Com apenas 33 anos, Katie Bouman, professora da universidade americana de Caltech, já participou de duas imensas façanhas científicas.

Esta especialista em imagens de computador, que desenvolve algoritmos para observar fenômenos distantes, ajudou a criar o programa que levou à divulgação da primeira imagem de um buraco negro em uma galáxia distante, em 2019.

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Rapidamente, ela se tornou uma espécie de superestrela mundial da ciência e foi convidada para dar palestras sobre seu trabalho.

Agora, voltou a desempenhar um papel-chave na criação de uma imagem inovadora do buraco negro supermaciço situado no coração da nossa galáxia, a Via Láctea, um corpo cósmico conhecido como Sagitario A*.

Seu grupo de trabalho na Event Horizon Telescope Collaboration, que revelou sua imagem impressionante nesta quinta-feira, teve o trabalho de reconstruí-la a partir da massa de dados compilados por telescópios de todo o mundo.

Bouman falou com a AFP pouco após o grande anúncio.

Pergunta – Como se compara esta descoberta com a de 2019?

Resposta – A primeira foi muito emocionante porque foi a primeira e poder ver um buraco negro pela primeira vez foi espetacular. Mas acho que o santo graal do Event Horizon Telescope sempre foi a imagem de Sagitario A*.

A razão é que temos muito mais informação de outras observações sobre como esperávamos que Sgr A* se parecesse. E ao poder ver uma imagem disso, é muito mais fácil para nós ver como coincide com o que se esperava das observações prévias e da teoria.

Sendo assim, penso que embora seja a segunda imagem que mostramos, na realidade é muito mais emocionante por essa razão, podemos usá-la para realizar mais testes sobre nossa compreensão da gravidade”.

P – Por que foi mais difícil obter uma imagem do “nosso” buraco negro, que do M87*, situado muito mais longe?

R – Recompilamos os dados de M87* e Sgr A* na mesma semana de 2017, mas demoramos muito mais a fazer uma imagem de Sgr A* que de M87*.

Sgr A* tem várias outras coisas que tornam muito mais difícil para nós captar uma imagem. De fato, estamos observando o buraco negro através do plano da galáxia. E isso significa que o gás na galáxia na verdade dispersa a imagem. Faz com que pareça que estamos olhando o buraco negro através de uma janela esmerilhada, como em um chuveiro. Isso é um desafio.

Diria, no entanto, que o maior desafio que enfrentamos é o fato de que o buraco negro está evoluindo muito rápido. O gás em M87* e Sgr A* se move aproximadamente na mesma velocidade.

Mas enquanto leva dias ou semanas para fazer uma órbita completa ao redor de M87*, para Sgr A* está evoluindo minuto a minuto.

P – O que são e por que os buracos negros fascinam?

R – Rompem com o que sabemos na Terra. Nem mesmo a luz pode escapar deles e distorcem o espaço-tempo ao seu redor. São essa coisa misteriosa e acho que capturam nossa imaginação. O que é mais genial que trabalhar sobre os buracos negros? E poder tirar uma foto disso, de algo que não se deveria poder ver… Acho que é fascinante.

P – O que mais espera? Filmar um buraco negro?

R – Acho que isso é só o começo. Agora que temos esses laboratórios de gravidade extrema, podemos melhorar nossos instrumentos e algoritmos, para que possamos ver mais deles e fazer mais experimentos científicos.

Fizemos uma primeira tentativa de conseguir um filme e progredimos muito, mas ainda não estamos no ponto de poder dizer “é assim que Sgr A* se vê minuto a minuto”. Então, vamos tentar adicionar novos telescópios no mundo, compilar mais dados para poder mostrar algo que saibamos com segurança.