A italiana Magneti Marelli tornou-se conhecida nos quatro cantos do planeta por dois motivos. Primeiro pela habilidade de desenvolver produtos inovadores para o setor automotivo. A outra razão é a posição de destaque no Grupo Fiat, para o qual colabora com US$ 5,4 bilhões das receitas totais. Agora a companhia desperta atenção graças a técnicos e engenheiros da filial brasileira que desenvolveram um projeto revolucionário ao custo de R$ 5 milhões. A pesquisa, encerrada em junho de 2002, deu origem ao Software Flexfuel Sensor (SFS). O dispositivo faz com que o motor funcione com álcool, gasolina ou a mistura de ambos. O SFS está prestes a ganhar as ruas a bordo do motor Total Flex, que equipa a nova família do Volkswagen Gol. Volkswagen? É isso mesmo! O que à primeira vista pode parecer um contra-senso, afinal a montadora alemã é a arqui-rival dos italianos no Brasil, mostra, na verdade, o grau de independência da empresa. ?Somos uma companhia com total autonomia?, garante Silverio Bonfiglioli, presidente da Magneti Marelli Controle Motor, divisão responsável pela produção dos sistemas de injeção eletrônica e exaustão, cujas vendas somaram R$ 370 milhões em 2002.

A aposta da empresa é a de transformar
o SFS numa ?mina de ouro?. Além de equipar
os carros da Volkswagen, o dispositivo também foi comprado pela Fiat, que quer utilizá-lo no Palio Flexfuel, cujas vendas começam no segundo semestre. Juntas, essas montadoras absorvem quase 60% das peças produzidas pela Magneti Marelli. O mercado, contudo, vê com cautela o SFS. ?Ainda é cedo para dizer se o equipamento detonará uma revolução na indústria automotiva brasileira?, diz Ana Valéria Carneiro Dias, pesquisadora da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP). Para ela, os consumidores brasileiros ainda têm um certo receio em relação ao programa de álcool como combustível. A direção da Magneti Marelli, é claro, discorda.

Ao mesmo tempo em que luta para consolidar sua nova
tecnologia, a direção da Magneti Marelli não descuida de seus mercados tradicionais. O plano estratégico para este ano prevê investimento de R$ 30 milhões. Os recursos vão ser gastos em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, além da compra de equipamentos. A meta é dobrar, para 6,4 milhões de peças/ano, a produção de bicos injetores na fábrica de Hortolândia (interior de
São Paulo). Com isto, Bonfiglioli espera dar conta das encomendas feitas por clientes do Brasil e do exterior. Os novos contratos
deverão vitaminar em R$ 100 milhões as receitas, estimadas em
R$ 470 milhões para este ano. A temporada de boas notícias, pelo visto, parece longe de acabar.