VOA. O nome poderia servir a uma companhia aérea, mas faz parte do que a Cervejaria Ambev chama de “compromisso com a criação de um mundo melhor”. O VOA, lançado em 2018, é um projeto que tem como objetivo compartilhar os conhecimentos em gestão da empresa com organizações não governamentais. A primeira entidade apoiada pelo VOA foi a ONG Gerando Falcões, sediado em Poá, na Grande São Paulo. Depois de participar de um projeto-piloto do VOA, a ONG liderada pelo empreendedor social Eduardo Lira conseguiu atingir, em três meses, o resultado financeiro equivalente ao que havia obtido ao longo de todo o ano anterior. A ideia original era ter funcionários da Ambev ajudando 25 ONGs a otimizar seus resultados. Quando 2018 chegou ao fim, nada menos que 185 organizações haviam recebido o apoio do programa, que conseguiu impactar positivamente 2 milhões de pessoas em todo o País. Os números do VOA ajudam a ilustrar o gigantismo da Cervejaria Ambev, eleita Empresa do Ano pela premiação As Melhores da Dinheiro 2019.

Na fabricante de bebidas que sonha grande desde sua criação, em 1999, a partir da união entre as centenárias Cervejaria Brahma e Companhia Antarctica, estabelecer novos recordes de produção e faturamento é o que se busca todos os dias. Mas nem o foco nos resultados abala o sonho de unir as pessoas por um mundo melhor. Para que ele se realize, a empresa há tempos incentiva atitudes como o consumo responsável de bebidas alcoólicas e a preservação de recursos naturais. Em 2018, a Ambev divulgou suas novas metas de sustentabilidade para 2025. Alcançá-las é um desafio.

Por isso foi criada a Aceleradora 100+, programa que aporta recursos em ideias inovadoras. Mais de R$ 2 milhões foram destinados a 21 startups, além de abrir portas para elas junto a outros grandes players do mercado. E as inovações têm sido aplicadas não apenas na questão ambiental. Por meio de parcerias com universidades, centros de pesquisas, redes de supermercados, bares, restaurantes, sindicatos, governos, órgãos de trânsito, aplicativos de táxi, sociólogos, psicólogos, especialistas em saúde, artistas, jogadores de futebol, influenciadores digitais e ONGs, o programa Consumo Inteligente estimular o comportamento responsável.

A ideia é reduzi o consumo nocivo de álcool em 10% até 2020, capacitando consumidores por meio de informações nos rótulos e pelo aumento na oferta de bebidas sem álcool ou com teores reduzidos. “O negócio da Cervejaria Ambev é estar presente nos momentos de celebração”, afirma o presidente Bernardo Paiva. “Por isso, a companhia trabalha para ampliar seu portfólio continuamente e oferecer as melhores experiências para todos os consumidores”. Além de cervejas, a Ambev produz refrigerantes, chás, isotônicos, energéticos, sucos e a AMA, água mineral lançada em 2017 e que tem 100% de seu lucro revertido para projetos que levam acesso à água potável para famílias do semiárido brasileiro. Em 2018, a arrecadação chegou a R$ 2,9 milhões e beneficiou 26 mil pessoas foram.

Bernando Paiva veste a camisa de um dos programas sociais que a empresa implementou em 2018: com o VOA, 185 ONGs receberam ajuda de funcionários da Ambev (Crédito:Divulgação)

“A responsabilidade socioambiental sempre fez parte das nossas preocupações: começou inicialmente atenta à qualidade e ao consumo de água, principal ingrediente dos produtos que saem das nossas cervejarias e refrigeranteiras. Com o passar dos anos, percebemos que podíamos expandir os compromissos ambientais para forada companhia”, afirma Paiva na apresentação do Relatório de Sustentabilidade 2018. Um exemplo desse compromisso é a construção de uma planta de geração distribuída de energia elétrica com a instalação de painéis solares na cervejaria de Uberlândia (MG), com capacidade para abastecer 100% dos centros de distribuição do estado. Também em 2018, 33% da produção de garras PET usadas pela companhia foram fabricadas a partir de material reciclado. Nos últimos seis anos, o volume de reciclagem cresceu 725%, graças ao apoio a cooperativas de catadores.

