Acaba de sair do forno uma polêmica peça de campanha eleitoral, capaz de servir tanto para falar bem quanto para malhar o governo. Na quinta-feira 12, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) de 2001, levantamento que retrata com precisão microscópica, a cada ano, a alma da economia nacional, com amostras estatísticas de 98% do território brasileiro. Os números expõem um arsenal de boas e de más notícias. A pior delas ? e munição para os candidatos da oposição ? é que a renda média do trabalhador brasileiro caiu 10,3% em cinco anos. Era de R$ 663 em média em 1996 e decaiu para R$ 595 em 2001. Também aumentou a concentração de renda. Os 10% mais pobres perderam mais (1,6% ao ano) e os 10% mais ricos perderam menos (0,3%). A melhor notícia, inclusive para as hostes governistas, é uma ligeira queda na taxa de desemprego aberto, referente aos que procuram trabalho e não encontram. Segundo o PNAD, entre 1999 e 2001 o número de pessoas ocupadas cresceu 1,4% ao ano. Em números redondos, significa a criação de 3,7 milhões de postos de trabalho no período, incluindo os trabalhos informais, rurais e domésticos.

Foi o suficiente para que o presidente Fernando Henrique convocasse a imprensa a fim de fazer um balanço equilibrado da herança que deixa ao sucessor: ?Há um mito de dizer que o Real concentrou a renda, que o Real destruiu empregos. Não resolveu o desemprego, é verdade, mas também não diminuiu o número de empregos.? De acordo com o PNAD, havia em 2001 um contingente de 75,4 milhões de trabalhadores em todo o País. A taxa de desemprego foi de 9,35% em 2001, inferior aos 9,64% de 1999. Significa que o número de desempregados era de 7,8 milhões e dois anos depois baixou para 7,7 milhões. Comparando-se com os dados de 1993, antes da implantação do Real, houve um aumento de 3,4 milhões de desempregados.

?Os dados refletem a política de desemprego deste governo?, critica o economista Guido Mantega, um dos formuladores do programa de governo do PT, dando um pontapé inicial no uso político dos números da pesquisa. ?O PNAD prova que são exageradas as críticas da oposição ao desemprego no País?, rebate o economista Luiz Paulo Veloso Lucas, coordenador do programa de governo de José Serra. Disputas à parte, outro dado que chama a atenção é que 40% dos empregados não têm carteira assinada. São 18,2 milhões de trabalhadores informais para 23,7 milhões que usufruem das vantagens da CLT e contribuem para a Previdência Social. O PNAD também apresentou uma série de boas novas nas condições de vida do brasileiro. A taxa de analfabetismo caiu. Em 1996, 8,7% das crianças até 14 anos estavam fora da escola. Em 2001, apenas 3,5% delas. Dos 51 milhões de estudantes, 42 milhões freqüentam escolas públicas. A rede elétrica já atingiu 96% dos domicílios e a de abastecimento de água alcançou 81,1%. Os indicadores sociais cresceram de forma contínua na última década. No campo do consumo, a pesquisa revela que o número de domicílios com geladeira subiu para 85% e há máquina de lavar roupa em 33,7% das residências. Quanto aos telefones, 58,9% das famílias possuem uma linha. Os microcomputadores são encontrados hoje em 12,6% dos domicílios. Números que, sem dúvida, serão vistos em breve no horário eleitoral gratuito.