Há uma indústria brasileira renascendo. Depois de ser dado como falido e sucateado, o setor naval está de cara nova. Hoje, os estaleiros estão com as finanças em ordem e têm tecnologia de ponta para um mercado estimado em US$ 10 bilhões nos próximos cinco anos. E não faltam exemplos dessa virada. O estaleiro Mauá-Jurong está participando da construção da plataforma de petróleo P-50 da Petrobras. A empresa Fels Setal, que arrendou o estaleiro Verolme, está fazendo a conversão da P-48. E o Eisa acabou de construir uma barcaça oceânica para a Aracruz, para transportar toda a madeira da empresa. Todos esses empreendimentos mostram que os tempos de estagnação ficaram definitivamente no passado. ?O setor passou por uma mudança profunda?, diz Augusto Mendonça, presidente da Pem Setal, uma das empresas controladoras do estaleiro Fels Setal. O que impulsionou a recuperação dos estaleiros brasileiros é a perspectiva de um boom no setor naval no País. A abertura do mercado de petróleo e as descobertas de novos campos produtores significam que, no médio prazo, novas plataformas terão de ser construídas. E as oportunidades também não se limitam ao Brasil. A costa africana e o Golfo do México deverão receber investimentos pesados na extração de petróleo no médio prazo. A África também representa um mercado potencial de US$ 10 bilhões nos próximos cinco anos. Isso atraiu as grandes companhias multinacionais ao País, que se associaram aos estaleiros nacionais. Hoje, a maior parte da indústria naval está nas mãos dos asiáticos. É o caso do Mauá-Jurong, controlado pela Jurong Shipyard, de Cingapura. ?Temos que ser tão competitivos quanto os estaleiros de outros países?, diz José Roberto Simas, diretor-comercial da empresa. ?O objetivo é exportar parte da produção?, diz.

 

Outro nicho que os estaleiros pretendem explorar no Brasil é a construção de navios de apoio, que abastecem as plataformas. A Transpetro, subsidiária da Petrobras, já anunciou que renovará sua frota de 22 navios, depois de 14 anos sem qualquer novo negócio na área. Um dos estaleiros nacionais que vai atender a empresa é o Eisa. Ele conseguiu o primeiro contrato que previa a construção de quatro embarcações, no valor de US$ 70 milhões. ?Com o crescimento da exploração de petróleo no Brasil, haverá um aumento da demanda por esse tipo de navio?, diz Ronaldo Peryles, vice-presidente do Eisa. Diante de tanta modernização, há uma pergunta óbvia: por que a Petrobras não contrata só estaleiros nacionais para a construção das plataformas P-51 e P-52, que juntas valem US$ 1 bilhão? Apesar de emitir sinais de que não confia na capacidade das brasileiras de cumprir a encomenda, a estatal se defende dizendo que a licitação será aberta a todos que tiverem condições de participar. É esperar para conferir o resultado.