O clima era de otimismo na manhã da quarta-feira 17. Um dia antes, dados do Cadastro Geral de Empregos (Caged) mostraram que o Brasil havia gerado quase 60 mil empregos em abril, o primeiro saldo positivo para o mês desde 2014. A retomada do emprego não era a única boa notícia. Os empresários também se animaram com as quedas da inflação, que estacionou em 4,08% em abril, o menor valor desde 2007, e dos juros. De acordo com o último relatório do Boletim Focus, do Banco Central, a expectativa para a Selic, atualmente em 11,25%, é de encerrar o ano em 8,5%.

Diante desse quadro animador, a bombástica delação premiada dos irmãos Joesley e Wesley Bastista, do grupo J&F, que coloca o presidente Michel Temer na linha de tiro e leva junto políticos do calibre de Aécio Neves, caiu como uma ducha de água fria no empresariado. A retomada econômica já era dada como certa, especialmente pela perspectiva de se votar as tão aguardadas reformas Trabalhista e da Previdência. Agora, o cenário é de incerteza.

“Eu espero que (a crise política) não atrapalhe a economia e nem faça a gente voltar para trás”, afirmou Luiza Trajano, presidente do conselho do Magazine Luiza, ao jornal O Estado de S.Paulo. “E espero que o Congresso tenha o juízo de aprovar o que tem de ser aprovado.” O desânimo e o receio de que o Brasil engate uma marcha à ré tomaram conta dos empresários. A incredulidade foi praticamente uma regra após a divulgação das informações pelo colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo.

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O setor produtivo se mostra decepcionado, principalmente porque a nova crise coloca em risco a aprovação das reformas. “Eu lamento esse assunto. Deveriam pensar em primeiro lugar na estabilidade do País e isso apenas trava o avanço econômico”, afirma à DINHEIRO Chaim Zaher, dono do Grupo SEB, do setor de educação. “É lamentável e eu espero que apurem e resolvam isso com urgência, pois a população cansou desse noticiário.” Com a reforma Trabalhista já aprovada pela Câmara e caminhando para o Senado, o governo criou a expectativa de que o mesmo aconteceria com a da Previdência.

O travamento do processo é o maior temor de Antonio Cassio dos Santos, presidente, no Brasil, da seguradora italiana Generali. “A suspensão das reformas certamente levará o nosso País a um retrocesso inimaginável, criando uma desconfiança sem precedentes”, diz Santos. “Isso é simplesmente lamentável.” Não há motivos para desespero, no entanto. “Precisamos ter calma”, afirmou Pedro Passos, um dos fundadores da Natura. “Temos de confiar que as instituições serão respeitadas e darão uma solução.”

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Notório otimista, o cearense Deusmar de Queirós, fundador e dono da rede de farmácias Pague Menos, dá uma velha receita para os empresários que, mais uma vez, terão de tocar os seus negócios em meio a turbulências. “Não deixe o trabalho de lado”, diz Queirós. Para ele, as crises políticas já podem ser consideradas a regra, e não mais a exceção, no mercado brasileiro. “Nada que vem de Brasília pode ser considerado surpresa”, diz o empresário, que manterá os investimentos independentemente da crise. “Quem vai salvar o Brasil são os empreendedores, por isso, precisamos nos unir e trabalhar para tirar o País dessa situação.”

Na opinião de Josué Gomes da Silva, dono da Coteminas, essa talvez seja a pior crise política que o Brasil já passou. De qualquer forma, para Gomes da Silva, “o Brasil não vai acabar”. Mais uma vez, o País do futuro terá de ser maior do que a política. De qualquer forma, uma crise dessa magnitude mexe com os negócios e obriga os executivos a traçar planos estratégicos para enfrentar as turbulências que virão pela frente. Rogério Melzi, conselheiro da incorporadora Cyrela e ex-CEO da empresa de educação Estácio, passou boa parte da noite da quinta-feira, 18 de maio, conversando com os seus pares.

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“Ninguém entendeu direito quando as notícias das delações foram surgindo, foi difícil de digerir”, diz Melzi. “O Temer estava indo para uma direção certa, com decisões impopulares, mas que estavam dando resultados.” Após a divulgação dos áudios pelo Supremo Tribunal Federal, Melzi acredita que a situação do presidente ficou ainda mais delicada. “A discussão não é somente se foi legal o que ele fez, mas a barreira da moralidade foi cruzada.” A dúvida é quem vai liderar o Brasil nesse caminho.

Entre os empresários ouvidos pela DINHEIRO, a maioria questiona a possibilidade de Temer continuar no cargo. O destino do presidente, no entanto, será definido pelas evidências. “Se as provas apresentadas constituírem um crime, o governo vai sangrar e será necessário uma mudança”, afirma Walter Cover, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat). Há quem entenda que a situação já chegou a um limite. “Eu acho que o melhor para o Brasil agora é a renúncia”, afirmou Walter Schalka, presidente da Suzano Papel e Celulose, em entrevista ao O Estado de S.Paulo.