As mensagens de condolências, assinadas pelos presidentes de grandes multinacionais como Volkswagen e John Deere, externavam o pesar genuíno pela perda de um jovem e brilhante executivo, cuja vida fora interrompida de forma prematura. “A John Deere Brasil lamenta profundamente o falecimento de Marcos Hacker Melo, amigo e CEO do Grupo Veneza. Sua trajetória de realizações, apostas e conquistas no cenário da construção e agrícola, prestando todo suporte aos clientes e com o ímpeto da transformação econômica e social, nos inspirou e servirá de legado para todos”, afirmou Paulo Herrmann, presidente da John Deere Brasil. “O fato mais triste dos últimos tempos nos tirou, além de um amigo, um jovem reconhecido por seu espírito empreendedor e um dos grandes talentos da sua geração”, dizia a carta assinada pelo presidente e CEO da Volkswagen Caminhões e Ônibus, Roberto Cortes, e outros sete executivos da empresa.

Além do sentimento de perplexidade, as palavras escolhidas por quem conviveu com o empresário Marcos Hacker Melo poderiam descrever alguém com décadas de experiência na gestão dos negócios. Ao falecer, no dia 3 de setembro, de mal súbito, enquanto pilotava lentamente sua motocicleta por uma rua tranquila do Jardim Europa, em São Paulo, ele somava apenas 34 anos. Deixou a esposa, Deborah, e o filho do casal, de poucos meses. Em pleno vigor da juventude, vinha construindo a história de um gigante – e o futuro parecia reservar feitos ainda maiores e mais impressionantes. Filho único de Marcos e Cida Melo, ele já havia provado, como CEO do Grupo Veneza, ser um daqueles visionários capazes de realizar tudo aquilo a que se propunha. “O sonho grande do qual Marcos foi o protagonista continua”, afirmou à DINHEIRO o CEO da Veneza Equipamentos Sul, João Paulo Melo. Primo e sócio de Marquinhos, ele não esconde a dor da perda de quem o inspirou desde os primeiros passos, tanto na vida quanto nos negócios. Ainda assim, JP, como é conhecido, entende que a melhor maneira de homenagear aquele que partiu é seguir o caminho que ele havia traçado. “Todo o Conselho, todos os acionistas, seguem firmes e fortes para dar continuidade ao legado de Marcos Hacker Melo”.

Perpetuar essa memória é o que tem dado forças a Marcos e Cida Melo, pais de Marquinhos. Recentemente, todos os projetos sociais do Grupo Veneza, conglomerado com forte atuação nos segmentos de veículos, autopeças, equipamentos e máquinas para construção, foram reunidos em uma instituição filantrópica, agora batizada de Instituto MHM, iniciais de Marcos Hacker Melo. Com sede em Recife, ele tem por missão “promover o desenvolvimento humano em suas melhores e diversas potencialidades, fomentando visões de futuro e oportunidades de transformação da realidade”. Para isso, trabalha em projetos de assistência social e moradia digna, voluntariado, redução das desigualdades e combate à pobreza, defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável, incluindo o apoio à agricultura familiar e a redução do êxodo rural. Todas as ações são pautadas pelos princípios de promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos humanos e da democracia. Os acionistas não revelam o valor investido no Instituto, assim como preferem não divulgar o faturamento do Grupo Veneza, de controle familiar.

EXEMPLO FAMILIAR Filho único de Cida e Marcos Melo, Marquinhos herdou dos pais os valores que faria questão de aprimorar ao longo da vida tanto por meio de seu desejo de aprender sempre quanto pelo talento natural para envolver e encantar. (Crédito:Divulgação)

“É um grupo importantíssimo no Nordeste e, graças ao esforço de expansão capitaneado pelo Marquinhos, havia se consolidado entre os principais do Brasil”, afirmou à DINHEIRO o presidente da Volkswagen Caminhões e Ônibus, Roberto Cortes. Os dois se conheceram duas décadas atrás, durante uma viagem de executivos da VW que vieram da Alemanha para conhecer revendedores no Brasil. “Ele deveria ter no máximo 12 anos e foi receber nosso grupo com o pai. Tinha uma habilidade social muito grande e me chamou a atenção por ser tão interessado em aprender. Era muito educado, respeitoso”, disse Cortes. Segundo ele, o sucessor do pai no comando do negócio sabia que expandir a atuação para além do Nordeste era fundamental. “Ele conduzia esse processo de forma brilhante por ter sido preparado desde cedo. Somou as referências da família a todo o aprendizado adquirido em suas experiências vivendo em outros países”.

