Civil do Ceará realizou uma coletiva de imprensa nesta semana para explicar a investigação sobre a denúncia de racismo em uma loja da Zara no Shopping Iguatemi de Fortaleza. O gerente da loja, Bruno Felipe Simões, foi indiciado por crime de racismo no inquérito que agora será analisado pelo Ministério Público do Ceará (MP-CE).

A polícia investiga o motivo de a delegada Ana Paulo Barroso, que é negra, ter sido impedida de entrar na loja. Entenda os principais pontos do processo que a grife de luxo deve responder:

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1 – Alteração de argumento
O gerente da loja, em um primeiro momento, alega que a vítima teria sido impedida de entrar na loja por estar com a máscara abaixada pelo consumo de um sorvete. No entanto, em um segundo momento, o funcionário muda o argumento sanitário ao de segurança.

“Mudou o argumento do gerente, que pediu desculpas e disse que não era preconceituoso, dizendo que tem amigos negros, o que indica um preconceito velado”, diz Manuela Costa, delegada adjunta da Delegacia da Mulher de Fortaleza.

“Como defesa, o acusado alega que orientou a vítima indicando o melhor momento para consumir o alimento – as investigações mostram que isso não aconteceu”, ressalta o delegado da Polícia Civil, Sergio Pereira.

2 – Tratamento diferente
Pereira afirma que as imagens analisadas provam que havia pessoas “de pele clara” que foram atendidas antes e depois do incidente, o que comprova um tratamento diferente à vítima.

“Outros clientes sem máscaras não foram abordados. Pessoas brancas foram atendidas sem máscara”, enfatiza Arlete Silveira, diretora do Departamento de Proteção a Grupos Vulneráveis do Ceará.

3 – Resistência da loja com as imagens
A Zara recusou fornecer as imagens das câmeras de segurança à Polícia Civil por três vezes. Com um mandado de busca e apreensão autorizado judicialmente, foi possível concluir o tratamento discriminatório.

“A vítima fazia uso sim da máscara e só abaixou para consumir o alimento. O shopping não tinha qualquer orientação que não pudesse consumir alimentos nas lojas”, diz Pereira. “A investigação diz que houve, sim, tratamento diferenciado”.

4- Código de discriminação
A investigação aponta que existia um código, anunciado no alto falante da loja como “Zara Zerou”, para funcionários acompanharem de perto pessoas que seriam suspeitas.

“Testemunhas que trabalharam na loja tinham que identificar quem entrava na loja. Existia um código da loja que uma pessoa não seria tratada como cliente, mas como nociva ao atendimento normal da loja e, a partir dali, deveria ser acompanhada de perto por funcionários: pessoas mal vestidas, com roupas simplórias ou pessoas de cor. Infelizmente, a investigação conclui que se trata de uma política desta loja”, afirma Pereira. “Esse tipo de tratamento discriminatório já foi registrado diversas vezes e no mundo todo pela rede de lojas Zara, que teve que pagar indenizações milionárias”.

A Zara não será indiciada criminalmente, mas tem responsabilidade civil pelos danos causados por funcionários. O delegado ainda pede uma fiscalização de políticas discriminatórias por parte da população.

“A sociedade tem que observar outras unidades da Zara e outras lojas. A política permanece a mesma?”, finaliza Pereira.

Defesa

A Zara não respondeu ao contato da reportagem, que será atualizada com o posicionamento da empresa. Em nota enviada à BBC Brasil, a marca alega inocência e afirma que o que motivou o banimento da vítima da loja eram exclusivamente questões ligadas à pandemia causada pelo coronavírus.