O mercado de energia limpa ganhou motivo para celebrar. Nesta semana, o governo federal editou o decreto 10.946, que possibilita a instalação de parques eólicos no mar. O arcabouço legal para as offshores destrava o potencial do Brasil na obtenção do hidrogênio verde, uma fonte de energia limpa até três vezes mais potente que a gasolina. Estados Unidos, China e Alemanha já se consolidaram entre os maiores consumidores do combustível, que é uma alternativa sustentável e eficiente para transportes pesados. Para a consultoria McKinsey, essa economia pode alcançar US$ 20 bilhões no País até 2040. A produtora de turbinas eólicas dinamarquesa Vestas, uma das fomentadoras dessa agenda, já se prepara para surfar a onda do hidrogênio verde brasileiro, que deve chegar ao mercado internacional com preços competitivos.

“Pela posição geográfica e qualidade dos ventos, o Nordeste do Brasil será ainda mais estratégico para esse mercado”, afirmou Eduardo Ricotta, presidente da companhia na América Latina. O executivo explica que, além da proximidade da Europa e da costa leste norte-americana, a região oferece condições favoráveis para a operação de parques eólicos em alto mar, o que barateia a obtenção de um hidrogênio verde e limpo, cujo custo está 70% associado à fonte de geração. As vantagens produtivas devem beneficiar as exportações, que podem representar 30% do mercado quando maduro. A Vestas já vem discutindo o impacto das estruturas offshore com os governos federal e estaduais. Essas definições regulatórias e de estrutura são condicionantes para atrair investimentos e desenvolver o setor.

CUSTOS Enquanto isso, o brasileiro segue pagando 20% mais na conta de luz. A alta foi provocada pela migração da matriz energética para fontes termelétricas – mais poluentes e pesadas no bolso do consumidor – no período de estiagem no fim do ano passado. Mesmo com os níveis dos reservatórios já restabelecidos, o governo não está conseguindo fazer a transição de volta às hidrelétricas, que atendem 65% da demanda nacional, em função dos contratos assinados durante a crise hídrica. Hoje, as usinas de Belo Monte, Sobradinho e Tucuruí, que, combinadas, têm capacidade para gerar 20% do potencial hidrelétrico do País, precisam jogar água fora por não terem capacidade de escoar a produção energética atual – e as linhas de transmissão já estão sendo usadas pelas termelétricas.

Com capacidade instalada para geração de 21GW – dos quais a Vestas detém 25% – a energia eólica se tornou a segunda fonte mais utilizada no Brasil e, desde 2019, também a mais barata entre as renováveis, segundo a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, com custo médio de R$ 195/MWh, 30% menos que o preço da energia de fonte hidrelétrica. As empresas foram as principais responsáveis pela transição da matriz no País, o que fez parte da evolução da agenda sustentável no mercado. “É um movimento puxado pela autoprodução, que entrega uma energia eficiente, limpa e de menor custo”, disse Ricotta.