A Venezuela culpou as sanções americanas pela falta de pagamento de suas obrigações das Nações Unidas (ONU), em carta destinada ao secretário-geral da organização, divulgada nesta segunda-feira (22).

A vultosa dívida de Caracas a impede desde janeiro votar na organização internacional.

Na semana passada, a Venezuela foi o único dos 193 membros da ONU que não pôde votar no novo chefe da Assembleia Geral ou nas eleições dos cinco novos membros não permanentes do Conselho de Segurança para o ano 2021-22.

Caracas deve à ONU dezenas de milhões de dólares para seu orçamento operacional e para suas operações de manutenção de paz.

As sanções americanas “nos impediram de transferir satisfatoriamente os recursos necessários às contas bancárias das Nações Unidas situadas não só nos Estados Unidos, mas também em outros países”, destaca a carta do embaixador da Venezuela na ONU, Samuel Moncada, datada de 15 de junho e dirigida ao secretário-geral, António Guterres.

“Cada vez que tentamos realizar a transferência correspondente, a transação é recusada ou devolveram os fundos a nossa contas bancárias, na melhor das hipóteses”, acrescentou o representante do mandatário venezuelano, Nicolás Maduro.

Em outras ocasiões, disse Moncada, os recursos tinham sido “congelados ou confiscados” devido a sanções impostas por Washington a Caracas ou às ameaças do governo de Donald Trump às instituições financeiras envolvidas.

A Venezuela, “como membro responsável da comunidade internacional, sempre teve tanto a vontade política quanto a capacidade financeira de cumprir, de forma oportuna, com suas obrigações com a Organização”, afirmou o embaixador venezuelano na carta.

Moncada pediu a Guterres para “buscar uma solução financeira” que permita à Venezuela transferir “de modo seguro” os fundos para as contas bancárias da ONU.

Para recuperar seus direitos de voto, a Venezuela terá que aportar quase 22 milhões de dólares de cotas não pagas.

“Dispomos dos recursos financeiros para satisfazer nossa obrigação com as Nações Unidas, temos o dinheiro para fazer frente ao pagamento mínimo necessário (21.552.932 dólares) e estamos mais do que dispostos a fazê-lo”, assegurou Moncada.

Os Estados Unidos lideram uma campanha internacional para promover a saída do poder de Maduro, cuja reeleição em 2018 não reconhecem por considerá-la fraudulenta e a quem acusam de corrupção e graves abusos dos direitos humanos.

No âmbito destas pressões, Washington impôs uma bateria de sanções a Maduro, por quem pede, ainda, uma recompensa milionária depois que a justiça americana o acusou de “narcoterrorismo” e outros delitos criminais.

As sanções, que impedem o acesso ao sistema financeiro americano, alcançam em particular a empresa petroleira venezuelana PDVSA, crucial para a ex-potência sul-americana.

Além da crise política, a Venezuela vive um colapso econômico aprofundado desde a chegada ao poder de Maduro, em 2013, que provocou a fuga do país de cinco milhões de pessoas, segundo a ONU.