Dois grupos de brasileiros lotam os vôos diários que partem de São Paulo em direção a Cidade do México. A primeira turma, formada por imigrantes interessados em utilizar o país como ponte até os Estados Unidos, é recebida com frieza e desconfiança pelas autoridades alfandegárias. Muitos são barrados e voltam para casa na condição de deportados. O segundo grupo não enfrenta constrangimento. São executivos de empresas brasileiras de tecnologia que colocaram o México como prioridade de negócios na América Latina. Nos últimos três anos, as companhias nacionais identificaram oportunidades no país da tequila e mandaram para lá os seus melhores quadros gerenciais. O investimento está se mostrando satisfatório. Marcas como Itautec, Microsiga e Stefanini fecham contrato atrás de contrato. ?Ainda nem chegamos perto daquilo que este mercado pode nos render?, diz Frederico Beling, há dois anos cuidando da operação mexicana da Itautec.

Beling conquistou clientes para os produtos de automação bancária da sua companhia. Seu maior feito foi o contrato com o Banamex, a maior instituição financeira do México sob o controle do Citigroup. A Itautec fornecerá um equipamento que proporciona inteligência no gerenciamento de filas dentro das agências. Os serviços financeiros pela internet são quase inexistentes. Tudo ainda é feito na agência. Desde o pagamento de uma simples conta de telefone até a retirada do salário do mês. Do ponto de vista tecnológico, o México está atrasado dez anos em relação ao Brasil. Dados do Banco Mundial ressaltam essa diferença. Os mexicanos gastam US$ 3,1 bilhões anuais em pesquisa e desenvolvimento contra US$ 4 bilhões do Brasil. Existem no país apenas 20 mil caixas eletrônicos contra os 120 mil do Brasil. O segredo mexicano é o tamanho do Produto Interno Bruto de US$ 626 bilhões ? o PIB brasileiro é de US$ 492 bilhões ? e suas ligações comerciais com os Estados Unidos. ?Ainda há muito a ser conquistado?, diz Marco Stefanini, presidente da consultoria Stefanini, especializada na terceirização de serviços de tecnologia. Para este ano, ele planeja faturar US$ 1 milhão no México e pretende triplicar esse valor em 2005. A Microsiga, que desenvolve softwares de gestão empresarial, segue caminho parecido, especialmente entre as médias empresas mexicanas.
O faturamento da subsidiária será de US$ 2,5 milhões em 2004 e dobrará no próximo ano. ?Estamos sem condições de atender a demanda dos clientes?, afirma José Rogério Luiz, diretor da Microsiga. Os brasileiros fazem sucesso porque colocam à disposicão algo que os americanos não ofertam: o jeitinho brasileiro. É fácil para um executivo brasileiro entender quando um cliente mexicano solicita um ajuste à realidade local no programa de computador ou equipamento. ?Existe uma sintonia latina entre nós?, diz Beling.