Foi sob o rotor de turbinas eólicas no Rio Grande do Sul que a Volvo apresentou ao mercado brasileiro na segunda-feira (13) a sua principal aposta no processo de substituição dos veículos movidos à combustão por modelos que utilizam exclusivamente fontes renováveis: o XC40 Recharge Pure Eletric. O primeiro carro 100% elétrico da montadora sueca desbravou o Parque Eólico de Osório. Com preço sugerido de R$ 389,9 mil, o automóvel teve os dois primeiros lotes, com total de 450 unidades, esgotados. O faturamento chegou a R$ 175,4 milhões em quatro meses, o que na visão do economista Luis Rezende, presidente da Volvo Car Brasil, comprova o crescimento da bandeira e do segmento no País e na região. “Deveremos vender 16 mil veículos do nosso portfólio na América Latina em 2021, com a perspectiva de atingir 30 mil até 2025”, disse à DINHEIRO. O Brasil corresponde à metade do volume.

O lançamento do XC40 Pure Eletric acontece simultaneamente nos Estados Unidos e no México. A intenção da Volvo é expandir a participação da região no cenário global da marca, atualmente de 2%. “Vendemos na Espanha o mesmo nível latino-americano”, disse Rezende, que revelou surpresa com as vendas do SUV. “Colocamos 300 carros, esgotaram rapidamente. Mais 150, a mesma coisa. E já estamos pedindo outras unidades que só chegarão em janeiro. Um resultado muito bom.” Ao mesmo tempo, uma amostra de que para o universo dos elétricos, o Brasil deve ser mercado consumidor, e não polo produtor.

Para incrementar os números e o portfólio a companhia prepara para o primeiro trimestre de 2022 a chegada do C40, um crossover também 100% eletrificado. Até 2025, a meta global da montadora é ter ao menos 50% dos veículos puramente elétricos, mas a operação brasileira pretende antecipar o prazo. A confiança no crescimento dos negócios no segmento é justificada pelos números da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). No primeiro semestre deste ano foram emplacados 13.899 veículos eletrificados, alta de 83% em relação ao mesmo período do ano passado (7.568), já na pandemia, e de 490% na comparação com 2019 (2.356). A previsão é de que sejam negociadas mais de 28 mil unidades no ano, contra 19.745 do ano passado e 11.858 de 2019.

PROCURA SEM FIM O XC40 Pure Eletric esgotou 450 unidades em pouco mais de três meses. O carro atinge os 100 quilômetros por hora em 4,9 segundos. (Crédito:Fabio Aro)

O aumento da demanda por modelos híbridos ou 100% elétricos empolga o executivo, que chama atenção para a necessidade de as montadoras defenderem o mesmo interesse de olho no desenvolvimento do setor. “Se continuarmos com agendas distintas, fica complexo. Aí, a vitória será de apenas um”, disse Rezende, ao lembrar que China e Europa seguem rapidamente para a eletrificação. “Como América Latina não conseguimos. Em vez de tentar promover o etanol (posição defendida pela Volkswagen), por que não realizamos uma agenda de discussões mais pesadas sobre como vamos fazer essa rede toda?”

Montadoras como Stellantis (reúne marcas como Fiat, Citroën e Peugeot), General Motors e Toyota também sinalizam a escolha do modelo elétrico. De acordo com o presidente, o País deveria se preocupar em atrair empresas – “como a Bosch, por exemplo” – para produzir a bateria, o maior desafio do segmento de eletrificados. “Os recursos naturais para desenvolvê-la, como o cobalto e o lítio, são encontrados em grandes volumes na América do Sul. O Brasil viraria de novo um player global de exportação. Se não for assim, ficaremos para trás.”

INVESTIMENTO A expansão das vendas na região passa por investimentos em estrutura de carregamento. A montadora instalou 500 eletropostos no Brasil, 100 na Colômbia, 200 no Chile e 300 no México. “Também promovemos uma renovação de concessionárias no México.” No Brasil são 38 concessionários com a previsão de atingir 44 até o fim do ano. “E também temos emplacado na região todos os modelos globais.”

No Brasil são disponibilizados cinco opções de automóveis: as SUVs XC40, XC60 (mais vendida) e XC90 e os sedãs S60 e S90. De janeiro a agosto foram comercializadas 5.301 unidades no total no País. “A Volvo ocupa a vice-liderança na linha premium, atrás apenas da BMW”, afirmou João Oliveira, diretor geral de Operações e Inovação. O executivo tem a perspectiva de comercialização de 7,5 mil a 8 mil veículos no Brasil neste ano, número bem parelho com o melhor da bandeira no Brasil, em 2019, de 7.916 unidades. Em 2020 houve redução de 2%, para 7.716.

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“Temos a expectativa de vender entre 7,5 mil e 8 mil unidades em 2021, número muito parecido com o de 2019” João oliveira diretor da Volvo.

A estimativa mais conservadora para o País está relacionada à instabilidade de produção global, por causa da falta de semicondutores. Oliveira acredita que a situação deve seguir igual no primeiro semestre de 2022, o que pode dificultar os negócios da empresa, a exemplo da concorrência. “Temos tentado nos adaptar a essa situação e encontrar um caminho. Parte da nossa estrutura global, inclusive, nos ajuda nesse sentido.”

PEGANDO NO TRANCO O especialista Davi Bertoncello, CEO da Tupinambá Mobilidade Elétrica, startup voltada ao universo da infraestrutura de recarga veicular, segue a linha do executivo Luis Rezende e critica a proposta da Volkswagen de desenvolver tecnologia para utilizar a energia limpa dos biocombustíveis nos veículos, tendo como referência o etanol de cana-de-açúcar. Segundo ele, por mais que o País tenha dimensões continentais, a indústria automobilística nacional não é forte como em outros tempos para sozinha fazer posição para uma estratégia de marcas globais. “Temos de avaliar a situação do Brasil no contexto mínimo da América Latina”, disse Bertoncello. “Vamos entender que não faz sentido que o País fique tentando ser o bastião do etanol, enquanto o mundo já vai estar na próxima tecnologia (elétrica), que no fim do dia é a tecnologia mais barata.”