Um relatório do Boston Consulting Group (BCG) que acaba de ser publicado afirma que o mercado de veículos elétricos e híbridos atingirá seu ponto de inflexão em 2030. A previsão é de que a participação dos carros eletrificados subirá lentamente até 2025, mas a partir daí vai se acelerar rumo a caminho sem volta. Em 2030, o mercado de carros com motor a combustão interna será reduzido a 50%.

Os movimentos nesse sentido, por parte da indústria automobilística, sustentam a previsão do BCG. Menos no Brasil, é claro. Na República do Automóvel ainda se discute se um carro híbrido de 1,1 litro para cima deve pagar menos imposto do que um carro 1.0, mesmo que o primeiro seja mais eficiente e menos poluente e o segundo um beberrão. Culpa de quem? Talvez da natureza do brasileiro. Afinal, apesar de estar pleiteando junto ao governo uma série de medidas no programa Rota 2030, as próprias montadoras associadas da Anfavea têm visões diferentes sobre o tema.

Apesar disso, carros como Toyota Prius (o híbrido mais vendido do mundo), Nissan Leaf (o elétrico mais vendido) e os Volkswagen e-Golf (elétrico) e Golf GTE (híbrido) se tornarão cada vez mais comum para o consumidor brasileiro a partir de 2018. Desses, por enquanto, só o Prius está à venda no País – e em breve ganhará motorização flex híbrida.

Mas, a bem da verdade, o Brasil deve criar um mercado de veículos eletrificados já. Segundo os estudos do BCG, três fatores (tecnologia, mandatos regulatórios e custo de propriedade) moldarão essa transição, que deve ocorrer em três fases nos próximos 12 anos. Enquanto a produção de motores de combustão interna for mais barata do que a de sistemas híbridos ou 100% elétricos, os carros convencionais continuarão dominando – mas isso pode mudar já a partir de 2020. Segundo o BCG, mesmo com incentivos fiscais, os preços dos veículos elétricos continuarão elevador. Isso, claro, não entusiasmará a grande massa de consumidores.

À medida que a indústria passar para a próxima fase, aproximadamente de 2020 a 2025, os veículos elétricos e híbridos aumentarão sua participação no mercado.  O banco prevê que novas metas de eficiência serão adotadas. “Após 2025, a queda dos preços de baterias e a crescente demanda dos consumidores com base no TCO (custo total de propriedade) impulsionarão o aumento rápido das vendas de todos os veículos elétricos, em especial aqueles movidos a bateria”, afirma o BCG. O compartilhamento também ajudará a acelerar o mercado dos eletrificados “porque sua maior quilometragem resultará em um retorno mais rápido do investimento”.

Não é nada não é nada, estamos falando de uma queda brutal da participação dos carros convencionais, dos atuais 96% para 50% do mercado global em apenas 12 anos. “O momento da transição do mercado para um novo tipo tem sido objeto de debate”, disse Xavier Mosquet, sócio sênior do BCG e responsável pela pesquisa. Ele afirma que “as perspectivas para veículos elétricos estão agora ficando mais nítidas” e que a transição para esse novo mercado “está prestes a começar”.

O  relatório do BCG acredita que até 2020 as tecnologias implantadas nos motores convencionais ainda serão capazes de atender aos novos requisitos de emissões, mas a partir daí tudo começa a mudar de forma ainda mais rápida do que vemos hoje. A maior mudança será na Europa, onde os motores a diesel, que mantinham 48% do mercado em 2016, começarão a diminuir relativamente rápido, chegando a 36% em 2020. O BCG aponta que a maior consciência ecológica do consumidor também contribui para essa aceleração e não apenas a questão financeira.

Outro dado importante é que os custos de bateria estão diminuindo de forma mais intensa e mais ágil do que o projetado alguns anos atrás. As estimativas do BCG apontam que o custo por kilowatt-hora das baterias deve cair entre US$ 80 e US$ 105 em 2025 e entre US$ 70 e US$ 90 até 2030.

 

O carro não é o vilão

Apesar de ser apontado como o vilão dos altos níveis de gases de estufa na atmosfera, o carros não têm essa culpa toda. O BCG afirma que enquanto os combustíveis fósseis continuarem sendo o principal produtor de eletricidade em grandes economias, como EUA e China, o impacto dos veículos elétricos nas mudanças climáticas será insignificante, tendo em conta a energia necessária para a produção e reciclagem de baterias. Somente quando as fontes alternativas de energia (nuclear, eólica e solar, por exemplo) se tornarem realmente relevantes na geração de eletricidade, aí sim os veículos elétricos contribuirão materialmente para reduzir os níveis dos gases que provocam o aquecimento global.

Na China, o maior mercado de veículos eletrificados até agora, a alta quilometragem, os baixos custos de eletricidade e os preços elevados do gás a compra de um carro desse tipo mais atraente financeiramente. Os incentivos governamentais para EVs reduziram o custo total de propriedade e o retorno do investimento é de cinco anos.

Já na Europa, o alto custo da eletricidade, além da menor utilização em termos de quilometragem, continuará a fazer dos veículos convencionais a escolha mais atraente até 2025. Esse ponto, por sinal, reforça a tese da Anfavea de que, se houver uma transição previsível até 2030, a indústria automobilística brasileira finalmente poderá entrar no mercado europeu, perdendo para sempre seu complexo de vira-latas. Segundo os estudos do BCG, o desenvolvimento do mercado na Europa será dividido de forma bastante uniforme entre os tipos de veículos eletrificados, com os elétricos assumindo uma participação de 17% até 2030 e os híbridos, de 33%.

O relatório também afirma que o baixo custo do gás nos EUA produzirá resultados semelhantes aos da Europa. A maior parte do crescimento ocorrerá em segmentos de veículos menores: até 2030, os veículos no segmento C serão quase inteiramente alimentados eletricamente, enquanto os convencionais continuarão sendo prioritários para picapes. Quanto ao Japão, os híbridos dominarão o mercado com uma participação de 55% até 2030.

Para Mosquet, “as montadoras e seus fornecedores devem manter seus olhos em duas grandes trajetórias”, que são: “O aumento da participação de veículos elétricos de cerca de 3% hoje para 50% em torno de 2030 e o aumento da participação de veículos a bateria de quase nada para cerca de 14%”. Prevendo, claro, algumas alterações no ritmo dessa revolução, em função das diferentes regulamentações que estão por vir, o sócio sênior do BCG deixa o seguinte conselho: “As empresas precisarão desenvolver um conjunto de opções estratégicas e de produtos para gerenciar uma transição que seja inevitável em seu destino e incerta quanto à sua rota”.