O crescimento econômico da América Latina e do Caribe será menor do que o esperado este ano em um contexto internacional “marcado pela incerteza e a volatilidade” e que teve especial incidência em países sul-americanos como Argentina e Venezuela, informou a Cepal nesta quinta-feira (23).

A economia da América Latina e Caribe crescerá 1,5% este ano, 0,7% a menos em relação aos 2,2% previsto anteriormente, em um contexto internacional “marcado pela incerteza e pela volatilidade”, segundo a Cepal.

“Nossa região continua crescendo, embora a um menor ritmo do projetado há uns meses, apesar das turbulências internacionais”, disse a secretária-executiva da Cepal, Alicia Bárcena, durante a apresentação do relatório na Cidade do México.

O organismo afirmou que os conflitos comerciais entre Estados Unidos, China e outras nações; os riscos geopolíticos crescentes, a queda dos fluxos de capitais para mercados emergentes nos meses recentes e a alta do risco soberano compõem “um cenário global complexo” para o crescimento regional.

Outros fenômenos que afetaram o desempenho regional foram a desvalorização das moedas locais em relação ao dólar e o menor dinamismo do crescimento econômico mundial, acrescentou.

O relatório destaca ainda a “grande heterogeneidade entre os distintos países e sub-regiões”, pois espera-se que a América do Sul cresça 1,2% este ano, enquanto que América Central a previsão é de 3,4% e o Caribe, 1,7%.

“O México e a América Central estarão melhor do que América do Sul em 2018”, disse a secretária-executiva da Cepal, Alicia Bárcena, durante a apresentação do relatório na Cidade do México.

O Brasil, maior economia da América Latina, deve crescer 1,6% este ano em relação a 1% de 2017. O México, a segunda maior, deve se expandir 2,2%, pouco mais do que os 2% do ano passado, segundo as previsões da Cepal.

A Argentina, por sua vez, sofrerá uma contração de 0,3% do PIB este ano, depois de crescer 2,9% em 2017, enquanto que para Venezuela se espera um recuo de 12%, um pouco menor que os -13% registrados no ano passado.

Bárcena distinguiu, contudo, o bom desempenho de outras economias sul-americanas como Peru, Chile e Bolívia, para as quais estão previstos crescimentos anuais de 3,6%, 3,9% e 4,3%, respectivamente.

“O resto das economias da América do Sul têm um grande dinamismo (…) aqui o grande tema é Argentina”, acrescentou a secretária-executiva.

– Argentina, “um coquetel complexo” –

Para Mario Cimoli, secretário-executivo adjunto da Cepal, Argentina é um “coquetel complexo” que combina uma situação de crise cambial, forte aumento dos preços e um contexto de “acelerada abertura com forte mobilidade de capitais”.

“Produziu uma situação que é difícil de administrar”, disse Cimoli, que estimou que se o país conseguir controlar os problemas de liquidez enfrentado pela economia, poderá ter um primeiro trimestre positivo em 2019.

Sobre a Venezuela, Bárcena disse que há “um quadro bastante complexo”, devido a uma combinação de hiperinflação, uma contração do PIB de 43% nos últimos cinco anos e falta de informação oficial sobre suas variáveis econômicas.

Considerou que seu problema mais grave é o endividamento “cada dia mais caro e escasso”, aliado à queda da produção e das exportações de petróleo, sua principal fonte de receitas.

Apesar da desaceleração no ritmo do Produto Interno Bruto (PIB), a organização destacou que a América Latina vive uma retomada da demanda interna, especialmente do consumo privado, e um pequeno aumento nos investimentos.

“O consumo em todas as sub-regiões é, quem sabe, a variável mais importante na demanda interna”, ressaltou Bárcena.

Para um crescimento regional mais vigoroso, Bárcena insistiu na necessidade de que a região tenha “um olhar estratégico para o investimento público”, considerado seu papel-chave para potencializar a participação do setor privado.