Reportagem da publicação americana Wired, especializada em cultura digital, traz um alerta para a área de recursos humanos de uma empresa queridíssima de pelo menos duas gerações digitais, o Google. Em sua pesquisa anual sobre satisfação dos funcionários, que o universo corporativo brasileiro costuma chamar de pesquisa de clima, compartilhada aos funcionários em janeiro, os resultados mostraram queda acentuada em relação ao levantamento do ano anterior e o pior resultado em seis anos.

E num ponto decisivo: a confiança na liderança da empresa. Perguntados se confiam no CEO Sundar Pichai e sua equipe administrativa para “liderar efetivamente no futuro”, 74% dos funcionários responderam “positivo”, em oposição a “neutro” ou “negativo”, no final de 2018. Apesar de ainda ser um bom índice, houve uma queda de 18 pontos porcentuais de um levantamento para outro, quando a pesquisa mostrou que 92% dos funcionários responderam de forma positiva.

Outro ponto que chamou a atenção na pesquisa, chamada de Googlegeist, foi a satisfação com o salário. Na pesquisa mais recente 54% disseram estar satisfeito com a própria remuneração, contra 64% do levantamento de um ano antes, queda de 10 pontos percentuais. Não é tarefa simples conseguir resultados positivos em áreas tão sensíveis quando a força de trabalho chega a 90.000 pessoas, mas o clima deveria estar muito melhor se a empresa é sistematicamente considerada o melhor lugar para se trabalhar nos Estados Unidos, com remuneração média anual de US$ 197 mil (R$ 720 mil). Entre as gigantes da tecnologia, apenas o Facebook tem salário médio mais alto.

De acordo com a reportagem da Wired, a queda no sentimento dos funcionários explica por que os temas em torno de remuneração, equidade salarial e confiança nos executivos esquentou nas últimas semanas – agitando a rádio peão, que no caso do Google não fica nos corredores ou cafezinhos – ressuscitando uma apresentação de RH de 2016 que agora se tornou viral dentro da empresa. A apresentação, relatada pela primeira vez pela Bloomberg, o departamento de recursos humanos do Google apresenta maneiras possíveis de realizar cortes de custos que incluíam promover menos pessoas, contratar mais funcionários de nível mais baixo e realizar uma auditoria para garantir que o Google esteja pagando benefícios “(apenas) pelas pessoas certas”. Em alguns casos, o RH sugeriu maneiras de implementar mudanças sem chamar muita atenção. Algumas das sugestões foram implementadas, mas a maioria não.

Para a Wired parte da insatisfação interna também pode estar sendo inflada por reportagens externas, como a do The New York Times que mostrou que o fundador do Android, Andy Rubin, recebeu um pacote de desligamento de US$ 90 milhões mesmo após queixas de assédio sexual. Em novembro, após a reportagem, 20.000 trabalhadores saíram de seus escritórios para protestar contra as políticas de assédio sexual da companhia. Problemas que ensinam empresas de todos os portes e segmentos, mesmo aquelas em que a remuneração é atraente: o clima corporativo depende de uma complexidade de fatores que cada vez menos estão sob os controles executivos.

AFP