Por Roberto Samora

SÃO PAULO (Reuters) – A Verde Agritech anunciou nesta quinta-feira a aceleração de seus planos de investimentos em produção de fertilizantes potássicos em Minas Gerais, em um passo para o ousado projeto da companhia de prover autossuficiência para o Brasil.

A empresa, que começou a operar comercialmente em 2018, em São Gotardo, viu crescer a demanda por seu produto diante da guerra no Leste Europeu, importante região produtora de fertilizantes, e da alta nos preços do potássio em meio a temores de escassez.

Mas seus planos vão além de motivações conjunturais de mercado geradas pelo conflito que envolve a Rússia, principal exportador ao Brasil, que compra 96% do potássio no exterior.

A Verde, disse à Reuters seu fundador e CEO, Cristiano Veloso, tem o objetivo de ser determinante para uma autossuficiência do Brasil em fertilizantes potássicos.

“Isso (a autossuficiência do país) não é uma meta da empresa, é uma obrigação da empresa e de todos os colaboradores que estão lá…”, declarou Veloso, explicando que a Verde, pelas características de seu produto e do processo produtivo, oferta também um produto ambientalmente sustentável.

A companhia tem reservas provadas na mina de 777,28 milhões de toneladas de potássio, além de recursos de mais de 1,4 bilhão de toneladas, algo importante para o cumprimento das metas.

“Os recursos da mina são capazes de tornar o Brasil autossuficiente em potássio por mais de 60 anos”, comentou o executivo, que detém 20% de participação na companhia com ações negociadas em Toronto.

A produção ainda é relativamente pequena, com estimados 400 mil toneladas em 2021, perto de um mercado nacional de mais de 10 milhões de toneladas de potássio, sendo a maior parte importada. Mas a produção deve crescer fortemente nos próximos anos.

A empresa disse nesta quinta-feira que a segunda unidade de São Gotardo deve iniciar produção no terceiro trimestre, com capacidade de 1,2 milhão de toneladas ao ano.

E essa segunda unidade deverá ter sua capacidade ampliada para 2,4 milhões de toneladas até o quarto trimestre, elevando o total da empresa para 3 milhões de toneladas ao ano.

Com isso, a Verde Agritech afirmou que deverá ser a maior produtora de potássio do Brasil.

O guidance da empresa –divulgado antes do anúncio da expansão da segunda unidade e também da alta no mercado de fertilizantes–, indicava produção de 700 mil toneladas de fertilizantes potássicos em 2022, subindo para 1,4 milhão em 2023.

“Tem muito estímulo para produzir, e infelizmente temos o risco de ter uma crise global de alimentos”, disse o executivo, citando as consequências da guerra para o mercado de fertilizante, insumo essencial para a produtividade agrícola.

Veloso disse que o preço do potássio, que já estava historicamente elevado, subiu mais cerca de 8% desde o início de fevereiro até agora, para 820 dólares a tonelada (posto em porto do Brasil).

Apesar do mercado favorável, ele disse que não tinha como saber no momento o quanto a empresa poderia eventualmente produzir além do guidance em 2022 e 2023, explicando que isso vai depender do ritmo das obras previstas.

Veloso comentou a previsão da empresa de iniciar a construção de uma terceira fábrica em 2023, dependendo de licenças, mas afirmou que a capacidade produtiva desta ainda será objeto de estudos.

DIFERENCIAIS

O executivo citou diferenciais de custos logísticos para atender os agricultores do Cerrado brasileiro, além de fatores mais sustentáveis do seu produto, que não contém cloro, diferentemente do cloreto de potássio.

“Por ser uma fonte de potássio livre de cloro, nós conseguimos melhorar o microbioma do solo e a partir daí o valor nutritivo dos alimentos e a capacidade de captura de carbono do solo”, afirmou ele.

Por não conter cloro, o produto pode ser utilizado também pela agricultura orgânica, e é mais barato do que o cloreto de potássio tradicional, embora tenha uma concentração de potássio seis vezes menor.

“Nós somos a empresa de menor custo entregue no Cerrado brasileiro, nenhuma outra empresa é tão competitiva para entregar no Cerrado”, afirmou ele, destacando a posição geográfica da companhia e a proximidade com a região central do Brasil, importante produtora de grãos.

O executivo também citou o tipo de mineração da sua companhia, realizada sem a necessidade barragens.

“É uma mineração sustentável, em área de pastagem degradada, remove o solo, o minério já está logo abaixo… passamos o mineral para processo de ativação mecânica, não tem nada químico, e o transforma em fertilizante…”, comentou.

À medida que a lavra avança, essa área de mineração vai sendo recomposta com o plantio de árvores nativas, acrescentou.

O anúncio da expansão fabril da Verde ocorreu ainda após a empresa ter anunciado em fevereiro a obtenção de autorização para mineração de adicionais 2,5 milhão de toneladas por ano, elevando a capacidade total permitida para 2,8 milhões e toneladas/ano.

Segundo a nota, o conselho da empresa aprovou um investimento de 51 milhões de reais para financiar o plano de expansão, que se soma aos 22 milhões de reais previamente aprovados para a construção da unidade 2. Nos últimos 15 anos, a companhia já investiu 500 milhões de reais na operação em Minas Gerais.

A companhia disse que espera financiar o plano de expansão por meio de uma combinação de fluxo de caixa futuro e dívidas lastreadas em contratos de vendas futuras.

O Banco do Brasil, disse o executivo, tem sido um parceiro importante, assim como o governo brasileiro. Ele revelou ter conversado sobre o projeto com a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, logo no início da manhã desta quinta-feira.

(Por Roberto Samora)

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