A Enerbrasil, subsidiária do grupo espanhol Iberdrola no País, está trazendo novos ares para o mercado nacional de geração de energia. Nos últimos dias, a empresa deu sinais de que pretende tirar do papel um projeto de energia eólica orçado em R$ 550 milhões. Trata-se de um novo parque
com 130 geradores instalados em uma área de 20 quilômetros quadrados no município de Caetité, no sudoeste da Bahia.
Isso pode garantir 200 megawatts de potência ? dez vezes
mais do que todo o País gera atualmente com a força dos ventos. Ao todo, a Enerbrasil já tem autorização para produzir 2.245 megawatts desta forma, a maioria deles no Nordeste ? especialmente no Rio Grande do Norte ?, onde a empresa também é sócia de várias companhias de distribuição de energia, como a Celpe e a Coelba. Grande entusiasta do setor elétrico nacional, a Iberdrola forrou o caixa da filial brasileira com US$ 1 bilhão para investimentos até 2006 em todas as frentes desse mercado. Mas, desde abril, ela está mais cautelosa sobre como aplicar esse montante. E não é só ela. A Siif, que tem capital da francesa EDF, outra companhia com grandes projetos para fontes renováveis de energia, também colocou o pé no freio. Elas esperam a regulamentação do Programa de Incentivo a Fontes Alternativas (Proinfa).

Esse programa assegura que o governo federal vai subsidiar uma parte dos megawatts gerados pelo vento. O problema é que se trata de uma parte pequena, no máximo 1.100 megawatts, e 50% ainda iria direto para os produtores independentes, aqueles que não têm nenhum vínculo com outras empresas geradoras, transmissoras ou distribuidoras de energia. A medida visa evitar a concentração do setor, mas acabou também por indignar os grandes empreendedores da área. Se a decisão for confirmada com a regulamentação, será um banho de água fria para Siif e Enerbrasil. Afinal, cada megawatt eólico requer investimentos de até US$ 80 mil em infra-estrutura. O custo de produção depois é, em média, de US$ 60 para cada um deles, contra US$ 20 no caso das hidrelétricas. Ambas esperavam alguma ajuda para assegurar o retorno dos investimentos.

Em compasso de espera. Enquanto a lei definitiva não vem, aumenta a ansiedade dos governantes das áreas escolhidas para projetos. ?Um parque eólico em Caetité é fundamental para o desenvolvimento local?, diz Armando Avena, superintendente de Planejamento Estratégico da Bahia. ?Essa área está no ponto mais distante atendido pela Chesf. Portanto, fica sujeito a instabilidades do sistema. Com o fornecimento resolvido, será mais fácil atrair investimentos.? Procurada pela DINHEIRO, a Iberdrola não quis comentar seus planos.

A previsão de analistas do setor de que alguns projetos podem ser suspensos, gera várias especulações. Uma provavelmente vai se concretizar: a de que haverá acordos entre os gigantes e os produtores independentes, para dar uma parte maior do subsídio aos primeiros. Assim, os independentes continuam animados. ?Apostamos que a regulamentação favorecerá o investimento?, afirma André Leal, diretor da SeaWest, empresa americana que tem planos ambiciosos para parques eólicos no País. ?Seguimos com a medição em dois campos e procuramos parceiros para o negócio.?

O Rio Grande do Norte, destino da maioria dos projetos, também aguarda com tranqüilidade. ?Podemos aproveitar primeiro as reservas de gás natural, sai mais barato que um parque eólico?, afirma Mário Rocha, diretor da Agência Reguladora de Serviços Públicos do Rio Grande do Norte. ?Além do mais, os cronogramas de vários projetos eólicos estão sendo cumpridos.? A desconfiança, no entanto, paira no ar, mesmo sobre os nomes mais sólidos, como o da Iberdrola.