A familiaridade com idiomas estrangeiros começou a ser adquirida por Marcos Hacker Melo ainda na infância, quando frequentou a Escola Americana do Recife, cidade onde nascera, em 29 de junho de 1986. Anos depois, foi enviado pelos pais para a Suíça, onde estou no Institut Le Rosey. De volta ao Brasil, estudou Ciências Econômicas na FBV, no Recife. Após a graduação, ingressou no programa de trainee da multinacional de logística DHL, mudando-se para a África do Sul e, de lá, para a Inglaterra e a Alemanha, onde atuou nas áreas de Global Forwarding e Finance Strategy. Essa bagagem foi complementada com cursos nos Estados Unidos (Chicago Booth, Kellogg Northwestern) e no Brasil (Fundação Dom Cabral, FGV, entre outras). A capacitação técnica adquirida no ambiente acadêmico e na experiência profissional serviu de impulso para ampliar as fronteiras do Grupo Veneza, hoje presente em 11 estados e com foco em três segmentos: Máquinas & Equipamentos para Agricultura, Construção e Mineração; Caminhões & Ônibus e Automóveis. O grupo representa marcas mundialmente conhecidas como John Deere, Hitachi, Epiroc, Volkswagen, MAN, Jeep, Ford e Hyundai.

POWER SKILL Junto às habilidades como gestor, função na qual soube dosar ousadia e visão de futuro, Marcos Hacker Melo se destacava por qualidades mais ligadas ao relacionamento interpessoal, as chamadas soft skills – agora rebatizadas como “power skills” por serem habilidades essenciais para os executivos de sucesso. Ex-presidente da Cielo e hoje integrante dos conselhos administrativos de grandes empresas como Mapfre, Abastece Aí, Lojas Quero-Quero e Grupo Moura, o executivo pernambucano Eduardo Gouveia foi apresentado a Marcos Hacker Melo no final do ano passado. Ficou encantado. “Ele estava querendo montar o conselho consultivo do Grupo Veneza para profissionalizar ainda mais a empresa”, disse Gouveia que, por coincidência, 30 anos antes havia sido gerente das contas do pai de Marquinhos no Banorte. “Rolou uma química incrível com aquele garoto, que era um empreendedor nato, um executivo de primeira linha e com uma formação de valores muito forte”. Nascia ali uma relação de amizade capaz de transcender os limites da empresa. “Extremamente curioso, ele era envolvente e muito habilidoso na forma de lidar com as pessoas. Tinha um power skill violento e por isso era tão engajador”, afirmou Gouveia. Para ele, chamava a atenção em Marquinhos o nível de preocupação com os detalhes de cada reunião, desde o posicionamento das pessoas na mesa até o mergulho profundo no entendimento dos assuntos que seriam tratados. “O Marquinhos era tão iluminado que preenchia todos os espaços. Por isso, ainda muito jovem ele construiu tanta coisa”, disse Gouveia. Sua habilidade social o levou a integrar várias entidades. Era membro da Young Presidents Organization (YPO) e dirigiu a Associação Brasileira dos Concessionários John Deere.

Ainda que alguns de seus planos não tenham decolado – como a ideia de levar a empresa para o Irã –, foi a determinação de Marquinhos que gerou novas oportunidades para o Grupo Veneza, como a operação de equipamentos em Indaiatuba (SP) e a criação da Veneza Equipamentos Sul, com sede em Curitiba, braço do grupo que tem como CEO o primo, e quase irmão, João Paulo Melo, de 30 anos. “Com pouca idade ele se tornou protagonista de grandes projetos para a Veneza. Em 2008, com apenas 22 anos, passou a ser o importador para o Brasil de equipamentos pesados da Hyundai. Ele sabia atrair as pessoas para seguir seus sonhos”, disse João Paulo à DINHEIRO. “Espiritualmente, ele estará sempre conosco”.