Uma argola dourada no dedo anelar da mão esquerda do americano Ruben Buell parecia ofuscar qualquer outro luxo da suíte em que o empresário estava hospedado em São Paulo. “Minha esposa está aqui no quarto”, diz. Aos 43 anos, ele comanda, desde março de 2017, o site de relacionamentos extraconjugais Ashley Madison. Fundada em 2002, a empresa canadense é também a responsável por um dos maiores vazamentos de dados dos últimos anos. Nada disso, porém, parece afetar um negócio que está presente em mais de 50 países e conta com 54 milhões cadastrados. “Em um mundo onde a infidelidade sempre existiu, nós fornecemos um ambiente seguro para que isso aconteça”, afirma o CEO.

Em 2015, uma falha de segurança expôs informações pessoais de parte dos 37 milhões de usuários do Ashley Madison. Para piorar, o incidente ganhou repercussão mundial após notícias de casamentos destruídos e casos de suicídio em todo o mundo. Dois anos depois, a companhia concordou em pagar uma indenização de US$ 11,2 milhões (ou, no máximo, US$ 3,5 mil por solicitante, de acordo com o caso) para 6 milhões de usuários afetados. Uma pechincha perto do que seria necessário para recuperar a imagem.

Para remediar, novos diretores foram contratados e a segurança com a privacidade foi aprimorada. A estratégia surtiu efeito e estimulou um aumento de 46% na base de internautas cadastrados, principalmente no Brasil. Por aqui são 8,9 milhões de usuários, o País é o maior mercado internacional para a companhia. “Os brasileiros, principalmente as mulheres, querem mais empoderamento sobre suas vidas sexuais”, diz Buell. No País, a relação entre o número de mulheres para cada homem no serviço é de 1,9. A média global é de 1,3.

O pulo do gato (ou da cerca) da plataforma é a situação amorosa em que esses usuários se encontram. “São pessoas que perceberam que o conto de fadas que elas sonhavam não é bem assim”, afirma Buell. “Elas querem alguém que esteja na mesma situação.” Por este motivo, a plataforma tem um modus operandi diferente e preços salgados. Apesar de o cadastro ser gratuito, é preciso comprar créditos, em pacotes que custam entre US$ 35 e US$ 170, para enviar mensagens para outras pessoas.

Essa, aliás, é a única forma de receita da companhia, que não revela seu balanço financeiro. O modelo chama a atenção porque vai em direção contrária de um mercado que cada vez mais se apóia em publicidade como forma de monetização, como o Facebook, por exemplo. “É um modelo que não faz qualquer sentido para nós”, diz Buell. “Os dados ficam em casa.” Já quem usa o serviço…