“Construa pontes em vez de paredes!”

Este é o mantra de um alto executivo quando se dirige ao grande número de colaboradores, nos eventos e convenções de sua empresa. A frase soa quase como uma ordem, mas, ao ouvi-la, me recordei de uma experiência muito inspiradora, que sempre me fez refletir sobre o papel do líder na busca de maior interação entre pessoas e entre equipes em uma empresa.

Durante uma viagem a São Petersburgo, no tempo que ainda se chamava Leningrado, ao percorrer as salas do Museu Hermitage, deparei-me com duas grandes telas do pintor francês Henri Matisse, expostas uma defronte a outra. Eram as únicas naquela grande sala. Fiquei em silêncio, mas um turbilhão de ideias passou pela minha cabeça, enquanto saboreava a beleza ímpar da tela que o artista denominou “A Música”. Virando para o outro lado, contemplei a tela que é conhecida como “A Dança”.

Ao ver essas telas, me lembrei de várias equipes de diretoria em diversas empresas. Individualmente, há craques que ganham prêmios, são inteligentes e dominam seus assuntos como poucos, mas… não conseguem jogar juntos. Como me confessou o CEO de uma das empresas com as quais trabalho, olhando fixamente nos meus olhos: “essa tal de sinergia nunca passou por aqui”.

Ao observar os quadros, formulei uma espécie de síntese de uma das maiores angústias que percebo em líderes empresariais. Pedindo uma licença poética ao pintor, rebatizei, então, os dois quadros com nomes diferentes. Chamei de “Ilhas de Competência” aquele ao qual Matisse se referia como “A Música”; e de “Arquipélago de Excelência” a obra que o pintor chamou de “A Dança”.

De pronto me veio à mente José Carlos Leal, engenheiro e amigo que não vejo há anos. Com ele, a inspiração de uma ideia que começou a martelar em minha cabeça: “o papel do líder é transformar ilhas de competência em um arquipélago de excelência!”.

Enquanto concluía sua apresentação, aquele alto executivo, que sugeriu construirmos pontes em vez de paredes, compartilhou sua preocupação: “a minha angústia é tão grande que não consigo deixar de pensar nos problemas existentes aqui, muitos deles decorrentes do baixo grau de integração e sinergia”.

Certamente, a maioria das organizações padece do nível inadequado de integração, um dos maiores males no universo corporativo. Predomina ainda o individualismo, com a tese do “cada macaco no seu galho” e uma espécie de pacto implícito entre as diversas diretorias e departamentos, mais ou menos, nos seguintes termos: “não se meta em assuntos da minha área que eu não me intrometo nos assuntos da sua”.

Todos já conhecemos as consequências, incluindo a formação de verdadeiros feudos ou silos nas empresas, áreas que não conversam entre si, competição interna desnecessária, falta de compartilhamento de informações e baixo grau de visão do conjunto. E, com esse clima, temos também muito desperdício que poderia ser evitado, tempo jogado fora e perda de clientes que não conseguem ter uma experiência de compra integrada. Além disso, vemos a saída de talentos que não gostam de clima politizado e de disputas internas, bem como queda de receita e redução na rentabilidade, devido ao custo oculto do retrabalho e da falta de diálogo interno.

A solução para o desafio da integração não reside em técnicas, mas em um conjunto de atitudes dos líderes, que precisam dar o exemplo. Recentemente, criei a metodologia do “Team Business”, um contraponto ao tradicional “Team Building”, pois acredito que o treinamento para um trabalho eficaz em equipe precisa ter caráter bem pragmático, focado no business e nos resultados da empresa.

Porém, tudo começa com o exemplo do líder. Seja sinérgico e integrador. Seja um construtor de pontes, não de paredes. Transforme ilhas de competências em um arquipélago de excelência. É preciso se transformar para ser um agente da transformação!

César Souza, fundador e presidente do Grupo Empreenda, consultor, palestrante e autor do recém-publicado “Seja o Líder que o Momento Exige” e do “Cartas a um Jovem Líder”