Engenheiro formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e com MBA Executivo pela Pontifícia Universidade Católica Rio de Janeiro, Bernardo Paiva ocupou posições de liderança em vendas, suprimentos, logística e finanças. Foi nomeado presidente de operações da ABI na América do Norte em 2008, presidente de operações da Ambev na América Latina Sul em 2009 e, em 2012, se tornou diretor global de vendas da ABI (a sigla se refere à controladora Anheuser-Busch InBev). Para realizar tais funções, além do Brasil, Bernardo morou também no Canadá, Argentina e Estados Unidos. Como presidente da Ambev, levou a cervejaria a alcançar uma receita de R$ 50,2 bilhões em 2018, quando o lucro foi de R$ 11 bilhões. “Somos uma companhia com uma base bastante sólida, fruto das estratégias consistentes que marcam a nossa gestão. Também somos conhecidos pela nossa cultura de dono — e donos sempre pensam o negócio a longo prazo”, afirmou Bernardo Paiva em entrevista exclusiva para esta edição de AS MELHORES DA DINHEIRO (leia a íntegra ao final da reportagem). Com 50 mil funcionários, sendo mais de 30 mil somente no Brasil, a empresa possui 32 cervejarias, 2 maltarias, 104 centros de distribuição direta e 6 de excelência no Brasil, além de estar presente em mais de 1 milhão de pontos de venda.

Em 2018, entre os destaques em inovação no portfólio da cervejaria, está a ampliação da família Skol, com Skol Hops e Skol Puro Malte, desenvolvidas no Centro de Inovação e Tecnologia (CIT) da companhia, inaugurado em 2018. Além disso, em 2018 e 2019, a Cervejaria Ambev lançou também cervejas que se conectam com a cultura local nordestina e buscam fomentar a cadeia produtiva regional: Nossa (Pernambuco) Magnífica (Maranhão) e Legítima (Ceará).

Nos últimos cinco anos, a companhia investiu R$ 17,5 bilhões no Brasil e vem deixando um forte legado por meio de sua ampla plataforma de sustentabilidade. “Seguiremos investindo em nossas principais plataformas de crescimento, que são: acelerar o segmento premium com escala; diferenciar o core; impulsionar acessibilidade de maneira inteligente; sustentabilidade; impulsionar a excelência operacional; e transformação do negócio por meio da tecnologia”, afirma o presidente Bernardo Paiva.


Entrevista

Bernardo Paiva, presidente da AMBEV

Bernando Paiva, nascido em 1968, está na companhia de 1991. É engenheiro formado pela UFFR com MBA executivo pela PUC-RJ (Crédito:Silvia Costanti / Valor)

A Cervejaria Ambev enfrentou dificuldades em 2018, chegando a perder
R$ 80 bilhões em valor de mercado. Apesar dessa queda, a empresa foi capaz de se recuperar. Qual a principal lição aprendida?
Historicamente, o mercado brasileiro sempre teve oscilações e o que sempre fez diferença para nós foi seguir a consistência na execução das nossas estratégias e a nossa cultura de dono. Os impactos dessa volatilidade foram maiores ou menores em alguns trimestres, mas donos tomam decisões e as executam sempre voltadas para o que é melhor para o negócio no longo prazo, independentemente se o período é de dificuldades ou de crescimento. Nos últimos anos, por exemplo, investimos de forma intensa na ampliação do nosso portfólio premium, com marcas como Budweiser, Stella Artois e Corona, que têm crescido em volume de forma sólida. Tivemos também várias inovações com a criação das famílias Brahma e Skol, que teve os lançamentos recentes da Skol Hops e Skol Puro Malte. Dessa forma, o ano de 2018 foi uma grande oportunidade para expandirmos ainda mais nosso leque de opções para atender a todos os gostos, perfis e ocasiões de consumo, em um processo permeado por inovação, como gostamos de fazer na Cervejaria Ambev.

Em duas das cinco dimensões analisadas pelo ranking AS MELHORES DA DINHEIRO, a Ambev ficou na primeira posição: Sustentabilidade Financeira e Governança Corporativa. No seu entendimento, o que diferencia a empresa nesses quesitos?
Somos uma companhia com uma base bastante sólida, fruto das estratégias consistentes que marcam a nossa gestão. Também somos conhecidos pela nossa cultura de dono – e donos sempre pensam o negócio a longo prazo. Essa combinação dá sustentação aos nossos resultados e nos permite avançar e sermos reconhecidos como uma empresa financeiramente sustentável, além de inovadora. Além disso, nosso relacionamento com os investidores e com o mercado é baseado na transparência. Atendemos a todas as exigências legais e regulamentares que se aplicam às companhias abertas com valores mobiliários negociados no Brasil e no exterior. Um exemplo é que nenhum dos conselheiros desempenha um cargo executivo na companhia, o que assegura a sua independência e autonomia.

