Com apenas 55,7 mil veículos novos vendidos em abril, o mercado brasileiro registrou o pior resultado mensal para o setor desde fevereiro de 1999. No mês passado, o primeiro completo de medidas restritivas por causa da pandemia do coronavírus, os negócios caíram 76% em relação a abril do ano passado e 66% ante março, quando começaram as limitações para indústria e comércio.

Nos primeiros quatro meses do ano, as vendas de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus caíram 27% na comparação com o mesmo período de 2019, com 613,8 mil unidades. “Voltamos aos números de 28 anos atrás; isso é de machucar”, diz o presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), Alarico Assumpção Júnior.

Segundo ele, o baixo desempenho das vendas é resultado do fechamento das concessionárias, principalmente em São Paulo, que há um ano respondia por 26% do mercado de veículos no País. Em abril, essa participação foi de 0,9%. “Se essa situação se manter, cerca de 30% das revendas vão falir”, prevê. O setor contabiliza 7,3 mil lojas, incluindo as de motos e máquinas agrícolas.

Assumpção afirma que os concessionários têm condições de seguir todas as regras previstas para evitar a contaminação pelo coronavírus. Questionado se os consumidores não teriam receio de comprar automóveis nesse momento de incertezas, ele responde que, “com portas abertas será trabalho nosso buscar clientes”.

O executivo ressalta que, apesar dos esforços de todas as empresas para promover as vendas online, “o consumidor brasileiro ainda prefere ir à revenda, olhar e tocar no carro”.

Só o segmento de automóveis e comerciais leves teve queda de 77% nas vendas do mês passado ante o mesmo mês de 2019. No acumulado do ano a retração é de 27%.

Retrocesso

Ricardo Bacellar, responsável no Brasil pela área automotiva da consultoria KPMG, ressalta que, nos últimos dois meses, as vendas de veículos no País caíram 50%, mais do que em dois anos – entre 2014 e 2016, no auge da crise que levou ao impeachment da então presidente Dilma Rousseff, a queda foi de 30%.

A partir de 2017 o setor vinha se recuperando e esperava voltar à casa de 3 milhões de unidades vendidas, marca que alcançou pela última vez há cinco anos. Agora, executivos das montadoras preveem um mercado entre 25% e 40% inferior ao do ano passado, que teve vendas de 2,78 milhões de veículos. “Em dois meses o mercado passou a marca registrada no acumulado de dois anos”, afirma Bacellar.

Linha especial

O presidente da Fenabrave informa ainda que aguarda medidas urgentes de socorro ao setor automotivo, que opera sem liquidez. Juntamente com dirigentes das Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes (Sindipeças), ele tem se reunido com representantes do Ministério da Economia, do BNDES e do setor financeiro público e privado para discutir uma linha de crédito especial.

“Precisamos de capital de giro para atravessar essa pandemia”, afirma Assumpção. Ele diz que o governo tem se sensibilizado com a situação e espera medidas em breve. O setor também reivindica postergação de pagamento de impostos federais e parcelamento dos débitos quando as empresas retomarem atividades.

Bacellar, da KPMG, também acredita que haverá convergência entre empresas e governo em relação a um programa de socorro. Ele lembra que a indústria automotiva como um todo respondeu por um terço da arrecadação dos impostos do governo federal em 2019 e emprega mais de 1 milhão de pessoas. “Ninguém tem interesse que o setor vá à bancarrota.”

Assumpção afirma que, por enquanto, as revendas estão mantendo os funcionários e a maioria delas adotou medidas previstas na MP 936, como redução de jornada e salários.

Se somar as vendas de motocicletas e máquinas agrícolas, a Fenabrave contabiliza 930,9 mil unidades vendidas de janeiro a abril, ante 1,244 milhão nos mesmos quatro meses de 2019. “Isso demonstra o resultado da chamada parada súbita de nossa economia e da inoperância da maior parte das concessionárias em decorrência da quarentena, decretada pelos Estados”, afirmou o executivo.

Retomada da produção

Algumas montadoras começam a retomar as atividades de forma parcial, assim como fabricantes de autopeças. Na semana passada voltaram a operar as fabricantes de caminhões e ônibus Scania e Volkswagen/MAN.

Na segunda-feira, 4, foi a vez das montadoras de automóveis Renault e BMW e das marcas de caminhões DAF e Volvo (que também faz ônibus) reabrirem as fábricas.

Ao longo deste mês estão previstos os retornos de Audi, FCA Fiat Chrysler, Hyundai, Mercedes-Benz, Nissan e Volkswagen. Ford, General Motors, Honda, Jaguar Land Rover, PSA Peugeot Citroën e Toyota marcaram a volta dos trabalhadores às linhas de montagem ao longo de junho.

Na próxima sexta-feira a Anfavea vai divulgar dados de produção – provavelmente os piores da história do setor, pois 63 das 65 fábricas do País estavam com as portas fechadas desde meados de março -, empregos e exportações.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.