A Volkswagen, presente no Brasil há 64 anos, lamentou os episódios retratados em uma investigação interna que mostram apoio da empresa à ditadura militar no País, regime instaurado em 1964 e que se encerrou 21 anos depois.

A ISTOÉ DINHEIRO antecipou a publicação do documento produzido pelo historiador alemão Chistopher Kopper, da Universidade de Bielefeld. O estudo conclui que o trabalho de vigilância conduzido pelo Departamento de Segurança Industrial da companhia facilitou a prisão de ao menos sete funcionários considerados subversivos, levou à demissão de empregados envolvidos em atividades sindicais e abasteceu “listas sujas” com nomes de ativistas trocadas com autoridades e outras empresas.

O levantamento atesta que a Volkswagen foi “irrestritamente leal” ao regime e sugere benefícios econômicos obtidos pelo grupo com a supressão de liberdades nas relações trabalhistas no período da ditadura. “A Volkswagen do Brasil e, em última instância também a Volkswagen AG [grupo Volkswagen], aproveitaram para si a suspensão dos direitos trabalhistas elementares”, afirma o relatório contratado pela própria empresa, que cita os lucros “surpreendentemente altos” obtidos na época.

Nesta quinta-feira, 14, em discurso na fábrica, o presidente da Volswagen para a América do Sul, Pablo Di Si, se pronunciou sobre o assunto e ressaltou o ineditismo de a própria montadora abrir um processo de investigação para revelar a relação da empresa com a ditadura militar.

“Queremos fazer uma reflexão importante sobre o nosso passado, com vistas ao nosso futuro”, afirmou. “Deixo aqui, em nome da Volkswagen, expressado que lamentamos profundamente os episódios que possam ter ocorrido naquele momento histórico em desacordo com os valores da empresa. O relatório nos motiva a trabalhar cada vez mais como uma empresa propagadora dos Direitos Humanos”, afirmou Di Si.

VolkswagenA Volkswagen é a primeira empresa a liderar uma investigação própria sobre as relações com o regime militar brasileiro. O trabalho foi encomendado pela Diretoria de Integridade na Alemanha após os apontamentos levantados pela Comissão Nacional da Verdade, em 2013, e a representação feita ao Ministério Público Federal, em 2015, por trabalhadores e centrais sindicais.

O inquérito da Procuradoria está em fase final de conclusão. Um relatório preliminar, produzido pelo perito Guaracy Minguardi, apresenta provas que sustentam conclusão semelhante às apresentadas pelo historiador alemão.

“Não restam dúvidas de que a Volkswagen, além de colaborar com os órgãos repressivos, também agiu por conta própria, às vezes participando da repressão”, afirma o documento do perito. O texto ainda aponta a “repressão ativa da empresa contra funcionários” e indica a existência de um “sistema de vigilância e repressão construído entre montadoras e a polícia política.”