Você chega em casa após um dia cansativo, se sentindo meio gripado, e começa a conversar com a Alexa, o smartspeaker da Amazon, para pedir uma sugestão para o jantar. Ao escutar sua voz, ela percebe que você está afônico e tossindo um pouco. A recomendação para sua refeição não demora: “Nesta noite fria, que tal uma canja de galinha e uma xícara de chá?”.

A Alexa irá interpretar os dados gerados por sua voz para saber até mesmo quando você está doente ou emocionalmente abalado. Por que a Amazon sabe qual o melhor tratamento? Porque ela começou a oferecer um sistema que permite a automação das prescrições, usando Big Data e Inteligência Artificial, associado com a sua última patente de reconhecimento de voz.

E a Amazon tem boas razões para isso.

De acordo com relatório da Frost & Sullivan, o mercado global de Ciências da Vida deverá chegar a US$ 1,5 trilhão em 2022 por conta do interesse das gigantes de tecnologia no setor, entre elas, além da própria Amazon, o Google, a Apple, a IBM, a Microsoft, a Samsung e uma promissora safra de startups de healthtech, as novas cobiçadas pelos investidores de risco.

No Brasil já são mais de 250 novas empresas dedicadas à inovação no mercado de saúde. A CB Insights indica que desde 2013 as startups de heathcare focadas na tecnologia de Inteligência Artificial, receberam mais de US$ 4.3 bilhões de aporte em mais de 576 acordos, superando todas as demais indústrias considerando apenas a tecnologia de Inteligência Artificial.

A mais agressiva no segmento de tecnologia para saúde vem sendo a empresa de Jeff Bezos. Depois de adquirir a farmácia online PillPack por US$ 1 bilhão, a Amazon demonstrou vitalidade para avançar no segmento com o lançamento da Basic Care, uma exclusiva linha de produtos de saúde, e a criação da Choice, uma marca de equipamentos para auxiliar pacientes no controle da diabetes e da hipertensão. Os devices são interligados a aplicativos que, entre outras funções, realizam o monitoramento do nível de açúcar e alertam a hora de tomar a medicação.

Imagine onde a Amazon poderá chegar integrando seu serviço de entrega de medicamentos com a Alexa e os equipamentos da Choice aliados com sua capacidade de identificar e prevenir certas doenças?

Você irá fazer um simples hemograma e um mapeamento genético em casa e, a partir da leitura e interpretação dos dados do seu histórico médico, do seu DNA e dos resultados dos exames, um laboratório receberá a encomenda de um remédio para ser manipulado a partir de uma receita elaborada especialmente para seu caso. A robô saberá tudo sobre o andamento do seu tratamento e irá te ajudar com recomendações do que fazer para se recuperar.

Como será a farmácia do futuro se as medicações forem todas manipuladas para cuidar da saúde de cada paciente? Será a Inteligência Artificial sua próxima farmacêutica?

É bem provável que o Dr. Big Data terá muito mais elementos para diagnosticar o que você tem e saber o que deve prescrever. Por isso, não há motivos aparentes para preservar seus dados. Mas este avanço na medicina terá um preço: sua privacidade. São os indicadores sobre a nossa saúde coletados por dispositivos em fio que podem ser “vestidos” (wearables), smartphones e pelos próprios médicos que irão determinar o melhor caminho para cura.

Vários aplicativos no seu smartphone ajudam a descobrir se você está doente e a levar uma vida mais saudável. A versão mais recente do Apple Watch, além de monitorar seus batimentos cardíacos e a pressão arterial, pode fazer até mesmo um eletrocardiograma.

Crédito: Qardio

O que a Apple quer, no final do dia, é criar um relatório pessoal de saúde no seu iPhone sem que você precise inserir dados, bastando interagir com seu iPhone ou seu smartwatch. Seu foco está em permitir e incentivar pacientes a compartilhar informações através de aplicativos que rodam na plataforma CareKit, além de oferecer o ResearchKit para estudos médicos.

A partir da integração dos dados fornecidos por você mesmo com seu software de Inteligência Artificial, o smartphone da Apple se torna um grande aliado do seu médico. Pesquisadores da Duke University, por exemplo, desenvolveram um app que utiliza a câmera do iPhone e algoritmos de reconhecimento facial para diagnosticar crianças com autismo. Outro aplicativo, o mPowerapp, analisa pacientes com Parkison a partir de exercícios como tocar a tela do celular.

Recentemente, a empresa anunciou uma parceira com a LabCorp que possibilitará aos pacientes integrar os resultados dos exames de laboratório com o aplicativo da maçã e, com isso, acessar ao mesmo tempo outras informações sobre sua saúde, como alergias, imunizações e medicamentos. O próximo passo, dizem os analistas, é transformar seu relógio no seu próximo psiquiatra, ajudando seu médico real a conduzir o tratamento para melhora da sua saúde mental.

