O topo do edifício da Algar Telecom, em Uberlândia, Minas Gerais, exibe 1.224 painéis solares. A empresa, que fez o primeiro sistema fotovoltaico conectado à rede, em 2013, possui ainda 10 unidades com placas fotovaltaicas. “Além de sites com geração autônoma e excedentes injetados na rede, este ano colocamos em operação uma Usina de Geração distribuída”, explica Luis Lima, diretor de operações e tecnologia da empresa. Como a Algar Telecom, toda indústria ou consumidor que optou se tornar um gerador de energia exporta para a rede o excedente produzido e fica com um crédito para usar nos momentos em que não gera energia Este modelo de incentivo está no centro de um embate entre agentes do setor e a conta, como sempre, irá para os consumidores.

Cada vez que um novo cliente instala seu painel solar, ele deixa de pagar a chamada tarifa-fio da distribuidora. O impacto ainda é pequeno: segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a cada 150 mil consumidores adicionados na geração distribuída, a tarifa aumenta 0,1%. No longo prazo, no entanto, o impacto será maior. Projeção da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) revela que, até 2030, a fonte solar poderá representar pelo menos 10% da matriz elétrica, contra os menos de 1% atuais. Por isso, a Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee) luta agora contra os subsídios. Hoje, o desconto incide sobre toda a conta de luz, incluindo os encargos sociais. As distribuidoras querem que o desconto recaia apenas sobre a tarifa da energia, o que pode reduzir a economia da geração doméstica em até 62%. “Toda vez que criam um subsídio, ele precisa ter data para terminar. Quem ficar por último, vai pagar a conta mais alta”, explica Nelson Fonseca Leite, presidente da entidade.

Na outra ponta, alega-se que a mudança vai dificultar a expansão do setor. A briga, segundo Guilherme Susterás, presidente Cooperativa de Geração Compartilhada, vai atrapalhar novos investimentos da ordem de R$ 16 bilhões nos próximos quatro anos. “Conheço pessoas que estão deixando de investir por temor à mudança das regras”.
O presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Rodrigo Sauaia, acredita ser preciso calcular melhor o impacto da medida. “É necessário que se faça a consideração dos benefícios que a geração solar agrega para a sociedade”.

A associação se apoia nos números para mostrar que os incentivos foram responsáveis por alavancar esta fonte de energia (confira o quadro ao final da reportagem). Hoje, são 45,6 mil geradores. De olho nesse mercado, a CPFL Energia lançou, em 2017, a Envo, seu braço solar. Segundo a vice-presidente de Operações de Mercado do grupo, Karin Luchesi, trata-se de uma aposta no futuro. “Somos um dos países de melhor incidência solar. Faz todo o sentido investir”. Mas, para ela, é preciso remunerar o custo das distribuidoras, para que haja um equilíbrio. “A discussão tem que ser o quanto a sociedade está disposta a incentivar e por quanto tempo.”