Se você é do tempo em que viver como um Rolling Stone era uma forma de contestar o sistema e afrontar o capital, está na hora de rever os seus conceitos. Em plena era do showbusiness, cada vez que o astro do rock Mick Jagger e seus três parceiros de banda ? Keith Richards, Ron Wood e Charlie Watts ? sobem ao palco, uma milionária corporação, com organização e faturamento dignos de uma multinacional, trabalha afinada nos bastidores. Verdadeiros barões da indústria cultural, os roqueiros misturam partituras com planilhas financeiras e, cercados de especialistas em várias áreas (licenciamento, direitos autorais, indústria fonográfica, patrocínios, shows, tributos etc.), comandam um conglomerado que faturou mais de US$ 1,5 bilhão desde 1989. A data é o marco zero da era profissional do rock. Desde então, graças aos Rolling Stones, ser um Rolling Stone é viver em meio a um grande negócio, tendo como trilha sonora a melodia do dinheiro entrando no caixa.

E a música está tocando alto novamente. Os Stones estão em plena atividade no mais lucrativo de seus ramos de atuação: o das turnês. Com os acordes do show Licks ? que estreou há duas semanas em Boston (EUA) e que, durante meses, vai movimentar um staff de 350 pessoas, incluindo contadores itinerantes e advogados especializados em imigração ? a banda deve engordar sua receita em algo como US$ 300 milhões. A cifra é inferior ao faturamento dos tours anteriores (o Voodoo Lounge, em 1994, rendeu
US$ 370 milhões e o Bridges to Babylon, entre 1997 e 1999, somou
US$ 390 milhões), fruto de um encolhimento estratégico. Dessa vez, os Stones farão menos apresentações. Nas turnês anteriores, a agenda era tão apertada que eram necessários três enormes palcos e três equipes semelhantes, uma em cada ponto do globo. Agora, basta um. Assim, mesmo com faturamento menor, os lucros prometem ser melhores. Além disso, nunca houve tanto merchandising em torno de Jagger & cia. Nada menos que 50 produtos licenciados estarão à venda.

?Quando começamos, não havia dinheiro no rock & roll?, conta Jagger. Quarenta anos se passaram desde então e muita coisa mudou. O próprio superastro, hoje com 59 anos, chegou a freqüentar aulas na London School of Economics. No início, ele negociava pessoalmente cada uma das apresentações da banda. Jagger, Richards, Wood e Watts continuam participando ativamente da administração financeira de seus negócios. A gestão do dia-a-dia, porém, fica a cargo de três ?stones? anônimos. O principal assessor econômico do grupo é um banqueiro londrino descendente de príncipes alemães, Rupert Zu Lowenstein. A gerência-geral dos negócios fica a cargo de Joe Rascoff. Já a divisão de turnês é dirigida por Michael Cohl, ex-dono de bares de strip-tease no Canadá. Cohl mudou de vida e transformou o show-bizz depois que se aproximou dos Stones em 1988. Ele os convenceu que negociar shows isoladamente com produtores locais, já com o pé na estrada, era trabalhoso e muito menos lucrativo. E criou o modelo atual, em que tours são fechados em grandes pacotes, que incluem contratos de patrocínio, direitos de transmissão, venda de ingressos etc.

?A chave do sucesso é saber como gerenciar negócios tão diversos?, diz Jagger. ?Cada um tem seus segredos, mas todos precisam estar interligados.? Assim, o conglomerado Rolling Stones é formado por um grupo de empresas ? Promotour, Promopub, Promotone e Musidor ?, cada uma dedicada a um ramo de atividade. As companhias têm sede na Holanda, país que oferece vantagens fiscais para bandas estrangeiras. Quando não há turnê, elas empregam apenas uma dúzia de pessoas, sem que a máquina de lucros dos Stones pare. ?Mesmo quando vou dormir estou ganhando dinheiro?, brinca o guitarrista Keith Richards. Na última década, ele e Jagger receberam mais de US$ 50 milhões apenas em direitos autorais ? US$ 4 milhões apenas para que a Microsoft usasse a música ?Start Me Up? na campanha de lançamento do sistema operacional Windows 95. Com a venda de discos, foram outros US$ 460 milhões. Tudo para viver como um Rolling Stone.