O Metaverso não sai do radar do mercado, mas ainda tem muita estrada pela frente até se tornar uma realidade. No principal evento de inovação para o varejo, o National Retail Federation, que aconteceu neste mês em Nova York, apareceu como a contraposição entre futuro e presente. Os caminhos para alcançar esse universo virtual tomaram os palcos, mas, nos salões de exposição, o que se viu foram tecnologias embarcadas, pensadas para facilitar o dia a dia de uma operação abalada pela crise. O próprio evento, depois de suspenso em 2021, voltou neste ano ao mundo físico. Seus 25 mil visitantes encontraram soluções focadas em eficiência e produtividade ­— e nenhum pretenso valor revolucionário. “As lojas continuarão tendo um papel estratégico como hub logístico de soluções e experiências”, disse à DINHEIRO Alberto Serrentino, fundador da Varese Retail, que tratou das mudanças no ecossistema de negócios em painel na NRF.

Ainda assim, diante dos auditórios lotados do Centro de Convenções Javits, foi difícil escapar da discussão sobre o Metaverso, tido como a nova era do consumo digital. Camada híbrida entre o físico e o digital, esse universo segue em construção conforme os mercados de entretenimento, redes sociais e conteúdo convergem.

VOLTA AO MUNDO FÍSICO Depois de suspender o evento presencial em 2021, a NRF retornou neste ano em formato híbrido. (Crédito:Ian Wagreich )

Essa suprarrealidade, na qual poderemos interagir por meio de avatares, já foi ostensivamente explorada como ficção na literatura e no cinema, mas foi nos games que ela ganhou vida. Em 2019, a Louis Vuitton trabalhou com o jogo League of Legends para criação do baú da taça do campeonato mundial de eSport, o que envolveu também o lançamento de skins desenhadas por Nicolas Ghesquière, estilista da maison. No ano passado, a Havaianas se uniu ao Fortnite para anunciar dentro do game sua nova coleção de chinelos. Mas até que cheguemos ao estágio de Metaverso, “ainda precisamos entender como as pessoas desejam se relacionar nesses ambientes”, afirmou Serrentino.

A diligência com que o assunto é tratado no mercado tem bilhões de motivos: o Metaverso deve criar um ecossistema de negócios com faturamento de US$ 800 bilhões até 2024, segundo a Bloomberg. E conforme as gerações Z e alpha (nascidos a partir de 1995) crescem como massa consumidora, as cifras sobem. Os millennials, que hoje dominam 40% do mercado, já pressionam as empresas por novas experiências de compra.

Criar vínculos com esses consumidores é crucial para as varejistas, uma vez que 68% desses jovens, segundo estudo da Capgemini, preferem se relacionar diretamente com as marcas. A Nike, por exemplo, diminuiu a distribuição para priorizar plataformas próprias. “Mas isso não ameaça o varejo, e sim complementa essa jornada ao torná-lo mais sensível e aberto à inovação”, disse o especialista do setor.

LIVE COMMERCE No ano passado, 263 mil pessoas acompanharam o Show da Black Friday da Americanas com influenciadores digitais pelo YouTube. (Crédito:Divulgação)

BRASIL Por ora, as redes sociais ajudam a alavancar a presença do varejo no universo on-line com modelos de interação inovadores, como o live commerce. Essas transmissões apresentadas por influenciadores digitais são um fenômeno do mercado chinês exportado ao resto do mundo e que deve triplicar o faturamento em vendas pelas plataformas até 2027, alcançando US$ 600 bilhões globalmente, segundo a Research and Markets.

Por aqui, o formato ganhou força com a explosão do e-commerce durante a pandemia. A Americanas promove o Show da Black Friday pelo YouTube, com uma transmissão apresentada por celebridades da internet brasileira e que, em 2021, alcançou 263 mil pessoas simultaneamente. Já a Amazon Brasil se uniu pela primeira vez à plataforma do Google para transmitir no ano passado a live commerce no modelo de reality show, que permitia ainda aos consumidores influenciar as atividades do programa pelas redes sociais. Todos os caminhos são ainda promessas sobre o potencial do Metaverso para dias mais otimistas no varejo.