Já existe uma visível retração nas vendas de carne in natura e de embutidos de carne nos supermercados do Estado de São Paulo desde sexta-feira. A constatação é do presidente do Sindicato do Comércio Varejista no Estado de São Paulo (Sincovaga), Álvaro Furtado, a partir de informações obtidas com associados. A entidade reúne cerca de 35 mil pontos de venda no Estado, de todos os portes.

“Ainda não dá para mensurar o tamanho da queda, mas o consumidor está com medo”, diz Furtado. Ele calcula que o impacto deverá ser grande no faturamento dos supermercados em março. É que a carne in natura e os embutidos de carne respondem por 25% a 30% da receita diária de uma loja.

Com medo do encalhe os supermercados, segundo ele, estão em “compasso de espera” para fechar novas compras com os frigoríficos. Como esses produtos são perecíveis, as lojas protelam a encomendas de novos lotes para evitar perdas. Normalmente as compras de carne in natura são feitas a cada dois ou três dias. Nos embutidos, o intervalo varia entre uma semana e dez dias.

Paulo Pompilio, vice-presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas) e diretor de Segurança Alimentar da entidade, diz que não tem indicações de queda nas vendas no varejo. Grandes redes como Carrefour, Walmart e GPA não informaram o impacto da divulgação da operação da Polícia Federal nas vendas, mas pediram esclarecimentos aos frigoríficos envolvidos nas denúncias.

Controles

O varejo, elo de cadeia mas próximo do consumidor, tenta mostrar que existem controles de qualidade do produtos vendidos. Pompilio explica que a Apas orienta os associados a fazerem um duplo controle das cargas recebidas, além das inspeções de órgãos de vigilância sanitária.

O GPA, dono das bandeiras Extra e Pão de Açúcar, por exemplo, é um dos que investem em controles próprios de qualidade dos itens perecíveis. A empresa explica que a inspeção ocorre nas dez centrais de distribuição espalhadas pelo País.

Semanalmente as centrais recebem 1,7 mil toneladas de carnes in natura que, por amostragem, passam por três etapas de inspeção. A carga é avaliada por 20 técnicos, como veterinários, nutricionistas, biólogos e zootecnistas.

Nesse processo, a empresa informa que são observados dez quesitos e condições higiênicas e sanitárias dos produtos, como temperatura, cor, odor, aparência, perda de vácuo, rotulagem, por exemplo.

De acordo com a companhia, os mesmos critérios são utilizados na avaliação dos produtos enquanto eles aguardam nas centrais para serem enviados às lojas. Se for identificado qualquer ponto crítico, o item é imediatamente bloqueado, devolvido ao fornecedor ou descartado, informa o GPA.

O Walmart Brasil diz que mantém um departamento dedicado à segurança dos alimentos, responsável por realizar a inspeção em 100% das cargas de perecíveis entregues aos centros de distribuição. A empresa também garante a qualidade do armazenamento, transporte e entrega dos alimentos às lojas.

Além desses procedimentos, a varejista informa que mantém um rigoroso programa de qualificação e certificação de todos os seus fornecedores de perecíveis. Isso, segundo a companhia, inclui certificação em segurança dos alimentos e auditorias, feitas periodicamente por empresas especializadas.

O Carrefour diz que tem rígidos controles de segurança alimentar. A rede esclarece ainda que adota procedimentos adicionais aos exigidos por lei. Isso inclui a inspeção em 100% dos perecíveis que recebe em seus centros de distribuição, avaliando temperatura, rotulagem e aspecto sensorial e físico dos produtos. Também são feitas periodicamente análises laboratoriais de uma amostra dos produtos, acrescenta a varejista.

Recall

A operação Carne Fraca da Polícia Federal incluiu mais um item nos procedimentos de recalls, tão comuns na indústria automobilística. O Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), encaminhou na segunda para o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, e ao presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Jarbas Barbosa, pedido de retirada imediata dos produtos impróprios ao consumo investigados pela operação da Polícia Federal, conforme previsto no artigo 10 do Código de Defesa do Consumidor.

A entidade exige que o governo forneça a descrição dos produtos fraudados, como marca, número do lote, local da apreensão do produto e outros dados que facilitem a identificação. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.