O estilo de gestão aplicado pelos fundadores desde o final dos anos 1990 ainda é válido hoje ou o modelo vem sendo revisto e aprimorado conforme o mercado evolui?
Os pilares fundamentais do nosso estilo de gestão são a cultura e o sentimento de dono, que sempre conduziram nosso negócio. E é claro que, como donos, estamos sempre pensando em como melhorar nossa companhia e garantir que nossos produtos tenham qualidade, com marcas cada vez mais fortes, os processos mais atuais e com excelência única. É isso que faz com que os resultados cresçam de forma sustentável. Toda empresa, seja pequena, média ou grande, deve focar em resultados cada vez melhores em várias dimensões, sempre pensando no consumidor. Isso é inerente a qualquer negócio. O consumo de cerveja passa por uma verdadeira revolução, com as microcervejarias redefinindo não apenas o gosto do consumidor como também seu padrão de exigência, o que inclui desde a qualidade dos ingredientes até as práticas ambientais.

Quanto disso é oportunidade para crescer e quanto limita uma operação do tamanho da Ambev?
O mercado de cerveja vem passando por um processo de transformação muito interessante, que abre novas oportunidades e ocasiões de consumo. Vemos essas mudanças com bons olhos, pois sempre fomos defensores da diversidade e criatividade cervejeira. Há hoje um número maior de perfis de consumidores, com novas demandas, e isso é muito positivo, pois a gama de possibilidades para inovar é enorme e representa uma grande oportunidade. Por isso, nos últimos anos, um dos principais focos de nossos investimentos foi na ampliação de nosso portfólio, especialmente o premium, para atender a todos os gostos, perfis e ocasiões sempre com bebidas de qualidade. E entendemos também que é nosso papel fomentar o mundo cervejeiro. Com esse objetivo em vista, abrimos as nossas portas para que as cervejarias ciganas possam produzir, começando com Bohemia, que é a primeira cervejaria do Brasil.

Os resultados financeiros do quarto trimestre de 2018, divulgados no início deste ano, foram bons em termos nominais, mas avaliados como “inconsistentes”. Você concorda com essa avaliação do mercado? Em caso afirmativo, onde estava o problema?
Temos plena confiança em nossos resultados e plataformas estratégicas, que vão nos levar ainda mais longe, e os resultados consistentes dos dois primeiros trimestres desse ano mostraram que estamos no caminho certo. Apesar do cenário macroeconômico desafiador que enfrentamos nos últimos anos, nunca deixamos de confiar e investir no País e na nossa estratégia, e agora colhemos os frutos desse trabalho.

No passado, a Cervejaria Ambev teve a imagem abalada por denúncias de colaboradores que alegavam ser submetidos a pressões psicológicas e métodos de motivação abusivos. Como essas questões foram resolvidas? A empresa estabeleceu uma nova cartilha de conduta?
Desde nossa fundação, a nossa Cultura foi pensada com nossa Gente e nossos consumidores no centro das decisões.. Nossas relações de trabalho são baseadas na transparência e no respeito, e o ambiente informal nos escritórios e fábricas permite o intercâmbio de ideias. Nenhum abuso é tolerado pela companhia, isso não faz e nunca fez parte da nossa cultura. Os casos isolados que aconteceram no passado foram e são repudiados por todos nós.Atualmente, estamos muito focados em ter um ambiente em que todos possam ser cada vez mais autênticos.

Quais os desafios para a empresa continuar crescendo em uma economia praticamente estagnada como a brasileira? O fato de o mundo também estar entrando em um ciclo de menor prosperidade preocupa?
Confiamos nas nossas estratégias e, independentemente dos desafios econômicos, o Brasil ainda apresenta oportunidades enormes para o nosso negócio. O consumo per capita no país ainda é baixo se comparado com outros mercados e a população consumidora de cerveja deve continuar crescendo nos próximos anos. Ancorados na força de nossas marcas, em nossa disciplina financeira e no planejamento a longo prazo, seguiremos investindo em nossas principais plataformas de crescimento, que são: acelerar o segmento premium com escala; diferenciar o core; impulsionar acessibilidade de maneira inteligente; sustentabilidade; impulsionar a excelência operacional; e transformação do negócio por meio da tecnologia.