O mês passado registrou um pico nas estatísticas americanas de desemprego. Mais de 140 mil vagas evaporaram, sendo que pelo menos um terço delas nos setores de comércio eletrônico e tecnologia. O número foi tão grande que destronou o recorde de dezembro, com 133 mil demissões. ?Há sete anos que não tínhamos dois meses seguidos tão ruins?, disse à DINHEIRO John Challenger, presidente da Challenger, Gray & Christmas, a primeira empresa nos EUA a recolocar profissionais com recursos dos seus antigos patrões. Desde que começou a somar e a divulgar o número de demissões, Challenger ganhou notoriedade como uma fonte isenta para assuntos de mercado de trabalho, sobretudo o de empresas pontocom. Nos últimos fatídicos meses, nada menos que a Amazon, maior loja virtual do mundo, e a eToys, então líder no setor de brinquedos, ?deletaram? 2 mil cargos. A onda repercutiu no Brasil, onde Superoferta e Intermanagers enxugaram seus quadros. Na expressão de Challenger para definir a situação, trata-se do emprego just-in-time, sistema em que as fábricas recebem as matérias-primas de acordo com as suas necessidades momentâneas, sem precisar montar um estoque. ?Se as receitas vão mal, e Wall Street está nas suas costas, você não tem outra alternativa senão cortar seus custos rapidamente?, diz ele. ?Quando a situação melhora, contrata-se de volta.? Este ano, diz ele, será pesado para os trabalhadores. ?Mas as pessoas podem continuar otimistas já que o mercado de tecnologia continuará crescendo.? De seu escritório em Chicago, Challenger falou à DINHEIRO por telefone. Conheça suas idéias:

CORTES E INVESTIMENTOS

?Desde meados do ano passado, o setor de tecnologia vem sofrendo um enfraquecimento. Assim, estamos esperando que 2001 não será brando em matéria de demissões. Mas o quadro não é tão negro como poderia se pensar. Os novos cortes não serão maiores do que os que observamos em dezembro e em janeiro. Historicamente, esses são os meses mais complicados do ano. É nessa época que as corporações são informadas dos custos que fizeram ao longo do ano e planejam como proceder para não ferir suas receitas. Mas as empresas de tecnologia vão continuar se expandindo e o mercado de trabalho vai acompanhar esse movimento. Nos últimos anos, tivemos números extraordinários de investimentos em companhias de tecnologia. Elas vão continuar treinando pessoal e criando novos empregos.?

 

MODELO JUST-IN-TIME

?Nossas empresas operam num modelo de just-in-time. Quando pressentem que haverá uma diminuição em suas receitas, livram-se rapidamente das pessoas. Quando o negócio cresce novamente, voltam a contratar. Esse modelo, todavia, é muito questionável. Com as demissões, as companhias podem alcançar a lucratividade no curto prazo. Mas não conseguirão resultados positivos a longo prazo. É que, nessas levas, muitos profissionais com vasto conhecimento da organização vão embora. E esse know-how não pode ser assim desperdiçado pelas empresas.?

PONTOCOM OU E-COMMERCE?

?Muitos que foram demitidos das empresas tradicionais vão achar um trabalho. Mas é pouco provável que eles migrem para as pontocom. Essas estão numa fase muito ruim. E as pessoas hoje estão mais conscientes do risco que é trabalhar nelas. Tudo o que as pontocom hoje têm para oferecer são as stock options (participação nas ações). E a excitação de trabalhar numa nova indústria acabou. Entre as empresas de Internet, quem tem mais potencial para atrair esse pessoal todo são as companhias de e-commerce. Esse tipo de operação será fundamental para as companhias transacionarem com compradores e fornecedores. Isso vai continuar se ampliando para entrar em todas as companhias. E é de se esperar que vá haver mais e mais trabalho nessa área, principalmente nos grandes portais de compra e venda.?

SOB FORTE DEMANDA

?Os webdesigners e os programadores de computação são os que mais facilmente arrumarão outro trabalho. Ambos ainda estão sob demanda muito forte. O mesmo não vai ocorrer com os jornalistas, principalmente os assessores de imprensa. Esses estão passando por um período muito desfavorável aqui. Eles, e todos os restantes, vão sentir com mais força a diminuição na velocidade da economia este ano.?

OTIMISMO APESAR DA CRISE

?As pessoas com quem converso ainda estão otimistas. O nível de desemprego nos EUA ainda é muito baixo, em torno de 4,2%. A economia não entrou numa recessão ainda. Por isso, eles estão com esperança em achar novos empregos. E acredito que, no geral, as pessoas não precisam ficar pessimistas. Embora este ano as perspectivas não sejam tão boas, num prazo um pouco mais longo a situação irá se normalizar.?