Maior evento de tecnologia do mundo, o Web Summit foi realizado presencialmente no início de novembro, em Portugal, e reuniu muito mais que palestras de executivos de renome ou encontros entre startups e fundos de venture capital. Portugal aproveitou a presença de 42 mil pessoas, de 128 países (com 50,5% de mulheres) para divulgar o trabalho que tem feito para atingir um novo patamar no setor da inovação. Nos últimos 12 meses, os aportes nas 2.172 startups portuguesas – incluindo os unicórnios Farfetch (e-commerce), Talkdesk (contact center), OutSystems (programação) e Feedzai (anti-fraude) – somaram 872 milhões de euros. O crescimento foi de 166% sobre igual período de 2020. Os dados, divulgados pela associação Startup Portugal, mostram que o setor deverá encerrar o ano com investimentos de 1 bilhão de euros. 

O país incentiva a entrada de investidores e de novos profissionais com a concessão de vistos, por exemplo. Mas, apesar de todo o esforço para tornar o sistema mais robusto, é pouco. As empresas de venture norte-americanas em estágio final, incluindo também as canadenses, levantaram 50 bilhões de dólares apenas no terceiro trimestre até setembro, segundo dados do Crunchbase. Nos nove primeiros meses de 2021, essas startups mais maduras receberam 155 bilhões de dólares em 444 rodadas, com destaque para os 2,5 bilhões de dólares captados pela fabricante de veículos elétricos Rivian. No Brasil, de acordo com a plataforma Distrito, as startups captaram US$ 8 bilhões neste ano. Claro que é preciso levar em conta as limitações de Portugal, que tem 10,3 milhões de habitantes e cujo PIB de 2020 ficou em US$ 231,3 bilhões. Mesmo assim, o país pertence à União Europeia e tem acesso a um contingente que beira os 750 milhões de consumidores no Velho Continente.

Além do tamanho do mercado que acessa, uma das evidentes vantagens de Portugal sobre o Brasil diz respeito à mão de obra. Por aqui, a dificuldade para formar e manter os profissionais de TI tem levado players a oferecerem, cada vez mais, o modelo de Squads as a Service, em que as equipes são organizadas para projetos específicos. Uma das empresas que faz isso no Brasil é a Labsit. Fundada em 2018, a software house já empregou cerca de 300 desenvolvedores, entre contratações e desligamentos. Em 2021, entraram para o quadro 132 profissionais, quatro vezes mais do que no último ano. E planeja fechar o ano com receitas de 35 milhões, avanço de 1.300% sobre 2018. “A falta de mão de obra é, claramente, resultado da dificuldade em formar profissionais”, disse o cofundador da Labsit, Michel Lopes.

Vinicius Cordoni
* Vinicius Cordoni é CEO do Grupo VCRP Brasil (Crédito:Divulgação)

Ele está certo. A Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) estima que a demanda no setor de tecnologia chegue a 420 mil profissionais no Brasil até 2024. Para amenizar o problema, existem 566 edtechs no Brasil empenhadas em oferecer novos programas de capacitação, segundo a Associação Brasileira de Startups. Uma delas é a argentina Digital House. Com cursos para programadores, de marketing digital, inteligência artificial e também ciência de dados, a empresa já formou 130 mil profissionais na América Latina desde que chegou ao mercado, em 2016. Só no Brasil, onde está desde 2018, capacitou 50 mil pessoas. 

De acordo com o cofundador da Digital House, Sebastian Mackinlay, o grande entrave é que as universidades não acompanham as constantes transformações do mercado. “Os cursos universitários não ensinam programação de forma prática, uma das habilidades digitais mais requisitadas hoje”, diz. A EdTech tem como ambição transformar a educação e o setor de tecnologia latino-americanos. Pelo jeito, ainda há muito espaço para avançar.