É fato. Quanto mais conectado, mais insigths as empresas terão sobre você, o que poderá colocar sua intimidade em risco, mas trará como benefício a adoção de uma medicina mais preditiva e preventiva. Só nos resta torcer para que os planos de saúde não fiquem ainda mais seletivos na medida em que acessarem mais detalhes relacionados com nossa saúde.

A Suécia é o país que está mais adiantado nesta direção. Até 2020, todos os cidadãos suecos deverão ter acesso eletrônico ao prontuário médico. A expectativa é que ao terem maior conhecimento de suas enfermidades, os pacientes terão maior sucesso em seus tratamentos e ajudarão a reduzir custos com saúde na medida em que não precisarão ir desnecessariamente até o consultório para sanar dúvidas.

A DeepMind Health, empresa da Alphabet que foi incorporada pela Google Health, vem ganhando destaque com o app Streams, um assistente de Inteligência Artificial para médicos e enfermeiros que vem sendo testado pelo Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido. O aplicativo envia alertas aos profissionais de saúde em tempo real, agilizando o atendimento aos pacientes e, com isso, reduzindo os óbitos por atraso no socorro.

Agora, já pensou se a DeepMind compartilhar seus dados de saúde com o Google? A empresa já foi acusada de ter acesso a dados médicos de 1,6 milhão de pacientes do Reino Unido, o que ela nega.

O Google tem também outro projeto em andamento com a Verily Life Sciences para o desenvolvimento de um sistema de leitura de imagens que ajuda a detectar doenças no olho causadas pela diabete e câncer de mama.

Através da tecnologia de machine learning, o sistema é treinado para analisar as imagens e interpretá-las para chegar a um diagnóstico, algo que até hoje só era possível ser feito por olhos humanos muito bem treinados. Com isso, os pacientes aumentarão consideravelmente as chances de identificar uma patologia em seu estágio inicial e iniciar o tratamento antes que avance para um quadro clínico mais sério.

Quem acompanha e cuida da sua saúde agora, mais do que nunca, é você mesmo.

Em wearables não faltam novidades, como a Muse headband, uma faixa de cabeça que detecta suas ondas cerebrais e ajuda a treinar seu cérebro para meditação. O Pebble Health, relógio inteligente desenvolvido em parceria com pesquisadores da Universidade de Stanford, ajuda a monitorar seu sono e a garantir uma noite mais revigorante.

Se quer controlar seu nervosismo use o PIP, um aparelho que se integra ao seu smartphone para te ajudar a aprender a transformar uma cena depressiva que aparece na tela em uma cena feliz, reduzindo seu nível de stress. Mais assustador é pensar que em breve teremos nanorobôs 200 vezes menores que o diâmetro de um fio de cabelo navegando por nosso corpo para aplicar medicamentos em locais de difícil acesso, inclusive em regiões de maior densidade, como os olhos.

As técnicas de manipulação e análise de genes irá determinar o quanto poderemos avançar na idade no futuro e a genética é outro campo promissor com o avanço das novas tecnologias.

Há poucos dias, uma equipe de cientistas liderada pelo médico He Jiankui, da China Southern University of Science and Technology, informou ter conseguido modificar o gene humano de um embrião para torná-lo mais resistente ao HIV. O embrião deu origem a duas meninas gêmeas, o que causou muita polêmica e acabou levando o governo chinês a proibir as pesquisas de alteração de genes.

A rede de laboratórios Genomika, com sede em Recife e que tem acordo de cooperação com o Hospital Albert Einstein, realiza testes genéticos, como o sequenciamento completo de um exoma humano, que permite analisar todos os 22 mil genes de um indivíduo.

A Forever Labs, baseada em Michigan, está avançando em técnicas para coletar, congelar e armazenar suas células-tronco caso precise fazer algum tratamento médico no futuro, o que poderá elevar consideravelmente nossa expectativa de vida.

O pesquisador e cientista inglês Aubrey de Grey acredita que já nasceu a primeira pessoa que irá viver 1000 anos e os ratamentos para retardar o envelhecimento serão inventados nos próximos 20 anos. Não sei se estaremos vivos para comprovar sua tese, mas, enquanto isso, não esqueça de dar aquela olhadinha na pressão no seu smartwatch e faça da tecnologia a melhor assistente da sua saúde.

(*) Omarson Costa é formado em Análise de Sistemas e Marketing, tem MBA e especialização em Direito em Telecomunicações. Em sua carreira, registra passagens em empresas de telecom, meios de pagamento e Internet

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