A gestora de recursos americana Blackrock é grande. Essa frase é correta, mas insuficiente. Sejamos mais precisos. No fim de março, a Blackrock administrava o equivalente a R$ 46,4 trilhões em ativos financeiros. Para comparar, no fim de abril, todos os gestores de fundos brasileiros somados administravam R$ 6,4 trilhões. Apenas por seu tamanho, a Blackrock é capaz de criar tendências no mercado. Daí o terremoto causado pela edição deste ano da carta aberta aos acionistas que Laurence D. Fink, fundador e CEO da gestora, publica todo mês de janeiro.

Fink escreveu que o mercado financeiro vem sendo lento em avaliar os riscos das mudanças climáticas, mas que isso vai mudar, e depressa. E anunciou que a própria Blackrock pretende liderar o processo, colocando critérios ESG em suas estratégias de investimento. Foi o suficiente para disparar a atenção dos mercados para essas diretrizes. “Em 2020, os investidores em fundos alocaram mais de US$ 360 bilhões globalmente em ativos sustentáveis, mais do que o dobro do montante investido no ano anterior”, disse o CEO da Blackrock no Brasil, Carlos Takahashi, em uma entrevista exclusiva à DINHEIRO.

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“Em 2020, os investidores alocaram mais de US$ 360 bilhões em ativos sustentáveis, mais do que o dobro do ano anterior” Carlos Takahashi, Blackrock do Brasil.

Segundo Takahashi, esse movimento veio para ficar e só tende a se aprofundar. Não apenas por um senso de justiça, mas pela fria racionalidade econômica. “Em 2020, ficou claro que as empresas com objetivos mais ambiciosos em termos de sustentabilidade superaram o desempenho de seus pares”, disse ele. “As empresas que não conquistarem a confiança das partes interessadas — acionista, clientes, fornecedores, governo e comunidade — terão cada vez mais dificuldade em atrair clientes e talentos, especialmente porque os jovens esperam cada vez mais que as empresas reflitam seus valores.” E isso será cada vez mais reconhecido pelos investidores e pelas empresas de gestão de recursos, especialmente as maiores.

Para uma empresa aberta isso faz toda a diferença. Além do ESG, as três letras mais importantes da Blackrock são os ETFs, sigla para Exchange Traded Funds. São fundos cujas cotas são negociadas na Bolsa como se fossem ações. Cerca de 90% dos trilhões geridos pela Blackrock estão em ETFs. Eles são os investidores de sonho para qualquer empresa aberta. Em média, as ações permanecem 20 vezes mais tempo neles do que nas carteiras dos fundos ativos. “Somos investidores de longo prazo, podemos medir nossos investimentos nas empresas em décadas, o que nos permite estar profundamente comprometidos com as empresas nas questões de governança e de sustentabilidade.”

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