As vendas do varejo no país registraram queda de 3,1% no mês de agosto com relação ao mês anterior. Mais da metade das atividades pesquisadas caíram no período, segundo dados da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), do IBGE.

O economista Paulo Gala, mestre e doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo, comentou suas impressões sobre os dados divulgados:

“Um dado ruim, com uma queda de 3,1% com relação a julho, bem abaixo das expectativas do mercado, que previam uma queda de 1,5% a 2%.”

Durante o ano, o varejo acumulou alta de 5,1%. Mesmo assim, seis das oito atividades registraram taxas negativas no mês de agosto, principalmente, na categoria de uso pessoal e doméstico, que obteve queda de 16%. O comércio varejista ampliado, que inclui, além do varejo, também veículos e materiais de construção, teve uma diminuição de 2,5% no seu volume de vendas em comparação ao mês anterior.

“Essa queda foi observada tanto no varejo restrito (com 3,1%) quanto no varejo ampliado (2,5%). Então, temos mais um dado ruim. Tivemos uma produção industrial de agosto também ruim. Isso já começa a colocar o terceiro trimestre em uma perspectiva não tão boa. As pessoas já estão começando a ajustar a previsão para o terceiro trimestre para algo em torno de 0,5%”, comenta o economista.

Outros setores que registraram queda, segundo a pesquisa, foram: equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-4,7%), combustíveis e lubrificantes (-2,4%), móveis e eletrodomésticos (-1,3%), material de construção (-1,3%), livros, jornais, revistas e papelaria (-1,0%) e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,9%).

“Há uma perda de vigor na recuperação que, obviamente, já pode começar a ter uma ligação com o aumento da taxa de juros, mas certamente tem na alta da inflação uma das maiores causas. O destaque para agosto foi a queda de venda dos supermercados, os mercados começam a sofrer com a queda do salário real. Com o preço dos alimentos indo para o espaço e os salários não aumentando, então o salário real cai e as pessoas ficam sem poder aquisitivo para comprar”, explica Paulo Gala.

Poucos setores tiveram uma variação positiva em agosto com relação ao mês anterior, alguns deles foram: tecidos, vestuário e calçados (1,1%), motos, partes e peças (0,7%) e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (0,2%).

Depois de cinco taxas positivas consecutivas em um ano, comparado a agosto de 2020, o comércio varejista entra em contração e preocupa economistas.
“Esses últimos dados sinalizam que o segundo semestre deve ser um pouco pior do que se imaginava. Muitos especialistas já vêm colocando o crescimento do PIB abaixo de 5%. Lembrando que o PIB no ano passado cresceu 4,1%. Então, precisaríamos crescer 5% para, pelo menos, ficar no zero a zero”, finaliza Paulo Gala.