O sueco Hakan Samuelsson, CEO mundial da Volvo, declarou ainda em 2020 que ficaria surpreso se, em 2030, a montadora sueca tivesse em seu portfólio outros modelos que não exclusivamente os veículos elétricos. As palavras do manda-chuva ecoaram na sede da subsidiária brasileira, em São Paulo, que, se antecipando aos planos globais da montadora, aboliu já neste ano a venda de modelos exclusivamente a combustão. O site da marca disponibiliza aos clientes apenas versões híbridas e, em maio, será aberta a pré-venda do XC40 Recharge Pure Eletric, o primeiro modelo 100% elétrico da bandeira no País. “(O XC40) É um grande passo nas ambições da Volvo Cars em tornar-se totalmente elétrica a partir de 2030”, afirmou à DINHEIRO Luis Rezende, presidente da Volvo Car Brasil e Head do Latin America Hub.

A produção do XC40 100% elétrico será iniciada em junho e as primeiras unidades devem desembarcar no Brasil em agosto. Além dele, a montadora promete para o início de 2022 a chegada do C40, um crossover totalmente elétrico. Até 2025, a meta global da bandeira é ter ao menos 50% dos veículos puramente elétricos, mas a unidade brasileira pretende antecipar o prazo.

Com base no comportamento do mercado brasileiro em 2020, a Volvo não deverá encontrar problemas para atingir o objetivo. A venda de veículos eletrificados bateu recorde no País, com aumento de 66,5% nos emplacamentos em relação a 2019. Foram comercializadas 19,7 mil unidades no ano passado, contra 11,8 mil do período anterior, segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). “Os eletrificados mostraram o seu potencial, em nítido contraste com a evolução do mercado”, afirmou Adalberto Maluf, presidente da ABVE, numa referência à queda de 26,6% (de 2,56 milhões de unidades para 1,9 milhão) do número de emplacamentos de automóveis e comerciais leves em 2020, na comparação com o ano anterior.

A decisão da Volvo de abrir mão da produção de carros com motores exclusivamente a combustão vem ao encontro de pensamento da marca de que propulsores a gasolina e a diesel não fazem parte do futuro. E, além de lançar produtos, a bandeira tem desenvolvido uma estrutura para que os clientes possam recarregar os seus carros. São 1 mil eletropostos pelo Brasil.

A expansão dos pontos para recarregamento é possível graças a parcerias. Uma delas é o projeto Ecovaga, iniciativa da rede de estacionamentos Estapar e da Enel X, empresa de soluções energética da Enel Brasil, para a criação de 250 estações de recarga no País. A Volvo também fez acordos com redes de supermercados e shoppings.

As estratégias no Brasil são coordenadas por João Oliveira, diretor geral de Operações e Inovação. O engenheiro está na empresa desde 2003, quando ainda pertencia à Ford, e atestou o crescimento gradual no País da Volvo Car, a partir da aquisição da divisão pela Geely, em 2010. A companhia chinesa injetou “uma avalanche de capital” nos setores de engenharia e desenvolvimento de produto. O início de uma nova relação da bandeira com o Brasil, que ganhou relevância em 2018 com o lançamento do XC90, primeiro veículo híbrido da empresa.

A aposta no segmento mostrou-se certeira tendo em vista os resultados obtidos pela marca em 2019. A Volvo liderou o segmento híbrido plug-in, com 34,1% do mercado e 1.166 carros emplacados. Os negócios em geral chegaram a 7.916 unidades, se somados os modelos a combustão.

Diante da melhor marca na história da montadora no mercado brasileiro, Oliveira previa o crescimento contínuo das vendas em 2020. No entanto, a chegada da pandemia frustrou as expectativas do diretor, que viu os negócios totais recuarem 2% (7.716 unidades foram comecializadas). O alento veio do segmento de híbridos, que comercializou 3.216 veículos, quase três vezes o número do ano anterior. Já para 2021 fica difícil bater o martelo a respeito da estimativa de vendas. “Se eu olhar a tendência com base no que comercializamos até agora, devemos ficar entre 7,7 mil e 8 mil unidades.”

PERCALÇOS A questão cambial revelou-se preocupação na montadora. A desvalorização de cerca de 40% do real em relação ao dólar, desde o início da pandemia, tem impactado os preços dos veículos vendidos. São cinco modelos – os SUVs XC40, XC60, XC90 e os sedãs S60 e S90 – com preço inicial de R$ 259 mil (XC40).

A escassez de matérias-primas também é motivo de alerta. A exemplo de outras montadoras, a Volvo tem ficado suscetível à falta de componentes, o que tem afetado a produção. Com a dificuldade de acesso a semicondutores, as cinco fábricas globais da marca reduziram o ritmo de fabricação e atrasaram o envio dos veículos. “No caso do Brasil, há fila de espera de mais de um mês para algumas versões do XC40”, disse o diretor. O abastecimento das cadeias de produção deve ser normalizar, segundo Oliveira, apenas no terceiro trimestre.