Poucas inaugurações no setor de hotelaria de luxo internacional foram tão aguardadas quanto vem sendo a do Le Grand Contrôle, localizado na ala sul do Palácio de Versalhes. Administrado pela luxuosa rede hoteleira Les Airelles, o novo hotel vai funcionar em um dos três prédios localizados junto aos portões do palácio, projetados originalmente no século 17 pelo arquiteto favorito de Luís XIV, Jules Hardouin-Mansart. O edifício sediou o Controle Geral das Finanças, equivalente a um ministério, e assim funcionou até o início da Revolução Francesa. De lá para cá, foi sede do Tribunal do Comércio, residência de diferentes proprietários, serviu como refeitório para oficiais e biblioteca militar, até ser entregue em 2008 ao Domínio Nacional de Versalhes, que reúne o palácio e os jardins do entorno. Um projeto de concessão fez com que, há quatro anos, ele passasse ao grupo LOV Hotel Collection e à Alain Ducasse Entreprise.

Desde então, a empresa do estrelado chef Ducasse opera o restaurante Ore (boca, em latim), dentro do château. Ducasse também será responsável pela gastronomia do Grand Contrôle e deve propor algo na linha dos jantares excepcionais que o Ore já oferece quando o castelo se esvazia de seus visitantes. É nesse momento que o restaurante, de ambiente ultradiscreto, ganha ares dramáticos, com equipe de gala, serviço à francesa e pratos apresentados simultaneamente aos comensais. Sopas, assados e sobremesas se sucedem coreograficamente, com garçons trajados como na época da corte do Rei Sol e louças reeditadas do século 18 pela tradicionalíssima grife francesa de porcelanas Bernardaud, sediada em Limoges. O jantar, inspirado em cardápios históricos, tem preço de 350 euros por pessoa, sem vinhos, e 500 euros com harmonização. Valores à altura das diárias estimadas do novo hotel, a partir de 1.439 euros, com café da manhã incluído.

Inicialmente previsto para abrir em 2020 – o que não aconteceu sobretudo em decorrência da pandemia global – o Grand Contrôle está prestes a ser inaugurado no primeiro semestre deste ano. A data oficial, no entanto, ainda não foi anunciada. Após exaustivo trabalho de restauração do edifício, que teve um comitê científico que garantiu a fidelidade ao patrimônio histórico do imóvel, o hotel ganhou móveis e obras de arte originais sob a batuta do arquiteto de interiores Christophe Tollemer, com requintes como tapetes de tapeçaria Aubusson e tecidos estampados da tradicional Maison Pierre Frey.

CÁPSULA DO TEMPO Com uma área de 1.700m2, o Grand Contrôle terá apenas 14 quartos e suítes, vários deles com vista para o Orangerie, o extenso laranjal composto por árvores provenientes de vários países europeus. A flor de laranjeira exalava o perfume favorito de Luís XIV e a tradição entre os cortesãos era presentear o rei com laranjeiras. Seguindo o tom que pontua os ambientes do complexo, o hotel estabeleceu parceria com a marca suíça Valmont para criar seu spa. O resultado: além de tratamentos estéticos e relaxantes de ponta, será possível traçar longas braçadas em uma piscina coberta, com a sensação de mergulhar em uma cápsula do tempo criada no século 18.

Tudo é, sem dúvida, tentador e chega a ser opulento, mas talvez nenhum dos luxos mencionados se compare ao privilégio de poder participar de passeios exclusivos pelo interior do palácio, na companhia de um guia. O complexo de Versalhes é composto também pelo Grand Trianon, os famosos Jardins e o palácio principal. No antigo pavilhão de caça fica hoje a residência oficial do presidente da república em Versalhes – foi local escolhido por Emmanuel Macron para se isolar após o teste positivo para Covid-19, no mês passado.

Após o café da manhã, os hóspedes poderão participar de passeios privados pelo Petit Trianon, considerado uma jóia do neoclássico francês, onde Maria Antonieta se refugiava da pompa que ditava a vida na corte. E durante a noite, os tours exclusivos pelo interior do palácio começam após o horário de visitação pública. Uma equipe estimada em 15 mordomos, treinados em aulas que incluíram a história detalhada do Palácio de Versalhes, ficará à disposição dos hóspedes. E os privilégios vão além do previsível. Será possível, por exemplo, agendar um almoço com a presidente do Palácio, Catherine Pégard.

Com esse tipo de vivência, o novo hotel entra em sintonia com a tendência do chamado hedonismo intelectual, que evita o estímulo digital acelerado e volta as atenções ao entretenimento analógico, sem pressa nem preocupações. Ou, como dizem os franceses, sans souci.