QUEM TEM DINHEIRO, tem poder. Em tempos de crise financeira global, que ameaça frear o crescimento robusto da economia brasileira, ter reais na mão (ou no banco) é sinal de bons negócios. Se você dispõe de liquidez financeira neste momento de incertezas ou está planejando usar o 13º salário, saiba que tem uma força incrível de negociação para consumir ou investir. Seja na compra de produtos e serviços, seja nas aplicações financeiras, o poder do dinheiro à vista está do seu lado. Saiba como usá-lo a seu favor e entrar em 2009 com mais recursos no bolso.

Nas compras de Natal, use o seu poder de barganha para pechinchar. Grandes redes de varejo, que até outubro passado preferiam vender a prazo e ganhar juros em prestações a perder de vista, estão mais suscetíveis a descontos para pagamentos a vista. Como a oferta de crédito diminuiu nos últimos dois meses e a ordem do dia é evitar a inadimplência dos clientes se o desemprego aumentar no ano que vem, os vendedores foram autorizados a negociar mais. Ter paciência para pesquisar e debater preços e taxas é um requisito essencial na busca por um bom negócio. “A oportunidade de um pode representar a fraqueza do outro. Quem tem dinheiro na mão pode escolher o que comprar e de quem comprar. Já quem vende, precisa vender para quem aparecer”, diz o professor de finanças do Ibmec São Paulo, Humberto Rocha.

DINHEIRO fez um teste simples na semana passada e simulou a compra de uma tevê de LCD de 40 polegadas, com conversor para tevê digital, da marca Samsung. Os melhores preços encontrados em São Paulo tinham apenas um real de diferença. Na Fast Shop, a tevê custava R$ 4.399 para pagamento em 12 vezes. No Magazine Luiza, o mesmo aparelho custava R$ 4.398, também em 12 prestações. Depois da negociação com ambas para pagamento à vista, o vendedor da Fast Shop superou a melhor oferta da concorrente (R$ 3.900) e reduziu o preço para R$ 3.799, uma economia de R$ 598 (13,6%), que poderiam ser aplicados ou usados para uma nova compra.

A tendência é que esse tipo de negociação favoreça ainda mais o consumidor se a economia se desacelerar. Como o pagamento à vista ainda não é rotina na vida dos brasileiros, há pouca oferta de descontos e facilidades por parte dos comerciantes. A ordem é barganhar e negociar com calma (veja quadro), da grande rede à lojinha da esquina. “Os descontos serão maiores se comerciantes precisarem de capital de giro e não conseguirem crédito”, afirma a consultora financeira Eliana Bussinger. Se você aprender a dizer não com firmeza às primeiras ofertas, poderá levar mais que os tradicionais 10% de abatimento oferecidos em muitos estabelecimentos.

TER RECURSOS DISPONÍVEIS EM ÉPOCA DE CRÉDITO ESCASSO GERA BENEFÍCIOS NA HORA DE BRIGAR POR MELHORES TAXAS

No caso dos investimentos, a situação é parecida. Também dá para negociar melhor a rentabilidade das suas aplicações em renda fixa. A crise de confiança dos bancos, que passaram a emprestar menos uns aos outros desde outubro, melhorou as taxas oferecidas aos clientes nos investimentos em títulos próprios, os CDBs. Hoje, é possível investir em CDBs a taxas iguais ou até mesmo superiores à variação do CDI, que reflete o custo do dinheiro nas operações entre os bancos. Você não precisa mudar de banco, mas apenas levar ao seu gerente a taxa oferecida pelo concorrente para obter uma rentabilidade melhor que a habitual. Nesse processo, tome cuidado: bancos que oferecem taxas muito acima da média podem representar maior risco ao investidor. “É preciso levar em conta a solidez das instituições e o risco que se corre ao optar por certo tipo de aplicação ou produto. Há casos em que o benefício financeiro não é o mais importante”, pondera Eliana. E não se esqueça: os bancos oferecem taxas de administração menores nos fundos com maior aplicação inicial.

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Se você tem recursos disponíveis, paciência para analisar setores e empresas e boa tolerância a riscos, pode aproveitar os preços de liquidação das ações na bolsa de valores. Uma ação preferencial da Petrobras, que chegou a R$ 53,68 em maio, podia ser comprada por apenas R$ 20,11 na quarta-feira 10. No ano, o “desconto” passa de 50%. O potencial de queda existe, mas é menor que o de alta, tamanha a depressão nos preços. Os exemplos são inúmeros e podem ser uma oportunidade única de uma geração de investidores. Muitas empresas têm recomprado as próprias ações para aproveitar o momento. Não é só na China que crise é sinônimo de oportunidade.