Antes da pandemia causada pela Covid-19, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já apontava o Brasil como o país mais ansiedade do mundo: eram 18,6 milhões de ansiosos, 9,3% da população. Com o início da pandemia, o levantamento Percepções do Impacto da Covid-19, feito pela Ipsos em março deste ano, constatou que o Brasil lidera o ranking internacional de solidão.

Os contextos de pandemia de Covid-19, isolamento social, insegurança, desemprego e desigualdade social são catalisadores perigosos ao desequilíbrio mental, como aponta o infectologista Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

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“Como tudo, a pandemia acentua as desigualdades do País. Quem não pode fazer distanciamento social e mais precisa de transporte público é quem mais sofre com a questão da saúde mental, que está entre o vírus e a fome. O impacto na saúde financeira, física e mental dessa população (mais vulnerável) é diferente, mas a saúde mental também afeta os mais ricos. O acesso ao tratamento é muito desigual”, critica Kfouri.

O Ministério da Saúde também está preocupado com a questão chegou a anunciar um projeto de treinamento em saúde mental para profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Samu de todo o Brasil. A preocupação é justamente democratizar o atendimento em saúde mental.

“A pandemia ampliou a quesão de saúde mental: ansiedade, isolamento, medo, luto. Toda mudança gera mais inquietação. O Brasil é o quinto país com maior número de depressão”, aponta a psicóloga Eliane Ramos, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH).

Dicas para cuidar da saúde mental na pandemia:
Segundo Ramos e Kfouri, há três iniciativas essenciais:

– Atividades físicas regulares
– Alimentação adequada
– Qualidade do sono

Ainda há outras recomendações:

– Praticar atividades lúdicas
– Fazer cursos online
– Não se cobrar demais – autocobrança excessiva é um problema
– Procurar falar sobre suas emoções e vulnerabilidades

Em muitas ocasiões, falar sobre sentimentos e fraquezas pode ser considerado um tabu. Procurar um especialista é sempre recomendado, mas também é possível buscar conversar com pessoas próximas, como amigos e familiares.

“Importante lembrar que quem sofre não está sozinho, que muita gente passa por esse sofrimento. A dor é inevitável, mas ficar no sofrimento é opcional. Se ficar muito forte, busque ajuda, não tem que ter vergonha ou preconceito de buscar ajuda. Temos que perceber que não temos o controle de tudo”, alerta Ramos.

Depressão e sintomas

Autoconhecimento é sempre um conceito importante na busca pelo equilíbrio mental. Saber identificar os gatilhos que geram ansiedade, tristeza, angústia e estresse podem servir como parâmetro à prevenção.

“Uma coisa é estar triste, mas quando a tristeza persiste a gente fica com baixa disposição para trabalhar, não tem interesse para fazer as coisas, sente um cansaço extremo, não se alimenta bem. Isso pode ser diagnótico de quadro depressivo”, explica Ramos. “O que fazemos reflete na saúde física e mental. Se quisermos ter longevidade, temos que ter cuidado com nós mesmos, com o outro e com a comunidade”.

Podem ser sintomas de depressão:

– Desesperança
– Irritabilidade
– Sentimento de culpa, inutilidade ou desamparo
– Perda de interesse geral
– Fadiga
– Inquietação e dificuldade de concentração
– Insônia
– Falta de apetite e alterações de peso
– Pensamentos de morte

Onde buscar ajuda?

– O SUS oferece tratamento gratuito para depressões leve, moderada e grave
– Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), parte da Rede de Atenção Psicossocial (Raps), atendem com foco em casos de depressão moderada ou grave.
– O Centro de Valorização da Vida (CVV), em parceria com o Ministério da Saúde, atende gratuitamente pelo número 188
– Procure um profissional de saúde mental

Saúde mental no trabalho

Embora empresas estejam começando a se preocupar com a saúde mental dos funcionários, esta é ainda uma questão nova no ambiente corporativo, que precisa avançar. Ambientes de trabalho tóxicos naturalmente prejudicam o equilíbrio psicológico dos trabalhadores, o que naturalmente acarreta em uma diminuição da produção.

“O trabalho tem impacto na saúde mental porque define quem a gente é. É importante as empresas estarem atentas para proporcionar ambientes mais seguros em que as pessoas possam falar de vulnerabilidade. É importante que isso seja feito sem preconceito. Vivendo em exigência constante, a gente quer mostrar perfeição em uma sociedade altamente competitiva, como se pode ter espaço com nós mesmos? É importante a empresa formentar espaços como esses”, argumenta Ramos.

Demência

A OMS divulgou que a demência afeta mais de 55 milhões de pessoas em todo o mundo, número que deve aumentar para 78 milhões em 2030 e 139 milhões em 2050 em razão do envelhecimento da população. A doença, caracterizada pela degradação da capacidade cerebral, que pode afetar memória, pensamento, língua, comportamento e o julgamento.

A demência ocorre bastante em consequência de alzheimer, mas também por quadros depressivos, sendo evitável mesmo com o envelhecimento. Outros fatores de risco incluem isolamento social e inatividade cognitiva.

De acordo com o relatório da OMS, os custos globais da demência foram estimados em U$ 1,3 trilhão em 2019. Espera-se que esse número aumente para U$ 2,8 trilhões em 2030.