O Natal passado logo será apagado da memória dos computadores. Para as festas que se aproximam, os principais sites de comércio eletrônico estão calculando negócios duas, três ou até dez vezes mais rentáveis que os concluídos em 99. ?Nós vendemos R$ 600 mil antes e vamos para R$ 7 milhões em 2000. É um aumento de 1.000%?, diz Renato Schmekel, diretor-geral do Pontofrio.com. A empolgação nos cálculos contaminou quase todos. O Submarino.com projeta um crescimento de 10 vezes e vendas diárias de R$ 400 mil. ?É quase o volume de um hipermercado?, compara Antonio Bonchristiano, presidente da empresa. A Livraria Cultura, com sede em São Paulo, já registrou um aumento de 200% em relação a 99. ?Dependendo dos próximos dias, podemos elevar isso para 250%?, diz o presidente Pedro Herz. O carioca Shoptime, por sua vez, quer triplicar as vendas on-line. ?Em pouco tempo, a rede poderá ser o principal portão de entrada, ultrapassando as vendas pela TV a cabo e pelo catálogo?, conta Bebel di Cielo, diretora do setor de Internet.

 

A magnitude dos números tem diversas razões. Em primeiro lugar, o consumidor que comprou na Internet durante o ano gostou da brincadeira. Em um estudo da e-Bit, que faz pesquisa pesquisa com os internautas em parceria com a consultoria Pricewaterhouse, 80% deles se declararam por satisfeitos e quase a metade afirmou que voltaria à rede para adquirir produtos no Natal. Com isso, os sites têm notado uma diminuição relativa dos compradores de primeira viagem, enquanto cada vez mais clientes fiéis têm enchido os carrinhos virtuais. A segunda explicação está num fato bastante simples: o comércio com internautas no ano passado era nanico, com cerca de US$ 78 milhões. ?A diferença é que, pela primeira vez, ele apareceu no radar?, diz André Sapoznik presidente da e-Bit. ?Mas não podemos nos iludir e acreditar que as vendas na Internet arrematarão as massas?, opina ele.

Segundo o instituto de pesquisas IDC, o comércio com internautas em 2000 (o chamado B2C) será de US$ 125 milhões, o que não chega nem perto de 1% do que movimentou o setor supermercadista no País. ?Ainda tem muito chão para o comércio on-line?, diz Frederico Monteiro, diretor de marketing da Americanas.com. ?Ele ainda vai ter uns quatro ou cinco anos de crescimento explosivo até atingir a maioridade.? O percurso tende a ser semelhante ao traçado pelos Estados Unidos, onde as coisas costumam acontecer um ou dois anos antes. ?Lá, o comércio na Internet já cresce numa proporção muito menor e está se aproximando do próprio limite?, diz Sérgio Romani, analista e um dos sócios da Ernest & Young, em São Paulo.

Debut on-line A Americanas.com, um dos nomes mais conhecidos do público, é um exemplo claro de que as trocas na Internet brasileira ainda estão engatinhando e vão demorar um pouco para se acomodar. No Natal que se foi, a Americanas.com operou unicamente em Curitiba, no Paraná, o que faz com que este seja o seu debut on-line da empresa. O mesmo vale para a Fera.com ? empresa americana que chegou em junho e tem um modelo muito parecido com o do Submarino ? e para a C&A, que inaugurou o seu portal de roupas em novembro. ?As compras até agora têm sido pequenas em valor, como se os clientes estivessem testando nosso serviço?, diz Hélio França e Silva, gerente-geral do braço virtual C&A, que ao ganhar o sobrenome ?.com? substituiu o ?&? pelo ?e?.

Quem está radiante com a explosão das estatísticas são as empresas de entregas. ?O comércio eletrônico representa hoje 1,5% das nossas vendas e deverá subir para 15% a 20%, conta Cesar Sampaio, chefe-executivo da EBX. A marca foi lançada oficialmente na semana passada e já desponta como a maior companhia de entregas privada do País. Com a efervescência do setor, até a gigante dos Correios resolveu participar da rinha. A estatal, que até outubro se limitava a assistir as demais abocanharem as lucrativas entregas on-line, entrou com um frete agressivo e um sistema de rastreamento de mercadorias. O serviço batizado de e-Sedex quer ampliar sua fatia de mercado dos atuais 5% para 70% na Grande São Paulo. Todas as empresas juram estar equipadas para suportar os picos desta época. ?O mais importante é garantir que o bem seja entregue no prazo prometido e no lugar certo?, diz Everton Machado, gerente do projeto do e-Sedex. E é precisamente nesse ponto onde está a torcida de todos os sites. O medo é de que as trapalhadas do ano passado, como a venda de produtos que não existiam em estoque, se repitam. Um segundo erro seria grave demais para um setor em plena evolução.