O chanceler austríaco, Sebastian Kurz, anunciou neste sábado (18) eleições antecipadas no país, após o escândalo que levou à saída de seu número dois, o líder da extrema direita Heinz-Christian Strache.

“Sugeri ao presidente da República que sejam convocadas eleições o quanto antes”, afirmou Kurz, em pronunciamento pela televisão.

“É suficiente”, acrescentou Kurz, reconhecendo a “gravidade” das suspeitas de “abuso de poder”.

Horas antes, seu vice-chanceler, de 49 anos, havia informado sua renúncia. A decisão foi tomada após revelação feita pela imprensa de um vídeo, no qual promete contratos públicos à suposta sobrinha de um oligarca russo em troca de verbas para a campanha eleitoral.

O “caso Ibiza”, lugar da gravação, explodiu ontem à noite.

“Entreguei ao chanceler Sebastian Kurz minha renúncia como vice-chanceler, e ele a aceitou”, anunciou Strache, em coletiva de imprensa em Viena.

O anúncio foi organizado às pressas para tentar diminuir o impacto de um escândalo que também ameaça a credibilidade do governo de Kurz.

O político informou ainda que deixou a liderança do FPÖ, o partido que chefiava desde 2005.

“Eu cometi um erro e não quero que isso seja um pretexto para enfraquecer a coalizão formada em dezembro de 2017 com os conservadores de Kurz”, acrescentou Strache, que denunciou um “ataque político direcionado” e assegurou não ter cometido “irregularidades”.

Depois que o escândalo veio à tona, milhares de pessoas se reuniram na frente da Chancelaria, exigindo a queda do governo.

A revista alemã “Der Spiegel” e o jornal “Suddeutsche Zeitung” publicaram na sexta-feira em seus sites fragmentos de uma gravação com câmera oculta de uma reunião que teria acontecido meses antes das eleições parlamentares de 2017 na Áustria. Foi quando o Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ) chegou ao poder.

Nas imagens, aparecem o vice-chanceler Strache e Johann Gudenus, líder da bancada parlamentar do FPÖ, conversando com uma mulher que diz ser sobrinha de um oligarca russo. Os três conversam sobre como investir dinheiro na Áustria, especificamente para controlar o jornal de maior tiragem do país, o “Krone Zeitung”.

A conversa envolve, principalmente, a participação acionária no poderoso jornal austríaco.

Strache sugere que, sob uma nova direção, o Krone poderia ajudar o FPÖ em sua campanha eleitoral. Também diz à mulher que seu grupo poderá ter acesso a contratos públicos.

“Ela terá todos os contratos públicos atualmente com Strabag”, um importante grupo austríaco de construção, diz o líder do FPÖ na gravação.

Strache afirma que não haverá resistência na redação do “Kronen Zeitung”, porque “os jornalistas são os maiores prostituídos do planeta”.

Também explica que quer “construir uma paisagem midiática como a de Orban”, na Hungria. Neste país, o primeiro-ministro Viktor Orban é criticado por ter atacado o pluralismo da imprensa.

A reunião, ocorrida na ilha espanhola de Ibiza, foi uma armadilha para pegar o líder do FPÖ, segundo a imprensa alemã, que não sabe quem montou a operação.

Strache admitiu que participou da reunião, mas negou que tenha cometido qualquer crime. Neste sábado, ele denunciou um golpe “pérfido” e ressaltou que esse encontro não teve continuidade.

Admitiu, contudo, ter “tido uma atitude típica machista causada pelo álcool” e pediu desculpas à sua mulher, a seu partido e a Kurz. Disse ter-se comportado “como um adolescente” por não controlar suas palavras.

Ele evocou a grande quantidade de álcool ingerida que o fez “se gabar como um adolescente” para impressionar a visitante.

“Foi idiota e irresponsável”, completou.