O site de compartilhamentos de vídeos YouTube se tornou um fenômeno cultural dos nossos tempos, criando celebridades que ganharam vida, fama e muito dinheiro na plataforma do Google. Um dos casos emblemáticos é do youtuber Felipe Neto. Ele começou a criar vídeos caseiros em 2010, no quarto de sua casa no Rio de Janeiro. Um ano depois, surgiu a Parafernalha, sua produtora de vídeos, que deu a origem a Paramaker, em parceria com a americana Maker Studio. Em 2015, ele a vendeu para o grupo francês Webedia por valor não revelado. Mas não aposentou as chuteiras, ou melhor, a câmera. Manteve seu canal de humor, que conta com 14,4 milhões de fãs, o que faz dele o segundo maior youtuber do Brasil.

Por mês, estima-se que consiga faturar mais de R$ 500 mil só com vídeos que publica no YouTube. Aos 29 anos, pode-se dizer que Felipe Neto está com a vida ganha, tendo construído uma carreira que basicamente explorou sua popularidade no site de vídeos do Google. Mas um dos mais populares youtubers do Brasil quer mostrar que pode existir vida além do YouTube. No final de setembro, ele lançou um aplicativo que levará seus vídeos para fora da empresa da fundada por Larry Page e Sergei Brin. “Se o YouTube resolve mudar um algoritmo, o meu negócio pode ser impactado negativamente”, afirma Felipe Neto. “Precisava buscar um caminho fora das grandes plataformas. Precisava da minha independência.”

Na telona: protagonista de dois filmes, Kéfera Buchmann aproveitou o sucesso no YouTube para impulsionar a sua carreira de atriz (Crédito:João Castellano/ISTOÉ)

Nos últimos meses, Felipe Neto deixou claro sua insatisfação com o YouTube. O humorista chegou a publicar alguns vídeos em que critica a direção brasileira da empresa por, segundo ele, favorecer outros youtubers com menos popularidade na rede. Esse favorecimento ocorria através de convites para eventos da empresa e ações de marketing, como quando ficou de fora da YouTube Rewind, uma retrospectiva anual com os principas youtubers.“Eu tenho meus problemas a equipe brasileira do YouTube”, afirma. Apesar disso, ele garante que não deixará o site. “De jeito nenhum vou sair”, diz. “Eu amo o YouTube.” O aplicativo “Felipe Neto Oficial” traz conteúdos de vídeo exclusivos. Uma parte deles é gratuita.

Outra só poderá ser acessada por quem assinar um pacote que custa US$ 2,99 por mês. Questionado se o seu novo empreendimento tem fôlego para se tornar sua principal fonte de renda, ele é direto: “Isso é absolutamente possível.” Desenvolvido em parceria com a empresa FanHero, o aplicativo já obteve mais de 500 mil downloads em 13 dias. No dia em que estreou, foi o programa mais baixado do Brasil nas lojas digitais para celulares Android e iOS, superando o Facebook, o Instagram e o popular sistema de mensagem WhatsApp. “Foi um sucesso absoluto”, afirma Humberto Farias, fundador da FanHero. “Já é o nosso maior case no Brasil.”

Felipe Neto não é o único que busca uma vida fora da plataforma de vídeos. Com 10,9 milhões de seguidores no canal 5incominutos, no qual faz relatos de seu dia a dia com pílulas de humor, a paranaense Kéfera Buchmann mostra que está cada vez mais apostando em sua carreira de atriz. Depois de protagonizar a comédia É fada!, a youtuber estrelou seu segundo longa, Gosto se discute, que estreia em 9 de novembro. “Não é estratégia para diversificar. Eu gosto das duas coisas”, disse Kéfera. “Meu sonho paralelo, quando entrei no YouTube, era ser atriz.”

Professor: com 23,8 milhões de seguidores no YouTube, Whindersson Nunes criou um curso de marketing digital (Crédito:Reprodução do Instagram )

Na semana passada, o piauiense Whindersson Nunes, que, aos 22 anos, é o brasileiro mais popular na plataforma com 23,8 milhões de seguidores, anunciou que criou um curso online de marketing digital. Segundo ele, as 77 aulas vão beneficiar não apenas para quem está buscando um lugar ao sol no YouTube, mas também profissionais que atuam com e-commerce, marketing e produção de vídeo. O conteúdo será dividido em módulos que vão desde dicas de criatividade e humor até ensinamentos sobre gravação, edição e monetização. “É um movimento natural visto com frequência quando o influenciador alcança um grande número de seguidores”, afirma Patricia Brazil, fundadora do Grupo IT BRAZIL, empresa que conecta influenciadores digitais às marcas. “Ele passa a buscar novos canais de comunicação.”

A especialista em construção de autoridade no mercado digital, Nathana Lacerda, concorda. “Eles querem seus próprios espaços onde possam controlar todas as variáveis.” Essa movimentação, contudo, não preocupa a plataforma de vídeos do Google. “É importante esclarecer que não há uma debandada para fora do site”, esclareceu o YouTube por meio de nota. “Nós apoiamos essa diversificação. É algo extremamente válido.” Felipe, Whindersson e Kéfera parecem ter entendido isso. Resta saber se suas novas iniciativas os farão brilhar tanto quanto o site que os transformou em estrelas.