Antonio Ermírio de Moraes era visto por seus pares como o mais brasileiro dos executivos. Avesso a investidores estrangeiros, muito enraizado em suas tradições… Diziam até que ele só aceitaria parceiros no exterior quando encontrasse alguém de sua estatura. Parece que este dia chegou. Em dois meses, a Votorantim Cimentos anunciará a primeira joint-venture do grupo. Trata-se de uma parceria com o magnata da Flórida Joe Anderson, um dos maiores doadores da campanha do governador Jebb Bush e dono da AndersonColumbia, com negócios amplos como engenharia, construção, mineração, asfalto, concreto e até lojas de departamento. Enfim, um Ermírio americano. O projeto, conhecido como Suwanee American Cement, permitirá à companhia uma entrada total no mercado
norte-americano.

 

A Votorantim Cimentos ? líder
no mercado nacional, com produção de 28 milhões de toneladas/ano e faturamento anual de R$ 3 bilhões ? produzirá cimento em solo americano. ?É uma aquisição de
US$ 100 milhões?, revela com exclusividade à DINHEIRO Luiz Vilar de Carvalho, superintendente da companhia. O americano Joe Anderson, dono da idéia da fábrica, ficará com 50% da obra. À Votorantim caberá a outra metade do negócio, além da responsabilidade pela gestão da cimenteira. O projeto é
grandioso. E não só por ser o mais moderno do mundo. ?Nossa
última fábrica tem quatro anos?, conta Vilar. Com automação altíssima, a planta da Flórida exigirá pouca quantidade de mão-de-obra, algo em torno de 80 funcionários. E terá uma produção de cimento estimada em 800 mil toneladas por ano. Ou seja: 33% acima da média do mercado brasileiro, segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento. Os fornos ainda nem esquentaram ? a produção será iniciada em janeiro ?, mas a Votorantim pensa adiante. ?Vamos chegar a 1 milhão?, adianta o executivo. Como a aquisição é tida como certa, dez funcionários brasileiros já estão trabalhando no local há um mês.

 

O passo é ambicioso, mas não é o primeiro fora do Brasil. Em agosto de 2001, a companhia fez sua estréia internacional. Comprou a Blue Circle, numa transação de US$ 680 milhões ? e levou duas fábricas de cimento, uma em Bownanville e outra em Saint Marys (no Canadá), 39 estações de concreto naquele país, além de uma estação de moagem em Detroit (EUA) e nove centros de distribuição. Mas, com a aquisição da Suwanee, a Votorantim conseguirá operar em todo o mapa norte-americano. Principalmente no Sudeste. ?A Flórida é um dos mercados que mais cresce?, revela Vilar.


O cimento americano solidificará o caixa da companhia brasileira. ?Nosso objetivo é ter 40% da geração de caixa em moeda forte?, explica Vilar. Mas o projeto Suwanee garantirá apenas 15% desta receita. Numa conta rápida, poderia se supor que a companhia já esteja de olho em outras aquisições. ?Estamos analisando negócios na América do Norte e Europa?, adianta. Com tantas movimentações internacionais, a Votorantim fecha o ano em ritmo de festa. Enquanto o mercado brasileiro teve uma desaceleração ? e, por aqui, as receitas da companhia deverão ficar iguais ao ano anterior ?, os mercados canadense e americano ajudarão a compensar essa matemática. ?No exterior, fecharemos 2002 com resultados 5% superiores?, comemora o superintendente. E o projeto Suwanee ainda nem começou.