Os bons ventos brasileiros, principalmente os do Nordeste, vêm garantindo números significativos para a indústria de energia eólica no País. O setor cresce de forma significativa e rápida, a ponto de a capacidade instalada hoje no Brasil (15,4 gigawatts) ser superior ao que gera a hidrelétrica de Itaipu (14 GW), a segunda maior do mundo pelo uso de água, atrás apenas da usina de Três Gargantas, na China, com 22 GW. Parte importante do crescimento do setor nos próximos meses virá da companhia dinamarquesa Vestas, que lidera no mundo o segmento de turbinas eólicas e que completa 20 anos de atuação no Brasil.

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Com investimentos de € 23 milhões (cerca de R$ 110 milhões) em sua fábrica no Ceará, a companhia concluiu, no início deste ano, a instalação da primeira de 24 turbinas V150-4.2MW, a mais potente do Brasil, no parque eólico da empresa Echoenergia, no Rio Grande da Norte. Sozinha, a turbina é capaz de gerar energia elétrica para 80 mil residências. Para se ter uma ideia do tamanho desse equipamento, cada uma das três pás tem 73,3 metros de comprimento e são instaladas nas maiores torres do Brasil, que podem chegar a 125 metros — o equivalente a um prédio de 40 andares. Se fossem colocadas na horizontal, o comprimento somado das pás seria maior que o diâmetro do estádio do Maracanã.

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MENOS CO2 A multinacional já fechou outros 600 pedidos da megaturbina, que serão entregues até o fim de 2021 aos clientes que têm apostado em energia sustentável, o que fará com que a capacidade de gerar eletricidade pelo vento chegue a 18 GW no País. Instaladas, as novas turbinas vão produzir energia equivalente ao consumo médio anual de 22 milhões de brasileiros (quase duas vezes a população da cidade de São Paulo), e ainda gerando economia de cerca de 1,2 milhão de toneladas de CO₂ (dióxido de carbono, um dos cases causadores do efeito estufa).

“O setor vem crescendo porque economicamente é muito viável”, diz o presidente da Vestas no Brasil e América Latina Sul, Rogério Zampronha. Para produzir as novas turbinas, a empresa precisou duplicar a capacidade da fábrica em Aquiraz. “Anexamos à linha de produção uma área de 40 mil metros quadrados e outra de 3 mil metros quadrados”, afirma Zampronha. Como a empresa produz turbinas para geração de energia sustentável, ela não poderia ficar de fora dessa onda. Para isso, projeta, até 2040, reduzir a zero a produção de resíduos em sua cadeia. A primeira meta é melhorar a capacidade de reciclagem das pás, saltando de 44% para 50%, em cinco anos, e para 55%, até 2030.

Para Elbia Gannoum, presidente-executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica, a retomada do crescimento econômico contribui para a confiança de investidores em busca de novas fontes de energia. “Com o Brasil crescendo, podemos apontar uma curva de tendência muito positiva para o setor”, afirma. “Até 2025 há a garantia de que a capacidade instalada em parques eólicos irá chegar a 22 GW. Em 2029, com essa perspectiva, podemos pensar em 39,5 GW”. Isso representaria quase triplicar, em menos de uma década, o tamanho que o setor tem hoje. Ela destaca, contudo, que para atingir esse patamar serão necessários avanços na infraestrutura, o que inclui o transporte dos equipamentos. “Temos de celebrar as conquistas e os grandes investimentos realizados no Brasil. A perspectiva futura é de que o setor eólico vai liderar a expansão da matriz elétrica do País”. Em um ponto todos concordam: é preciso dibersificar os investimentos nas matrizes elétricas para que o Brasil não fique dependente de apenas uma fonte, evitando assim riscos como blecautes e problemas de distribuição. “É importante que haja complementaridade”, diz Zampronha.

No ano passado, o Brasil foi o quarto maior mercado do mundo em projetos de geração de energia eólica, atrás de China, Estados Unidos e Alemanha. No ranking da capacidade instalada, o País é o oitavo. Em 2012, estava em décimo-quinto. Hoje há turbinas em 12 estados do Brasil, oito deles na região Nordeste.

A capacidade instalada vinda dos ventos coloca o setor eólico como a segunda matriz elétrica do Brasil, com 9,1% do total, à frente da biomassa (também 8,8%, mas com 14,9 GW) e gás natural (7,9%, com 13,4 GW). Hidrelétrica responde por 61% da matriz elétrica, com 102,9 GW.