A que podemos atribuir dois anos seguidos de queda no PIB?
É um conjunto de fatores. Tem a questão do preço das commodities, mas há outro elemento importante, que são os erros de política econômica nos últimos anos. Houve uma política fiscal super expansionista, uma política monetária exageradamente expansionista, quando o quadro de inflação não permitia, e um intervencionismo.

A tentativa de se criar uma nova matriz para o crescimento falhou?
Por alguns anos, essa tentativa parecia dar certo porque estávamos surfando a onda internacional super favorável. Esse vento a favor criou a falsa sensação de que estava tudo bem, quando não estava. Quando a água baixa é que se vê quem estava nadando pelado. Quando baixou a água do preço das commodities, vimos que estávamos nadando pelados.

A recessão afetou o potencial de crescimento da economia?
Há alguns anos, na época do boom das commodities, diziam que o PIB potencial estava em torno de 3%, 4%. Hoje, a maior parte dos economistas diz que deve estar mais perto de 2%, talvez até mais baixo. Os números variam, mas o patamar claramente mudou. É possível que a recessão tenha deixado algumas sequelas no PIB potencial, mas isso não é uma coisa que está escrita nas estrelas. Se fizer a lição de casa e criar um ambiente de negócios mais estável, a taxa potencial pode voltar a melhorar.

Quais lições a recessão nos deixa?
Não tem muita mágica: a chave do crescimento está em criar condições para que o setor privado invista e possa liderar o crescimento. Quando se tenta reinventar a roda com políticas econômicas voluntaristas e intervencionismo, mais cedo ou mais tarde, dá errado. É como num jogo de futebol: o governo não deve entrar em campo e fazer o gol, mas garantir que a grama esteja bem aparada e as linhas bem desenhadas.