Neste mês, a rede de joalheria Vivara, o banco BMG e a varejista C&A fecharão um ciclo do prédio histórico da B3 no Centro de São Paulo, na Rua XV de Novembro. O Espaço Raymundo Magliano Filho, o antigo pregão da Bovespa, fechará as portas, mesmo que temporariamente. Até março de 2020, o local passará por uma grande reforma, acompanhando a modernização dos outros prédios da B3 no centro histórico paulista, 2 anos e meio após a união de BM&FBovespa e Cetip.

Com o mercado brasileiro aquecido, as próximas empresas na fila para abrirem capital terão um espaço provisório de estreia, que já começou a ser preparado. Será no hall de entrada do prédio da B3 na Praça Antônio Prado, antiga sede da BM&F. Esse espaço era atravessado diariamente por operadores apressados para adentrarem o pregão que foi palco das saudosas negociações viva-voz, onde os profissionais se acotovelavam para garantir as melhores compras e vendas de ativos. Para o local será levado o púlpito (ou um recorte) do espaço que passará por reforma a partir do mês que vem. Essa transferência será necessária dada a simbologia do objeto, que marca a celebração da abertura de capital de uma empresa, comenta a diretora de Recursos Humanos da B3, Ana Buchaim.

Por trás dessa logística, contudo, a história é maior. A reforma dos prédios da antiga BM&FBovespa tem como pano de fundo a consolidação da marca B3, algo que para os funcionários e mercado já é bastante concreto, comenta Buchaim. Todo o processo de “retrofit” dos edifícios, ambos tombados como patrimônio histórico, custará cerca de R$ 150 milhões à empresa e a reforma terminará no fim de 2020.

Além dos dois prédios, também será reformado um edifício recém adquirido, que faz divisa com sua sede, na praça Antônio Prado. No centro, o prédio é conhecido por estampar em sua fachada 13 moedas douradas gigantes, de réis e cruzeiros, que remetem à época do Império até a República.

Como o prédio “das moedas” é colado ao prédio da sede, alguns andares poderão ser unidos. Com mais espaço, a B3 poderá trazer seus funcionários que ainda estão na unidade de Alphaville, uma das heranças da antiga Cetip. A novidade garantirá ainda vida nova à Rua João Brícola. Essa é a mesma rua em que está localizado o Farol Santander, antigo prédio do Banespa, ponto turístico da cidade. O prédio da Bolsa também atrai turistas que visitam o centro paulista.

Depois da fusão, em 2017, cogitou-se a possibilidade da nova empresa, fruto da união de Cetip e BM&FBovespa, deixar o centro e migrar para um prédio que pudesse acomodar toda a companhia. A decisão, no final, foi manter a sede no centro, até por conta de sua história, porém reformulando integralmente os prédios, para atualizá-los.

Questão de cultura

A executiva de RH da B3 diz que desde o momento da fusão, a cultura da empresa tem sido a proximidade com os clientes. Internamente, o trabalho é deixar os funcionários cada vez mais engajados, com o sentimento de “pertencimento”. A reforma, que unirá ambientes e derrubará paredes que dividem hierarquias, por exemplo, buscará retratar essa cultura, que já roda os corredores da B3, que começam a, fisicamente, serem reformados. Ana Buchaim diz que outra intenção é trazer os clientes e o público para dentro da companhia e que haverá novos espaços que contemplarão essa meta.

A reforma começou, na prática, no fim do ano passado e o sétimo andar do prédio da Rua XV de Novembro já está pronto. O ambiente já está preparado para tornar o dia a dia corporativo mais ágil, tornar reuniões mais céleres e facilitar a comunicação, sem lugares marcados para os funcionários. A B3 possui hoje 2,2 mil funcionários, sendo que 1,9 mil estão aptos ao trabalho remoto.

Nesta segunda, para marcar a despedida do Espaço Magliano Filho, a B3 lotou o espaço com seus funcionários. Além de bandas que se apresentaram, a B3 chamou oito artistas que participam de um “Art-Battle”. Os funcionários escolherão aquelas que serão estampadas nas paredes dos dois prédios da B3.

Tanto o prédio da XV, quanto da Praça, são da década de 1940. O situado no número 275 da Rua 15 de Novembro, no centro velho de São Paulo, pertencia ao extinto Banco do Comércio da Indústria (Comind), que perdeu o prédio devido à liquidação extrajudicial em 1985. O edifício da sede, por sua vez, na Praça, foi um dos primeiros prédios de escritórios de São Paulo. Batizado de Palacete Martinico Prado foi projetado por Ramos de Azevedo, a pedido do então prefeito Antônio Prado. O local já foi sede do Citibank. Ainda antes, no local ficava a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.