Os eurocéticos britânicos mais radicais compararam a vitória do europeísta Emmanuel Macron com a submissão da França aos nazistas, e estimam que isso enfraquecerá Londres nas negociações do Brexit.

“Os franceses se renderam em 1940. Desta vez, pouparam aos alemães a gasolina e as balas”, escreveu no Twitter a campanha Leave.EU, que tem vínculos com o partido antieuropeu UKIP (Partido para a Independência do Reino Unido), ilustrando a mensagem com uma capa britânica de 1940 com o título “França se rende”.

O ex-líder desse partido, Nigel Farage, referiu-se à vitória de Macron como “um engano”. “Macron será a marionete de (Jean-Claude) Juncker”, o presidente da Comissão Europeia, advertiu Farage.

O jornal conservador Daily Telegraph, que defendeu a saída da UE no referendo de junho de 2016, referiu-se, na capa desta segunda-feira, a uma “nuvem” sobre o Brexit.

O mesmo tom foi usado por outro jornal pró-Brexit, o Daily Mail, que em seu site atribuiu ao novo presidente francês uma “ameaça com uma posição dura” nas negociações de divórcio Londres-Bruxelas.

O triunfo do político centrista dissipa as possibilidades de que a França abandone também a UE e leva ao Eliseu um europeísta convicto, que discursou após a vitória ao som da “Ode à alegria”, de Beethoven, o hino europeu, um detalhe que não passou desapercebido.

No entanto, um conselheiro de Macron, Jean Pisani-Ferry, disse nesta segunda-feira à BBC que “ninguém tem interesse em um Brexit radical”.

“Temos um interesse comum em preservar a prosperidade”, explicou o conselheiro.

A primeira-ministra britânica, Theresa May, falou no domingo com Macron, e, segundo seu porta-voz, disse que “quer uma aliança forte com uma UE segura e próspera uma vez que a abandonamos”.

A vitória de Le Pen teria sido pior

Os analistas britânicos destacaram que a Europa se fortalecerá com Macron no Eliseu, algo que não tem porque ser necessariamente ruim para Londres.

“Macron se comprometeu publicamente a não permitir que o Reino Unido dite os termos ao bloco comercial”, lembrou o analista Joseph Downing, da London School of Economics.

“Isso apresenta importantes desafios para Theresa May”, que terá que enfrentar “uma França ressurgente com Macron à frente”, acrescentou.

Ao mesmo tempo, avaliou a Downing Street, uma vitória de Marine Le Pen “teria estremecido a Europa e criado um contexto altamente incerto para as negociações do Brexit”.

Jonathan Portes, professor de economia no King’s College e especialista em Brexit, se pronunciou seguindo a mesma linha.

“Sua vitória significa que é mais provável que a UE enfrente o Brexit mais forte, unida e coesa. Isso tem aspectos positivos e negativos para o Reino Unido”, disse Portes à AFP.

“É negativo porque significa que a posição negociadora britânica, que já era relativamente fraca, será ainda mais fraca”, argumentou Portes. Ao mesmo tempo, “se a UE fosse fraca e estivesse dividida, teria sido mais difícil chegar a posições comuns” e isso teria complicado as negociações.

Crispin Blunt, deputado conservador, presidente da comissão de Relações Exteriores do Parlamento, insistiu que a vitória de Le Pen teria sido ruim. “Não queremos negociar com uma UE em crise existencial”.