À medida que surgem novos vídeos de câmeras portadas pelos policiais com imagens de incidentes nos quais civis morrem e enquanto se aproxima o fim do julgamento pelo homicídio do afro-americano George Floyd, aumenta nos Estados Unidos o debate sobre a confiança em suas forças policiais.

“Sou um homem negro e sei por experiência própria que a polícia não é profissional e que sua liderança não faz o certo”, afirmou Darnell Squire, de 46 anos, vendedor de bonés e camisas de beisebol em uma barraca de rua de um subúrbio de Mineápolis.

“Eles não estão ali para proteger a comunidade ou fazer com que a gente se sinta a salvo, não importa o que eles digam, para mim isso está claro desde criança”, acrescentou.

Darnell disse que não confia nas promessas do governo de que as coisas podem mudar e que tampouco confia no sistema ou nos tribunais. “Para mim, o problema começa de cima”.

Em um tribunal de Minneapolis, o ex-policial Derek Chauvin enfrenta acusações de homicídio e homicídio culposo pela morte de George Floyd, um caso que chocou o país e que na semana que vem terminará com as alegações de encerramento para abrir caminho às deliberações do júri, que deverá dar seu veredicto.

Enquanto durante o julgamento eram analisados os vídeos que mostram Chauvin ajoelhando no pescoço de Floyd durante 9 minutos, novos casos de civis mortos pela polícia vieram à tona, provocando mais indignação e novos protestos.

No fim de semana passado, uma patrulha deteve o jovem negro Daunte Wright em um subúrbio de Minneapolis por uma infração de trânsito. Para tentar detê-lo, uma policial atirou em sua direção, confundindo sua pistola Taser com sua arma de serviço – uma sequência filmada por sua câmera pessoal.

Nesta quinta-feira, a polícia de Chicago publicou imagens de outro caso em que um policial matou Adam Toledo, um adolescente de 13 anos que estava em um beco escuro e era suspeito de ter jogado fora uma arma.

– “Uma luta longa” –

“Vou me sentir do mesmo jeito se Chauvin for condenado. Esta é uma luta longa”, disse Selena McKnight, ativista local de 46 anos, que costuma participar de protestos contra a ação policial.

“Só é preciso ver os vídeos que aparecem a cada dia. Vamos manter a luta. O julgamento é só um caso e esta batalha não acaba até que se faça justiça”, acrescentou.

As imagens de Floyd, Wright, Toledo e outras pessoas mortas pela polícia contrastam com frequência com as de policiais enfrentando comportamentos agressivos de homens brancos.

Nesta quarta, em uma localidade nos arredores de Minneapolis, um policial foi atacado e arrastado em alta velocidade por um veículo dirigido por um homem branco de 61 anos.

O suspeito – acusado de atacar funcionários de uma loja que pediram que usasse máscara por causa da pandemia – bateu em um carro da polícia e arrastou o policial que tentava abordar seu veículo.

Sem fazer um disparo, os policiais conseguiram detê-lo.

“Atiraram nesse homem? Não, claro que não. Isso é tudo o que a gente precisa saber sobre os preconceitos da polícia”, afirmou McKnight.

“A gente acharia que estas imagens podem fazer alguma diferença, mas na verdade mostram algo que acontece há muito tempo”, afirmou.

Com um veredicto iminente no caso contra Chauvin, os Estados Unidos enfrentam a possibilidade de protestos violentos se o ex-policial for absolvido.

O centro de Minneapolis está coberto por tapumes e deserto, com forte presença da Guarda Nacional.

“Tenho medo da polícia, não da covid-19”, disse Tesfaye Habte, morador da cidade nascido na Etiópia.

“Se estou dirigindo e os vejo, fico preocupado que atirem por causa da cor da minha pele. Parece ter piorado nos últimos anos nesta cidade”, acrescentou.

Habte disse que com a violência dos protestos “as duas partes estão fazendo as coisas errado”.

“Os Estados Unidos são uma democracia, com uma Constituição e com liberdade de expressão, mas a polícia é muito agressiva e muito desumana. Eu acompanho este julgamento com preocupação”, concluiu.