O Pentágono anunciou nesta quinta-feira (11) que está planejando uma coalizão internacional para escoltar navios comerciais no Golfo, depois que o Reino Unido denunciou que o Irã tentou “impedir a passagem” de um navio britânico no estreito de Ormuz.

A tensão em torno do estreito de Ormuz se aprofundou nas últimas semanas desde os ataques de origem desconhecida contra petroleiros, razão pela qual os Estados Unidos propuseram dar proteção às embarcações que transitam por esta passagem, por onde passa quase um terço dos envios marítimos de óleo bruto.

O general Mark Milley, indicado para o cargo de chefe de Estado-maior conjunto do Pentágono, disse em uma audiência no Senado nesta quinta-feira que os Estados Unidos têm um “papel crucial” para reforçar a liberdade de navegação no Golfo Pérsico.

“Acreditamos estar tentando fazer isto com a coalizão para, em conjunto, fornecer uma escolta militar e naval às remessas comerciais”, indicou o militar, segundo quem esta operação começaria “nas próximas semanas”.

Três barcos iranianos tentaram na quarta-feira à noite “impedir a passagem” de um petroleiro britânico, o British Heritage, no estreito de Ormuz, explicou o governo britânico em um comunicado, dias depois de o Reino Unido interceptar um petroleiro iraniano em Gibraltar.

A Royal Navy teve que intervir então com o envio de uma fragata em socorro a este petroleiro de propriedade da BP Shipping, filial de transporte petroleiro da gigante BP, informaram as autoridades.

“O ‘HMS Montrose’ viu-se forçado a se posicionar entre os barcos iranianos e o ‘British Heritage’ e emitir uma advertência verbal aos barcos iranianos, que deram a volta”, acrescentou.

O vice-almirante Jim Malloy, comandante da V Frota dos Estados Unidos, responsável pelas forças navais no Oriente Médio, acusou o Irã de “assédio ilegal” ao petroleiro britânico.

“Seguimos trabalhando estreitamente com a Royal Navy, assim como com todos os nossos parceiros regionais e mundiais que compartilham nosso compromisso de preservar e defender o livre trânsito do comércio e a liberdade de navegação”, destacou Malloy.

– “Consequências” –

O confronto acontece em um momento de aprofundamento das tensões entre Estados Unidos e Irã, a quem o presidente americano, Donald Trump, advertiu que as sanções poderiam se intensificar “sustancialmente”.

O Irã negou imediatamente qualquer incidente com um navio nas últimas 24 horas.

Há uma semana, o Reino Unido interceptou um petroleiro iraniano em Gibraltar e nesta quinta, a Polícia do enclave deteve o capitão e um oficial do navio aprofundando as tensões.

Na quarta-feira, o presidente iraniano, Hassan Rohani, ameaçou Londres com “consequências”, após a interceptação da embarcação.

O ‘Grace 1’ tinha sido capturado em frente à costa deste território britânico, situado no extremo sul da península ibérica, após uma operação que o Irã tachou de ato de “pirataria” em alto-mar.

– Reticência dos europeus –

Estados Unidos, Reino Unido e França mantêm uma presença naval no Golfo, mas uma fonte oficial francesa disse à AFP que por enquanto o país não tinha planejado expandir sua frota.

A imprensa britânica indicou que um possível envio de mais navios da Marinha estava “bloqueado” nos conselhos de governo.

Altos comandos americanos já tinham expressado que Washington queria formar uma “coalizão” marítima internacional que garanta a liberdade de navegação no Golfo.

“Acho que provavelmente durante as duas ou três próximas semanas, determinaremos quais são os países que têm vontade política para apoiar esta iniciativa e depois trabalharemos diretamente com os militares para identificar as capacidades específicas que vão sustentar esse projeto”, explicou na terça-feira o general Joseph Dunford, chefe de Estado-maior do exército americano.

Os Estados Unidos têm posicionada no Bahrein sua Quinta Frota.

Washington retirou-se do acordo internacional assinado em 2015 sobre o programa nuclear iraniano, acusado Teerã de desestabilizar a região e voltou a impor duras sanções contra o Irã, especialmente contra suas exportações de petróleo, ao mesmo tempo em que afirmou que não queria a guerra com a República Islâmica.

A escalada das tensões tensões complica os esforços dos europeus para salvar o acordo com o Irã, em um momento em que Teerã anunciou que tinha aumentado o enriquecimento de urânio para pressionar as negociações.

A Rússia acusou na quinta-feira os Estados Unidos de tentar acentuar as tensões na região, onde Moscou diz temer um “confronto direta”.

“Washington fez tudo o possível para que esta crise, este agravamento, persista”, afirmou o vice-ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Riabkov, citado pela agência estatal de notícias Ria Novosti.